Experimento

Médicos testam coração artificial em Curitiba

Médicos da Santa Casa de Curitiba fizeram, ontem, uma cirurgia experimental implantando um ventrículo artificial em um porco. O mecanismo é uma espécie de bomba hidráulica que fica externa ao corpo e substitui temporariamente a função do coração.

Segundo o médico-cirurgião, Sérgio Veiga Lopes, o mecanismo pode ajudar a salvar muitas vidas. Entre 20% e 30% dos pacientes que estão na fila do transplante não conseguem esperar pela cirurgia e acabam morrendo. A técnica foi transmitida ao vivo para os participantes do 63.º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que ocorre em Pinhais.

Aliocha Mauricio
Um paciente consegue esperar até um ano pelo transplante usando o aparelho. No entanto, a pessoa precisa ficar internada. (Sérgio Veiga Lopes, cirurgião responsável pela cirurgia em Curitiba).

No País, até hoje foram feitas apenas três cirurgias em pacientes utilizando o mesmo dispositivo usado no experimento, uma no Distrito Federal, outra no Rio de Janeiro e uma no Ceará. A técnica é destinada apessoas que estão na fila de espera por um coração e tem seu estado de saúde agravado por uma insuficiência cardíaca. Os ventrículos, encarregados de bombear sangue para a circulação no corpo, são substituídos pelo mecanismo artificial.

Segundo o médico, foram feitas imagens de pacientes que estavam com o coração parado, mas nem percebiam porque o ventrículo artificial mantinha a circulação sangüínea.

Além das pessoas que tiveram uma parada cardíaca, o mecanismo pode ajudar a salvar a vida de quem desenvolve uma miocardite, por exemplo, que é provocada por um vírus que deixa o coração fraco. Neste caso, quando o coração volta ao normal, o mecanismo acaba sendo dispensado.

Apesar de trazer uma serie de benefícios, o tratamento não está disponível ainda para pacientes que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). Os equipamentos são descartáveis e cada um custa entre R$ 90 mil e R$ 120 mil. O aparelho chamado de AB5000 é fabricado nos Estados Unidos pela empresa Abiomed e foi trazido recentemente para o Brasil.

Sérgio Veiga explica que foi formada uma câmara técnica e já discutiram em Brasília a viabilidade de estender o benefício para a rede pública de saúde. “Um paciente consegue esperar até um ano pelo transplante usando o aparelho”, afirma o médico. No entanto, como ele fica do lado externo do corpo, o paciente precisa ficar internado.

A cirurgia foi feita ontem no Centro Experimental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná em um suíno. O animal possui características anatômicas parecidas com os seres humanos.

Além de Sérgio Veiga, participaram os médicos Juan Mejia e Valdester Pinto, do Hospital de Messejana, no Ceará, que são referências na área, além do médico Francisco da Costa, chefe da cirurgia cardíaca da Santa Casa. A equipe da Santa Casa deve ser a próxima a realizar a cirurgia no País.