Médicos contestam planos de saúde

Médicos de todo o Brasil participaram ontem do Dia de Mobilização Nacional da Classe Médica, com o objetivo de reivindicar a implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (Cbhpm), considerada pela categoria o parâmetro justo de remuneração perante as operadoras particulares de planos de saúde. No Paraná, o evento foi organizado pela Associação Médica do Paraná (ACM), Conselho Regional de Medicina e Sindicato dos Médicos do Paraná.

Das 7h às 11h de ontem, os médicos deixaram de atender pacientes com planos e seguros de saúde. Os casos de urgência e emergência não foram prejudicados, segundo os organizadores. Um ato público também foi realizado na Boca Maldita, centro de Curitiba, com cerca de 300 profissionais, que fizeram trabalhos de prevenção de saúde na população e testes rápidos para verificar os níveis de insulina.

Um dos objetivos da paralisação é alertar os usuários dos planos de saúde sobre uma possível queda na prestação desses serviços. Os médicos alegam que as empresas reajustam os planos anualmente, mas os honorários pagos são muito baixos. “Nós queremos contestar esses valores, pois os honorários médicos não são atualizados desde 1992”, explica Cláudio Pereira da Cunha, presidente da ACM. De acordo com ele, a classe médica e as operadoras estão negociando o reajuste. Caso não cheguem a um consenso, os médicos poderão, futuramente, paralisar o atendimento por tempo indeterminado.

A implantação da Cbhpm é uma antiga reivindicação da categoria. “Ela organizaria melhor e ampliaria o número de procedimentos médicos que são oferecidos aos pacientes. Além disso, determinaria os valores repassados pelas operadoras aos prestadores de serviços”, comenta Cunha.

Estatísticas do Conselho Estadual de Honorários Médicos mostra que a defasagem dos valores gira em torno de 300% desde 1994, enquanto os custos operacionais no setor tiveram reajuste de 100% no mesmo período. Segundo a entidade, existe pressão por parte das empresas de planos de saúde em atender o máximo de consultas possível e prescrever o menor número de exames diagnósticos.

Associação lamenta movimento

A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) – seção Paraná/Santa Catarina -, entidade que representa os planos de saúde, divulgou que o movimento dos médicos é inoportuno, uma vez que a saúde financeira das operadoras também está prejudicada devido aos reajustes estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde (ANS). A entidade informa que se sente desapontada pela forma com que a classe médica está conduzindo o movimento.

“Este não é o momento apropriado para pleitear aumento de salários. Além disso, o usuário não deve ser envolvido na questão”, afirma Joelson Samsonowski, presidente da Abramge. Segundo a associação, as operadoras registram um aumento de 14% nos custos administrativos em virtude da queda da receita depois que seis milhões de usuários migraram para o Sistema Único de Saúde (SUS). As empresas também precisam lidar com 20% de inadimplência dos usuários e o engessamento dos reajustes concedidos pela ANS.

O presidente da Abramge afirma que o número de operadoras de assistência médica cai de 5 mil para 1,7 mil em todo o Brasil. “Os custos médicos representam 70% do faturamento das empresas. O acréscimo de 9,27% referente ao reajuste repassado pela ANS representa um comprometimento de aproximadamente 7% do faturamento do setor. É fácil entender o grande rombo que essas disparidades causam nas operadoras”, comenta Samsonowski. (JC)

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