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Moradores do Tarumã vivem na precariedade

Os rios Atuba e Bacacheri, que delimitam a área ocupada pelas famílias da Vila Joanita, no bairro Tarumã, também servem para marcar uma região cercada de descaso por todos os lados. Os moradores estão na terceira geração de pessoas que ocuparam o local há mais de 30 anos, mas décadas de permanência não garantiram a eles a regularização dos terrenos e a urbanização do local.

O vigilante Edival José da Silva, 51 anos, é filho da Joanita que batizou a vila. Segundo moradores, a mãe de Edival foi homenageada por ter conseguido “trazer água e luz” para a região. “Antes disso, passamos mais de dois anos bebendo água de poço e à luz de velas”, recorda. Apesar de tantas perdas acumuladas por quem vive em uma área onde as ruas se alternam entre pó e lama e a cada chuva alguém precisa ser socorrido, ninguém pensa em sair de lá.

“Meu maior medo é que cheguem aqui passando máquinas por cima de tudo que levamos uma vida inteira para construir”, conta Lysiane da Costa Silva, 29 anos, que desde os seis anos de idade reside na região. “Já perdi muita coisa e foram várias as vezes que a água ficou na altura do meu quadril. O box da cama foi a herança do que estragou da última chuva, mas assim mesmo gosto daqui, porque todo mundo se ajuda, não tem tráfico nem homicídio”, destaca.

Para driblar a falta de escoamento adequado da água na rua 2, próxima da Travessa Brasílio de Lara, ela e o marido fizeram um buraco dentro da casa e instalaram uma bomba hidráulica para escoar a água que invade a casa. “Toda vez que chove, a água começa a verter do campão para a minha casa e para toda a nossa rua, que vira um piscinão. O buraco pelo menos evita que a água suba tanto aqui dentro”, explica.

Cansados de tantas promessas em vão, há três meses alguns moradores formaram o Núcleo Periférico, um grupo que discute os problemas do local e está se mobilizando em diversos atos a fim de fazer com que as autoridades promovam melhorias no local. “A regularização é um dos principais objetivos, até porque seria um ponto de partida para outras obras, como a devida pavimentação das ruas”, conta um dos integrantes, Rodrigo Santos Ribeiro. “Há tanto descaso com a nossa vila que frequentemente caminhões-caçambas despejam lixo nas encostas dos rios daqui e pioram a situação das enchentes. O que estamos pedindo é mais dignidade para as pessoas daqui”, reivindica o pintor Juliano de Oliveira Amaral.

Negociação emperrada

Felipe Rosa
Lysiane: “Meu maior medo é que cheguem passando máquinas por cima de tudo que levamos uma vida inteira para construir”.

A Cohab informou que a área da Vila Joanita é um terreno particular. Em 2010 o órgão procurou os donos para propor a transferência do lote para o município em troca do IPTU atrasado, mas a negociação não evoluiu. Em 2012, a Cohab se reuniu com representantes dos moradores e estes teriam se comprometido a buscar contato com os proprietários.

Após o protesto realizado pela comunidade na noite da última quinta-feira, ficou acertada nova reunião entre moradores e direção da Cohab para buscar uma solução.

De qualquer forma, o órgão ressalta que dos 246 domicílios, 124 estão dentro da faixa de preservação do rio e estas famílias n&ati,lde;o poderiam ficar ali de forma nenhuma, pois a legislação ambiental não permite.

De acordo com a Cohab, os demais moradores da vila poderiam ser atendidos com regularização fundiária quando for resolvida a questão burocrática do lote particular.

Felipe Rosa
No meio de um impasse em relação à área, moradores da Vila Joanita vivem em situação precária e sofrem a cada chuva.

Confira no vídeo a conversa com uma moradora da região.