Maioria dos brasileiros não consegue concluir universidade

Concluir um curso superior é o sonho de milhões de brasileiros, mas apenas 0,2% das crianças que ingressam no ensino fundamental conseguem realizá-lo. No País, as vagas nas universidades públicas são concorridíssimas e as próprias instituições, na maioria das vezes em crise, não têm infra-estrutura suficiente para atender a demanda de alunos.

Sem conseguir entrar em uma universidade pública, a solução para quem deseja fazer um curso superior é tentar vestibular em uma instituição particular. Nesses casos, as mensalidades dos cursos de faculdades e universidades renomadas geralmente assustam e os quatro ou cinco anos de estudo acabam sendo repletos de sacrifícios econômicos. Quando a pessoa acredita que suas condições financeiras lhe permitirão concluir o curso que gosta, os esforços são compensados. Porém, muita gente acaba fazendo um curso não tão desejado apenas porque o valor da mensalidade é inferior.

Na PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Paraná, os cursos mais caros pertencem ao setor de Ciências Biológicas e da Saúde: Medicina (R$ 1.381,00), Odontologia (R$ 1.203,00), Medicina Veterinária (R$ 1.191,00) e Fisioterapia (R$ 981,00). Após, vêm Engenharia Mecatrônica (R$ 977,00), Engenharia Elétrica (R$ 975,00), Engenharia da Computação (R$ 890,00), Engenharia de Alimentos (R$ 889,00), Arquitetura e Urbanismo e Bacharelado em Ciências da Computação (R$ 820,00). O curso mais barato é o de Formação de Professores (R$ 311,00), seguido de Letras, Filosofia, Pedagogia e Teologia (bacharelado), todos R$ 341,00.

“Medicina tem um custo bastante elevado porque a estrutura do curso assim o exige, pois são necessários vários laboratórios e materiais didáticos. Entretanto, o preço também costuma ter relação com a grande procura de estudantes”, comenta o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná, Donizetti Dimer Gianberardino. “O curso dura seis anos, porém, para que o profissional tenha possibilidade de atuar no mercado, que é muito competitivo, é necessário mais um período de dedicação a um curso de pós-graduação, que pode durar de dois a cinco anos. Sendo assim, o estudante costuma demorar para conseguir ter retorno do investimento financeiro feito por seus familiares.”

Pais e parentes

Quem paga curso superior para um parente confirma que a empreitada é cheia de sacrifícios. Muitas vezes, em função de ver o filho com um diploma na mão e bem estabelecido na vida, muitos pais adiam o sonho da casa própria, deixam de trocar de carro e impõem alguns sacrifícios ao restante da família, além de economia com coisas de menor dimensão, como luz, água, telefone, supermercado, empregada doméstica, viagens de férias, entre outras.

“É frustrante para uma pessoa passar no vestibular de uma faculdade particular e não poder pagar o curso por falta de condições financeiras”, diz o analista de sistemas Claudio Marcelo Pokrywiechi, que se formou na PUC em 2001 e atualmente paga mensalmente R$ 516,00 para que o irmão mais novo possa estudar Publicidade e Propaganda na Tuiuti. “Ainda não recuperei tudo que foi investido no meu próprio curso, que no último ano custou R$ 604,00 mensais, porém acho que se for possível pagar vale a pena cursar uma faculdade particular, pois em determinados cursos elas possuem mais recursos didáticos do que as públicas.”

A procuradora do Estado Rosângela do Rocio Esmanioto tem um filho de 20 anos, que também estuda Publicidade e Propaganda, só que nas Faculdades Curitiba. Ela paga mensalmente cerca de R$ 600,00 pelo curso. “É um valor alto para o padrão de vida da maioria dos brasileiros”, afirma. “Entretanto acho que a educação é o único bem que realmente podemos deixar a nossos filhos e devemos investir nisso. Também tenho uma filha de 18 anos que, no final deste ano, deve cursar Medicina. Torço muito para ela passar na UFPR, mas se isso não acontecer, vou dar um jeito de também pagar para ela o curso em uma instituição particular. Para que isso seja possível, penso em buscar novas alternativas de trabalho para mim.”

Cursos dobram em cinco anos

Uma pesquisa realizada recentemente pelo Ministério da Educação (MEC) revela que, em cinco anos, o número de cursos presenciais de graduação cresceu 107% no Brasil. Em 1998, eram 6.950 cursos. No ano passado, 14.399 foram registrados. Nesse período, foram abertos, em média, 1.490 cursos por ano, 124 por mês e quatro por dia. A expansão ocorreu principalmente na rede privada – de 3.980 para 9.147 – que concentra 63% do total.

Diante de tantas opções, alguns cuidados são necessários antes de escolher a instituição que se deseja freqüentar. Segundo o professor e diretor dos cursos da área de administração da PUC, Carlos Augusto Candêo Fontanini, o primeiro cuidado é verificar se o curso tem autorização do MEC para funcionar e sua classificação nos sistemas de avaliação.

Em relação à instituição, verificar todos os cursos que ela oferece, inclusive os de pós-graduação e mestrado. “Se uma instituição oferece pós-graduação e mestrado, costuma ser bem vista no mercado”, comenta Carlos Augusto. “Também ajuda investigar a estrutura que o local oferece, como laboratórios, salas de aula, bibliotecas, estacionamentos e quadras esportivas.”

Ainda em relação ao curso, é importante avaliar o que o currículo compreende de disciplinas, as aptidões geradas, mercado de trabalho e aceitação do diploma pela comunidade.

Voltar ao topo