Índios ganham apoio na luta por energia na aldeia

A chegada da energia elétrica na aldeia guarani Karuguá (arco-íris), localizada nos mananciais da serra, às margens da barragem da Sanepar em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, não é apenas um sonho de quem vive no lugar, mas uma necessidade real de pessoas que convivem com um clima instável e temperaturas bastante baixas, principalmente nos meses de inverno.

Para ajudar os índios, integrantes do Núcleo de Ação Comunitária da Associação Franciscana Senhor Bom Jesus, que em Curitiba mantém o Colégio Bom Jesus e a FAE Business School, vão encaminhar, nos próximos dias, um ofício à Copel solicitando a instalação de rede elétrica na aldeia. “Em vários pontos da aldeia já existe água encanada, mas os índios continuam tomando banho frio”, comenta o professor do núcleo, Francisco Carlos Lopes da Silva.

Segundo o vice-cacique e presidente de organização da aldeia, Darci da Silva, as crianças pequenas são as que mais sofrem com os banhos de água fria. “O banho frio já era um costume guarani, mas para as crianças é bastante difícil. Na região onde está localizada a aldeia, as temperaturas são muito irregulares e elas sofrem bastante”, afirma. Darci diz temer pela saúde dos mais jovens, pois, principalmente entre eles, há muitos casos de gripes e resfriados.

Sob influência direta dos brancos, os índios têm à sua disposição telefones celulares. “Quando alguém fica doente na aldeia, pedimos socorro ligando para o posto médico de Piraquara ou para pessoas interessadas em nos ajudar”, conta Darci. “A aldeia fica afastada e o acesso até Piraquara é bastante difícil, o que torna o celular um objeto de grande importância para nós. Entretanto, os aparelhos vivem com as baterias descarregadas devido à falta de rede elétrica.”

Embora seja regra na comunidade não assistir a filmes e novelas, para não levar hábitos da cultura branca para dentro da aldeia, muitos índios sentem falta de aparelhos de televisão. “Tenho em minha casa uma TV que funciona à pilha, mas seria muito mais fácil utilizá-la se houvesse energia elétrica permanente”, diz o cacique Marcolino da Silva. “A única coisa que os integrantes da aldeia podem assistir é o telejornal. Terminando as notícias, a televisão é desligada.”

A necessidade da energia elétrica se torna mais evidente nas dependências da Escola Indígena Kbyá Arandú (sabedoria guarani), inaugurada esta semana na aldeia. “Se a luz elétrica chegasse, a escola, além de funcionar nos períodos da manhã e da tarde, poderia ser utilizada à noite. Isso seria bastante vantajoso para as crianças”, dizem o cacique e o vice-cacique.

A aldeia Karuguá abriga treze família indígenas, num total de cerca de sessenta pessoas, entre elas cerca de trinta crianças. Ela foi instalada em Piraquara no dia 14 de dezembro de 1999. Vive do plantio, do comércio de artesanato e da venda de um CD cantado por membros da própria comunidade. No local, é falada a língua guarani. A maioria dos índios entende o português, fala algumas palavras, mas não sabe escrever. Para manter suas tradições, eles realizam rituais de cantos e danças a cada anoitecer.

Copel

A assessoria de imprensa da Copel informou que várias comunidades indígenas espalhadas pelo Paraná já estão sendo atendidas. Os serviços são realizados através dos programas de eletrificação rural, existentes a cerca de 20 anos.

De acordo com a empresa, após determinada comunidade entregar um ofício solicitando a instalação de rede elétrica, é feito um estudo de caso e dá-se início à elaboração de um projeto, onde são apresentados os custos da obra. Grande parte do valor é de responsabilidade da própria concessionária. Porém a comunidade interessada deve arcar com uma fração do valor total.

Se for aprovado pelos interessados, o projeto é licitado e uma empreiteira passa a se responsabilizar pela construção da rede, partindo de uma já existente. Em média, o processo todo leva cerca de seis meses. “As condições de pagamento para a comunidade interessada são bastante facilitadas, pois geralmente as pessoas que participam dos programas de eletrificação rural são de baixo poder aquisitivo”, comunica a empresa.

Integrantes da tribo vão às urnas

Cintia Végas

Se engana quem pensa que os índios exercem sua cidadania apenas dentro de suas próprias tribos. No próximo dia 6, sete integrantes da aldeia Karuguá votarão para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual.

Segundo o cacique Marcolino da Silva, os eleitores, embora com dificuldades devido à falta de energia elétrica, acompanham quase que diariamente o horário eleitoral gratuito, no único televisor a pilha presente na comunidade.

Além de procurar conhecer os candidatos, analisando suas propostas e integridade, eles buscam saber mais sobre o funcionamento e o modo de utilização das urnas eletrônicas. “Os índios que vão votar são muito interessados e conscientes”, afirma. “Como assistem aos telejornais, sabem das necessidades do País.”

Os integrantes da aldeia votam em Piraquara. Até agora, não receberam a visita de nenhum candidato com a intenção de divulgar suas propostas e projetos na aldeia.

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