Moradores da Vila Audi querem saber aonde vão

A situação dos moradores do Bolsão Audi, conjunto de ocupações irregulares localizado às margens da BR-277, continua indefinida. Entre quarta-feira e ontem, a prefeitura relocou mais cinco famílias, gerando tensão no local. Os moradores dizem não saber para onde serão transferidos definitivamente.

O presidente da Associação dos Moradores da Vila Yasmin, Valdecir Dias, o Barulho, diz que a área de eucaliptos próxima à ocupação, que inicialmente foi prometida pela Prefeitura vai virar um condomínio residencial particular. “Disseram que o pessoal da Vila ia para lá e agora vai sair um conjunto de casas de alta classe. Como fica isso?” Barulho promete fechar a BR-277 caso não receba uma “explicação convincente” da Prefeitura.

O coordenador de regularização fundiária da Cohab, Marco Aurélio Becker diz, no entanto, que o local será mesmo destinado para as famílias e, que até novembro, a área estará com os lotes prontos. “É um terreno que pertence a uma construtora. Vamos fazer uma permuta. Eles arrumam ali e passam para nós. Em contrapartida a Cohab se compromete a dar outra área para a empresa.”

No local, as obras já estão em andamento. Os eucaliptos já foram derrubados e uma placa da construtora Starterras identifica o terreno como Loteamentos Jardim Iraí. No telefone de contato da Starterras em destaque na placa, a informação era de que o terreno vai abrigar um condomínio residencial. Um homem identificado apenas como Valdemar disse desconhecer qualquer acordo com a Cohab. “Sou o responsável aqui e sei que vai sair um conjunto de casas particulares.” Valdemar não quis informar o nome e nem o telefone dos proprietários da Starterras.

Histórico

O Bolsão, que integra as ocupações conhecidas como Vila Yasmin, Vila Audi, Vila União, Vila União Ferroviária e Vila Icaraí está passando por um projeto de reurbanização promovido pela Prefeitura em parceria com a Cohab e com o governo do Estado. O local é de preservação ambiental e não oferece condições de moradia para as mais de 3 mil famílias que ali residem.

O trabalho da Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP) começou no início do ano com a construção de um canal de drenagem para o Rio Iguaçu. Há cerca de dois meses as obras foram interrompidas porque, para que as máquinas avançassem, seria preciso derrubar mais de dez casas. Na época a reportagem de O Estado acompanhou a situação no local, divulgando com exclusividade a situação dos moradores relocados para dentro da própria vila, o protesto dos que não quiseram sair e o que foi planejado pela Prefeitura.

Ontem o drama na Vila Audi recomeçou. Márcia Viana, de 45 anos, teve sua casa derrubada pela manhã. Morando apenas com as duas filhas, ela não sabe como fazer para transformar o resto de madeira em uma residência de verdade. “Minha casa é isso aí. Isso que sobrou.”

O pedreiro Davi Éverson dos Santos, de 42 anos, também reclama da relocação. Ele diz que aceita ser transferido, desde que a Prefeitura forneça água, luz e um documento que comprove sua posse sobre o imóvel.

Impasse também na Vila Autódromo

A relocação das famílias na Vila Audi não é o único problema da prefeitura de Curitiba e da Cohab. Alguns moradores da Vila Autódromo, ocupação no bairro do Cajuru, zona leste, também não pretendem seguir a determinação municipal de desocupação da área. Em setembro, terão início as obras de recuperação do Rio Atuba, que corta a Vila. Pelo planejamento da Prefeitura, as famílias seriam transferidas para 182 sobrados, que estão em fase final de construção. Um dos líderes da região, o comerciante Osvaldo Gomes da Cunha, reclama do tamanho das novas casas. “Não dá pra uma família grande viver aí. Parece um canil.” Osvaldo é um dos pioneiros da Vila Autódromo. Dono de uma mercearia, ele diz que não pretende sair de sua atual residência. “Tem muita gente como eu, que não quer se mudar não.”

O coordenador de regularização fundiária da Cohab , Marco Aurélio Becker, conta que serão feitas reuniões com os moradores para explicar melhor o plano de desocupação. “A Cohab não vai deixar ninguém sem ter onde morar.” Em resposta as críticas feitas ao tamanho dos sobrados, Becker é incisivo. “São casas modestas, de 26 e de 30 metros quadrados. É um lugar para recomeçar a vida. Quem quiser um lugar maior que faça por conta própria.” Os planos de financiamento para os lotes ainda não foram definidos. (GV)

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