Livro do século 18 traz parte da história do Paraná

 

São Paulo 

– Descoberto quase por acaso num leilão na Sotheby?s em Nova York, por Beatriz e Mario Pimenta Camargo, depois de ter passado quase dois séculos oculto, um raro álbum de estampas que relatam um interessante período do Paraná no fim do século 18 é agora revelado ao público em sua integralidade. Além de serem objeto de uma sofisticada publicação, os 39 desenhos (originalmente eram quarenta, mas uma das estampas extraviou-se) atribuídos a Joaquim José de Miranda poderão ser vistas até o dia 14 na Fundação Maria Luíza e Oscar Americano, em São Paulo.

Os desenhos retratam a 10.ª e penúltima expedição das bandeiras organizadas por Morgado de Mateus para os sertões do Tibagi entre 1768 e 1773, na tentativa de colonizar a região e barrar o avanço territorial dos espanhóis depois do Tratado de Madri. E estão inseridos no contexto mais geral da política mais humanista ditada pelo Marquês de Pombal, que se opunha ao tratamento brutal dedicado aos índios no País.

Não há registros formais, mas acredita-se que as estampas tenham pertencido ao Marquês e depois vendidas por seus descendentes, por leilão, aos Pimentas Camargos – que formaram um dos mais ricos acervos particulares do País.

Apesar de o contato desenhado por Miranda (reforçando a suposta “generosidade material” dos militares, que em vários desenhos aparecem doando roupas e objetos) acabar com o assassinato de vários deles pelos caingangues, ele demonstra também, segundo a antropóloga Marta Rosa Amoroso, que “não se tratava de mais uma bandeira organizada para caçar os “negros da terra?? e conduzi-los para o trabalho escravo nas fazendas dos colonos; tampouco de uma guerra ofensiva da Coroa portuguesa contra os índios de Guarapuava”. Trata-se, segundo a pesquisadora, de um duplo movimento: de defesa de uma política mais humanista e de efeito demonstração para os inimigos espanhóis da existência desses terríveis “guardiães de fronteira” que poderiam bloquear seus planos de expansão territorial.

Essa fascinante questão indígena – em uma pequena nota etimológica ficamos sabendo, por exemplo, que os caingangues são atualmente uma das populações indígenas mais numerosas do País, contando atualmente com cerca de 25 mil indivíduos, e descobrimos outros capítulos desse trágico confronto ao longo da história – é apenas um dos três eixos de investigação abordados no livro. Além do ensaio de Marta Rosa, a obra publicada com o patrocínio do BNP-Paribas traz ainda uma didática e clara contextualização histórica assinada por Nicolau Sevcenko e pesquisa inserindo esse trabalho no contexto artístico do período, de Ana Maria Belluzzo e Valéria Piccoli. (Maria Hirszman)

Serviço – Do Contato ao Confronto: A Conquista de Guarapuava no Século 18. De terça a sexta, das 11h às 17h; sábado e domingo, das 10h às 17h. R$ 8,00. Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. Avenida Morumbi, 4.077, São Paulo, telefone (11) 3742-0077. Até 14 de dezembro. Abertura hoje, às 19h, para convidados, com lançamento de livro homônimo. Editora: Expomus. 144 páginas. Distribuição gratuita para bibliotecas e centros culturais.

Voltar ao topo