Lavrador morre baleado dentro de assentamento

Ortigueira ? Um lavrador foi morto anteontem no Assentamento Liberdade Camponesa, em Ortigueira. A delegada Gisele Maria Durigan descartou qualquer envolvimento com questões de terra.

O mais provável é que ele tenha sido morto em razão de alguma desavença. O lavrador José dos Santos, de 45 anos, não pertencia ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tendo ido até o assentamento para prestar serviços a um dos moradores.

Ele levou um tiro no rosto e outro no peito. “O autor é desconhecido”, afirmou a delegada. Em razão da distância entre as casas do assentamento, ela também não está podendo contar com a ajuda de testemunhas entre as 750 famílias que residem no local. “Coincidentemente, a morte aconteceu dentro do assentamento neste período conturbado no setor rural”, disse a delegada.

Sábado, um grupo de 120 famílias invadiu a Fazenda Vale do Sol, no mesmo município, pertencente ao agropecuarista Kamal El Kadri. Ontem, os sem-terra foram notificados pelo oficial de Justiça do prazo de três dias para deixar a propriedade.

MST tem dez dias para desocupar área

As quase 240 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estão acampadas na Fazenda Baronesa dos Candiais II, em Luiziana, Centro-Oeste do Paraná, desde o dia 28 de abril, têm entre oito e dez dias para desocupar a área. Ontem terminou o prazo para que fosse estudada uma alternativa para as famílias.

“É quase inevitável a desocupação. A prerrogativa agora é do governo do Estado”, comentou ontem o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lisboa de Lacerda, minutos antes de participar da reunião, a portas fechadas, realizada na Secretaria da Segurança Pública do Paraná. Além de Celso Lacerda, participaram do encontro os secretários Luiz Fernando Delazari (Segurança Pública) e padre Roque Zimmermann (Trabalho, Emprego e Promoção Social), além de representantes do MST e da Comissão da Pastoral da Terra (CPT).

Depois de quase duas horas de conversa, as famílias sem terra concordaram em deixar o local pacificamente. Um dos coordenadores do MST, Ireno Prochnow, informou que as quase 240 famílias não têm para onde ir, e que elas devem ocupar a beira da estrada ou seguir para algum assentamento. Ireno afirmou ainda que nova ocupação na Fazenda Baronesa dos Candiais II está descartada.

“Os representantes do MST não queriam a desocupação, mas entenderam a situação do Estado e da Secretaria, que não tem mais como adiar a desocupação da área”, explicou Luiz Fernando Delazari, secretário da Segurança Pública.

Incra

Celso de Lisboa Lacerda, do Incra, afirmou que era impossível ao órgão dar uma resposta imediata para aquelas famílias. “O Incra não tem como fazer a realocação dessas pessoas”, informou. Segundo ele, não há como fazer a desapropriação da área porque ela está ocupada pelos sem terra. Além disso, o Incra apresentou proposta de compra, recusada pelo proprietário da fazenda. “É ruim dizer isso, mas infelizmente não temos nenhum pedaço de terra para ofertar”, lamentou. Ele lembrou que o processo de desapropriação leva, no mínimo, oito meses. Desde junho, o Incra vistoriou 94 áreas no Estado. Até dezembro, deverão ser trezentas. A idéia é desapropriar 10% delas.

De acordo com Jelson Oliveira, da Comissão da Pastoral da Terra, no primeiro semestre houve 64 novas ocupações no Paraná, envolvendo cerca de 14 mil famílias. É, segundo ele, quase o dobro do número de famílias registrado em 2002. (Lyrian Saiki)

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