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Motorista: veja as vantagens e desvantagens entre Táxi e Uber

Você que é motorista profissional ou está pensando em complementar a renda exercendo essa função, já sabe se vale mais a pena dirigir táxi ou ser parceiro do aplicativo Uber? A Tribuna conversou com representantes de cada categoria sobre investimento inicial, custos operacionais e ganho líquido.

A conclusão é que os taxistas auxiliares, que pagam uma diária ao dono do carro, saem em desvantagem, principalmente se também arcam com o rateio de radiotáxis e taxas cobradas por aplicativos, como 99 Táxis e Easy Táxi. Estes tiram em torno de R$ 280 a R$ 400 líquidos por semana.

Os taxistas autorizatários, donos da placa, disseram levar de R$ 800 a R$ 1 mil semanais. Dos 5.745 taxistas de Curitiba, 3.002 são proprietários dos carros e 2.743, auxiliares. Já o lucro dos parceiros do Uber varia de R$ 600 a R$ 750 por semana, de acordo com motoristas consultados.

Despesas pra rodar

Para os taxistas, a burocracia, a formação exigida e o investimento para entrar em operação são maiores. É preciso fazer, por exemplo, um curso de taxista de 40 horas, chamado de táxi tour, oferecido pelo Serviço Nacional do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest Senat). Também há custos periódicos com documentação para se manter apto a exercer a atividade.

Os taxistas autorizatários, donos da placa, têm despesas relacionadas a vistorias do veículo e do taxímetro, além da outorga anual, que em 2016 foi de R$ 1.350. No entanto, o motorista é ressarcido pelo usuário, pois todas essas taxas estão embutidas na tarifa (o valor da bandeirada), segundo a Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), que gerencia o sistema.

Já os taxistas auxiliares pagam uma diária ao autorizatário para poderem trabalhar que varia de R$ 80 a R$ 120, de acordo com o presidente do Sindicato dos Taxistas do Estado do Paraná (Sinditaxi), Abimael Mardegan. Ele esclarece que esse valor é negociado entre as duas partes, sem interferência do Sinditaxi ou da Urbs. Um taxista auxiliar consultado pela reportagem, que preferiu não se identificar, paga R$ 150 ao dono da placa para trabalhar 24 horas.

Caso o taxista opte por receber corridas de radiotáxis e aplicativos, deve considerar em seus cálculos as taxas cobradas por esses intermediadores. Um motorista contou que as radiotáxis, que funcionam como cooperativas, cobram de R$ 45 a R$ 60 por dia para repassar as corridas, e os aplicativos costumam ficar com 12% do valor pago pelo passageiro.

Quem deseja ser motorista parceiro do Uber, por sua vez, não precisa fazer cursos, apenas ter um seguro do carro que cubra o passageiro e Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com a observação “Exerce Atividade Remunerada” (EAR), além de certidão negativa de antecedentes criminais. Os custos de operação envolvem basicamente combustível, limpeza do carro e pacote de dados para o celular.

Laranjinhas

Tanto na boleia do táxi quanto na do Uber o motorista é autônomo e o lucro é bem variável.

Tanto na boleia do táxi quanto na do Uber, o motorista é autônomo, e o lucro é bem variável. Quanto mais se roda, mais se ganha. “Depende de cada profissional. Tem que estar na barranca do rio pescando. Se ele ficar com o carro na garagem, não pega passageiro. Mas dá para tirar cerca de R$ 800 brutos por semana, com 12 horas diárias de trabalho”, calcula o presidente do Sinditaxi.

Há três meses, ele havia informado uma estimativa de ganho semanal de R$ 1 mil, mas a crise econômica e a entrada do Uber puxaram esse valor para baixo, de acordo com ele.

A média se aplicaria a todas as categorias de taxistas, autorizatários e auxiliares, com exceção dos funcionários de empresas de táxi, que são celetis,tas e recebem um salário fixo. Três taxistas autorizatários ouvidos pela Tribuna disseram tirar de R$ 800 a R$ 1 mil líquidos por semana, trabalhando 12 horas ao dia. Já o taxista auxiliar calcula levar de R$ 280 a R$ 350.

No volante com o Uber

Há duas semanas rodando, Douglas – que preferiu não revelar o nome completo por motivos de segurança -, 28 anos, conta que trabalhar com o Uber está lhe rendendo aproximadamente R$ 750 líquidos semanais, com cerca de oito horas de trabalho durante os dias úteis e até 14 horas nos fins de semana.

Douglas trabalha em uma transportadora das 6h às 16h. Quando sai da firma, já liga o aplicativo e deixa seu carro disponível. Só para depois da meia-noite. Nos fins de semana, pega o volante às 14h e fica até a madrugada do dia seguinte, para aproveitar “a volta da balada”.

“Pra mim está valendo a pena. O seguro do carro eu já tinha, tive apenas que colocar a cobertura adicional do passageiro, que saiu R$ 50 a mais por ano”, conta.

Para começar a rodar, ele investiu cerca de R$ 1 mil. Por ter CNH categoria D, teve de realizar um exame toxicológico para conseguir a observação EAR, o que custou R$ 350. Também foi necessário contratar um pacote de dados para seu telefone celular, pois o aplicativo requer boa conexão com a internet.

A empresa Uber realiza depósitos semanais para os motoristas parceiros e fica com 25% do montante faturado com as corridas. “Tirando essa porcentagem, combustível, limpeza do carro e gastos com água e balinha, que coloco para os passageiros, está sobrando uns R$ 750 para mim”, comemora.

Ele faz questão de manter o carro limpo e de tratar bem os usuários porque a média de avaliação exigida pelo Uber para manter o cadastro do motorista é de 4,7 estrelas. Quando termina a corrida, o passageiro pode dar uma nota de até cinco estrelas para o condutor.

O cirurgião dentista Luis decidiu virar parceiro do Uber há um mês, para complementar a renda. Trabalhando seis horas por dia, está tirando R$ 600 por semana. “Só tive que fazer manutenção do carro uma vez até agora, e não foi um gasto grande”, conta.

Legislação

O Uber ainda opera sem regulamentação municipal em Curitiba. A assessoria da empresa garante que a legalidade do aplicativo está assegurada pela Constituição Brasileira e pela Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), lei federal que prevê o serviço de transporte individual privado. O táxi se enquadra na categoria de transporte público individual.

Na capital do Paraná, um projeto que unificou três propostas de vereadores e visa regulamentar serviços como o Uber está começando a tramitar na Câmara Municipal, em fase de análise técnica. Depois, passará por comissões antes de ir para votação no plenário. Caso seja aprovado, o texto prevê que as taxas e demais encargos a serem cobrados serão definidos pelo órgão municipal competente, buscando isonomia com os valores praticados em relação ao táxi.

Paralelamente, foi aprovada pela Câmara e sancionada com veto parcial pelo prefeito Gustavo Fruet uma lei que altera a regulamentação do serviço de táxis na cidade. O chefe do Executivo vetou o parágrafo que proíbe o transporte individual de passageiros em veículo automotor leve, de caráter particular, que não seja táxi, e estabelece multa de R$ 1,7 mil para quem descumprir a norma.

A justificativa seria a confusão entre transporte individual público (táxi) e privado (categoria na qual se enquadraria o Uber). Os vereadores têm até 6 de junho para manter ou rejeitar o veto do prefeito.

A Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), em cumprimento ao artigo 231, inciso VIII, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), multa em R$ 85,13 os condutores que são pegos trabalhando pelo Uber. A infração é média, com perda de quatro pontos na CNH.