Japoneses fazem história no Brasil

Década de 30. Foi a época em que diversos japoneses, fugindo das dificuldades econômicas do seu país de origem, aportaram no Brasil. Década de 90. Período em que diversos brasileiros descendentes de japoneses voltaram ao país nativo dos seus familiares para fugir das dificuldades econômicas do Brasil. Amanhã, dia de 18 junho, serão comemorados os 99 anos da imigração japonesa. E as histórias de muitos membros da comunidade nipônica no Brasil mostram o caminho contrário que os descendentes dos imigrantes fazem hoje.

?A primeira leva de imigrantes chegou no Brasil em 1908. Mas eram pessoas jovens, que pagaram suas passagens. A economia no Japão estava ruim. Mas eles tinham mais características de pessoas aventureiras. Já na década de 30 o governo japonês passou a subsidiar a passagem. Aí a situação é mais crítica. O governo do Japão queria que mandassem dólar para lá?, explica o pesquisador Cláudio Seto. E hoje os dekasseguis (que, na tradução literal, significa pessoas que saem para ganhar a vida) mandam dinheiro para o Brasil.

O ?boom? de imigrantes brasileiros no Japão foi na década de 90. Em 1988 havia pouco mais de 4,1 mil brasileiros trabalhando no Japão. Em 1989 este número aumentou 249% e, em 1990, cresceu 288%, com 56,4 mil descendentes de japoneses trabalhando no oriente. Hoje, segundo a Associação Brasileira dos Dekasseguis (ABD), 312,9 mil brasileiros estão trabalhando no Japão. Mas, segundo a presidente da ABD, Maria Helena Uyeda, a maioria dessas pessoas volta ao Brasil para investir o dinheiro que juntou no Japão.

Este é o exemplo de quatro descendentes japoneses que, ao se encontrarem no Japão, formaram uma parceria que hoje é um sucesso em Curitiba. ?Eu fui com meu irmão para o Japão em 1992 e lá eu conheci meu marido e ele a esposa dele. Eu e meu marido voltamos em 1998 e eles um ano depois. E nós já começamos a procurar alguma coisa para investir em conjunto?, conta uma das proprietárias de um café no centro de Curitiba, Simone Yamaguti. Entretanto, por falta de orientação, uma situação comum entre os dekasseguis é investir mal e depois voltar ao Japão para juntar dinheiro novamente.

?Nós buscamos consultoria para abrir o negócio e ter fôlego para mantê-lo?, recorda Simoni. O café dos quatro nikkeis (japoneses) hoje é um sucesso e já foi até agraciado com título do melhor da cidade por dois anos consecutivos. Entretanto, Simone conta que a vida de dekassegui não é fácil. ?A adaptação foi difícil por causa da barreira da língua. No começo é tudo novo. Mas no segundo ano começa a ficar cansativo porque não podemos fazer muita coisa para poder guardar dinheiro?, lembra a empresária, que foi para Japão com 18 anos.

Cursos

O consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) e coordenador do programa Dekassegui Empreendedor em Curitiba, Leandro Krug Líbano Batista, explica que é importante que haja preparação antes, durante e depois da viagem. Por isso, o Sebrae, em parceria com a ADB e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), faz cursos preparatórios para ensinar a língua e a cultura. Durante e após a viagem, orienta os dekasseguis em como melhor investir o dinheiro.

Imin Matsuri começa no dia 29

O aniversário da imigração japonesa é comemorado todos os anos em Curitiba com a festa do Imin Matsuri. Este ano o festival vai acontecer entre 29 de junho e 1.º de julho, no Centro de Exposições do Parque Barigüi. O pesquisador e um dos organizadores, Cláudio Seto, revela que, além das atrações culinárias, os participantes poderão participar de várias oficinas que contemplam a arte japonesa. O evento abre as festividades dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, que terá várias comemorações ao longo do ano.

?Lá terá uma grande praça de alimentação, com cerca de 60 pratos típicos. Terá também shows de grupos folclóricos, de cantores e do grupo de tambores Okinawa (uma região do Japão)?, conta Seto. Segundo o organizador, haverá oficinas de Maga (quadrinhos japoneses), de cerimônia do chá (a cultura japonesa tem um ritual para beber chá), de shogui (xadrês japonês) e de ikebana (arranjos de flores). Qualquer pessoa pode participar. ?Vai ter também uma exposição do consulado do Japão com maquetes de edificações japonesas e também de objetos típicos?, adianta Seto.

Os participantes também poderão ver duas exposições de artes plásticas e uma mostra fotográfica que conta a vinda do Imperador do Japão para Curitiba há dez anos. Para os fãs de quadrinhos haverá uma exposição de cosplay – pessoas que se vestem de personagens de quadrinhos. Também está programada apresentação de anime (desenho animado japonês). A entrada custará R$ 3. (AB)

Mercado Municipal: reduto de imigrantes

Foto: Ciciro Back

Yamasaki: simpatia.

O país de origem é o Japão, muitos hábitos já são brasileiros. É assim que o imigrante Yoshihiro Yamasaki, 78 anos, descreve sua vida hoje. Ele está há 44 anos no Brasil. ?Lá estava ruim. O Japão só melhorou depois de 15 anos que eu vim. Daí não quis mais voltar?, contou o comerciante, que quando se mudou para o Brasil trouxe os pais, os irmãos e a esposa.

Desde que chegou ao Brasil, Yamasaki trabalha com frutas e verduras. Hoje sua barraca no Mercado Municipal de Curitiba é uma das mais movimentadas. E, ao contrária do estigma que muitas pessoas têm dos japoneses, o comerciante atrai os clientes com sua simpatia. ?A maioria dos japoneses é um pouco fechado e não entra muito no meio brasileiro. Mas eu tenho amigos. Gosto da alegria do brasileiro?, comenta.

A personalidade brasileira pode não ser muito comum entre a comunidade nipônica, mas a cultura sim. ?Ainda preservamos a língua, um pouco da culinária e a música. Mas já temos muitos hábitos brasileiros?, conta o comerciante Massaaki Oyama. Ele é nissei (filho de japoneses). Oyama também tem uma barraca de frutas e verduras no Mercado Municipal de Curitiba, que toca junto com seu pai. ?O meu irmão mais velho começou a ajudar aqui e daí foi passando para os outros mais novos?, relata. (AB)

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