Avanço

Inclusão social só é possível com educação

A aplicação da Lei de Cotas (8.213/91), que exige a contratação de pessoas com deficiência (PcD) em determinadas porcentagens, dependendo do tamanho das empresas, é levantada por especialistas como fator responsável pelo crescimento de deficientes físicos no mercado de trabalho.

Segundo dados do último censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em todo o Paraná existem aproximadamente 3,3 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, entre 15 e 59 anos. Destes, 2,8 milhões vivem apenas na Grande Curitiba.

Um exemplo do fomento desse crescimento é o trabalho feito pela Universidade Livre para Eficiência Humana (Unilehu), que tem ajudado na inclusão de portadores de necessidades especiais no mercado de trabalho.

Segundo a presidente da universidade, Andrea Koppe, desde 2005, três mil PcD já foram incluídas no mercado de trabalho. “Apenas em 2009, até novembro, conseguimos colocar 800 pessoas no mercado de trabalho. Isso representa um índice de 75% de vagas assumidas em relação às ofertadas”, orgulha-se.

Para conseguir esses resultados, Koppe explica que a Unilehu trabalha com dois modelos de ação, o comportamental e o técnico. “No comportamental enfatizamos o autoconhecimento. No técnico, por outro lado, trabalhamos inglês, informática, português, dentre outras disciplinas”, explica. As aulas são todas gratuitas.

No entanto, de acordo com a Associação da Cadeia Produtiva de Educação à Distância (Aced), mais de um milhão de vagas criadas pela política de cotas para deficientes não são preenchidas.

“A razão disso é a falta de preparo dos candidatos. Por isso, este dado merece especial atenção das autoridades. A inclusão das pessoas com deficiência pode e deve ser iniciada pelo acesso ao saber. Assim conseguiremos preencher essa lacuna”, diz o ex-ministro da Educação e presidente da Aced, Carlos Alberto Chiarelli.

Segundo ele, o ensino a distância pode ser a resposta para isso, pois atinge milhares de pessoas com mais facilidade que o ensino especial tradicional. “Partimos do pressuposto de que, se a aula é presencial, teríamos indicativos baixos de presença, pois o deficiente, na maioria das vezes, tem dificuldades de locomoção. Como nesse caso a educação vai ao encontro do aluno, evita-se esse tipo de problema. O baixo custo também ajuda, uma vez que um professor pode dar aula para o Brasil inteiro”, completa Chiarelli.

Ensino médio

Entretanto, para poder chegar à oportunidade de emprego também é preciso passar pelo ensino médio. No Paraná, de acordo com a secretaria de Estado da Educação (Seed), a matrícula de alunos com necessidades especiais na rede pública estadual cresceu 108,39% de 2002 (17.796 alunos) para 2009 (37.086 alunos), assim como na rede conveniada, na qual foi registrado um crescimento de 24,59% do final de 2002 (34.343 alunos) para o início de 2009 (42.788 alunos).

Atualmente, são atendidos aproximadamente 80 mil alunos especiais em todo o Estado. Para Angelina Matiskei, chefe do Departamento de Ensino Especial e Inclusão Educacional (Deein), da Seed, o Paraná é o único estado que trabalha a inclusão de forma responsável e não radical.

“A política de inclusão educacional é mais do que a simples matrícula do aluno com necessidades educacionais na rede comum de ensino. Cada necessidade especial demanda um trabalho diferente e, por sua vez, cada aluno pede um atendimento personalizado”, conclui. O Deein atende alunos com deficiência intelectual e física.

Tratamento especializado

Em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (RMC), uma escola municipal que atende alunos surdos de 2 a 12 anos e outros jovens participantes do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA) está trazendo esperança e melhores condições de vida para portadores de problemas de fala e audição.

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Trata-se da Escola Municipal de Educação de Surdos Ilza de Souza Santos, que conta hoje com 26 alunos, divididos entre ensino fundamental e EJA. De acordo com Claudia Maria Stanoga, diretora da escola, a iniciativa para iniciação dos alunos nesse tipo de ensino especial deve partir das famílias, logo que a deficiência é percebida.

“É importante que os pais, ao perceberem que seus filhos não desenvolvem a fala como as outras crianças da mesma idade, procurem especialistas e entrem em contato com escolas específicas para surdos. O desenvolvimento dessas crianças é muito dependente das famílias, que na maioria das vezes, por medo do preconceito, não as matriculam em escolas especiais”, afirma.

Em escolas comuns, explica, nem sempre há pessoas preparadas para lidar com a situação. A experiência de vida da estudante Greyci Bezerra da Silva, de 24 anos, é exemplo de sucesso da escola.

Segundo a diretora, após começar a frequentar a instituição, a aluna desenvolveu muito a linguagem de sinais. “Até os dez anos ela apresentava dificuldades por não ter tido aulas com professores especialistas.

Desde que começou a estudar conosco, evoluiu muito sua comunicação”, conta. Para a aluna, independente do estudo, o preconceito ainda é uma das maiores barreiras para conseguir um trabalho.

“Quero me comunicar com as pessoas, mas não consigo. Ainda falta preparo da população para entender nossa situação”, expressa a aluna, através da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras).

Para inserir a Libras no cotidiano da população, a escola oferece um curso gratuito que ensina os primeiros passos para aqueles que querem se comunicar com surdos. Segundo o professor Murilo Forcadell, que também é surdo e mudo, os que mais procuram o curso são pessoas que têm ligação com surdos.

“A família se interessa e quer se comunicar com a pessoa com problemas de fala e audição”, explica. De acordo com ele, no início do curso são apresentados simbologia das letras do alfabeto, bem como sua história, itens da gramática e ainda leitura labial.

Instituto Paranaense de Cegos vira centro especializado de educação

Desde 25 de setembro, o Instituto Paranaense de Cegos (IPC) está sob intervenção. Após uma ação civil pública, proveniente do Ministério Público do Paraná, foi verificado que o local tinha problemas de prestação de contas e desvio de dinheiro.

A ação pedia a retirada da diretoria da época e a implantação de um interventor. Atualmente, o IPC tem uma dívida de R$ 700 mil. No entanto, o local não corre risco de ser fechado.

Segundo o interventor nomeado, Enio Rodrigues da Rosa, haverá apenas a transformação da Escola de Educação Especial Osny Macedo Saldanha em centro de atendimento educacional especializado. Segundo ele, não há razão para que uma escola com 22 professores continue aberta para atender 21 alunos.

“O que está acontecendo é um processo de transformação da escola de educação especial mantida pelo instituto em um centro de educação especializado. Isso será um passo para frente, pois as crianças cegas podem e devem estudar em escolas comuns, junto com as outras crianças”, afirma.

Tal atuação, porém, não trará prejuízos aos alunos e professores ligados à instituição que será extinta. “Todos os estudantes já estão com vagas reservadas e garantidas para escolas municipais ou estaduais. Estamos apenas esperando que a data de matrícula chegue para que possamos encaminhar esses estudantes. Com isso, o centro de atendimento educacional especializado poderá receber os mesmos alunos e outras pessoas com deficiência no contraturno de suas aulas,” ressalta.

Quanto aos professores, Rosa explica que alguns ficarão no local como professores de Braille e, outros, como são servidores, serão remanejados para outras escolas.

Ainda não há um tempo específico de permanência e atuação do interventor no instituto, mas, segundo ele, os trabalhos vão girar em torno da quitação da dívida de R$ 700 mil.

“Precisamos sanar essa dívida e fazer algumas mudanças estruturais no IPC. Dessa forma poderemos deixar o i,nstituto apto para readequar pessoas com deficiência na sociedade sem a necessidade de segregá-las a uma instituição especial”, diz.