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Idosos deixam o pijama de lado para curtir um bailão

A alegria contagia já na porta de entrada. Não importa a idade – nem permitido perguntar é -, mas há quem prefira exaltar quantas décadas já viveu para mostrar a felicidade de estar em plena atividade. Amigos, risadas, romances, assim são as tardes de baile da melhor idade na Sociedade Recreativa Internacional Água Verde. São 108 anos de história e 25 deles dedicando duas tardes da semana à diversão para a melhor idade. Sexta-feira e sábado são dias de encontro entre amigos e amores. Não é precisar gastar muito. O ingresso para quem não é sócio custa apenas R$ 5.

Chegando a plena luz do dia, senhores e senhoras desfilam modelitos de gala, não economizam na elegância e nem no perfume. Com jogo de luzes, banda ao vivo e muito bolero, música gauchesca, sertanejo, os dançarinos não perdem tempo. Já chegam ao salão principal em busca de uma companhia para arrastar o pé.

Marco André Lima
Tânia e José não perdem o baile de sexta-feira.

E se ainda não encontra o par, vale dançar sozinho também. O que não pode é ficar em casa chorando solidão. “Aqui não existe solidão, fiz muitos amigos. Agora estou à procura de um amor, mas ninguém me quer”, brinca a contadora Alzira da Silva Antunes, que não desanima: “mas vou achar”.

Há quem já tenha se dado bem. O presidente Osni Rolim de Moura, viúvo há um ano e meio, está de namorada nova e que conheceu no baile. “As pessoas não foram feitas para viverem sozinhas. Foram 51 anos de casamento até perder minha esposa [Mirtes] e agora estou me sentindo bem de novo”, conta.

Marco André Lima
Alzira diz que procura um amor e vai achar.

Um dos diretores, Rubens da Cunha, também vive um novo amor encontrado nos bailes. Frequentador assíduo, se a mulher não está junto, ele não quer saber de dançar. “Só vim para liberar minha mesa que estava reservada, mas estou indo embora. Não fico sem ela”, conta Rubens, que esperava o retorno de Geraldina, que está em viagem, para retomar os bailes.

São pelo menos 450 pessoas a cada tarde de festa, que não só dançam, mas trocam experiência e fazem companhia um ao outro. “Aqui você faz bastantes amigos. O que mais gostamos é a convivência e, de tanto conviver, todo mundo vira família”, conta Tânia Regina Gusso, que não perde os bailes de sexta-feira, mas sempre acompanhada do marido José Gomes de Souza.

Marco André Lima
Rubens só dança se a mulher estiver junto.

Terapia com direito a personal dancer

Os bailes para melhor idade acabam se tornando terapia para os senhores e senhoras que gostam de dedicar algumas horas à dança. Há quem tenha se redescoberto nesta atividade, como Elci Fernandes, um dos grandes exemplos para quem frequenta a Sociedade Recreativa Internacional Água Verde.

Perdeu visão já adulta. Tão traumático foi o incidente, que ela prefere nem dizer há quantos anos enfrenta esta nova realidade. Mas na dança resgatou a felicidade.

Marco And,ré Lima
Elci Fernandes, na dança resgatou a felicidade.

Há dois anos é frequentadora assídua da Sociedade Água Verde. Ela está sempre acompanhada de Edison David, seu personal dancer. Um dançarino profissional que acompanha senhoras em bailes. “Graças a ele eu recuperei minha vida e minha alegria. Não dá para só ficar em casa. Ele é um investimento que vale a pena”, conta Elci.

Edison tem outra profissão, mas aproveita para, como personal dancer, casar o prazer da dança com uma forma de ganhar uma renda extra. “Tenho 12 clientes. Eu sempre repito isso: a melhor terapia física e psicológica é a dança”, reforça.

Fortalecedor de relacionamentos

Marco André Lima
Casados há 57 anos, Bronislava, 84 anos, e Vani, 77 anos, usam os bailes para aprimorar o casamento.

Além de ser uma espécie de casa do cupido, já que muitos encontraram novos amores no baile, o local também é referência de diversão para os casais com muitos anos de relacionamento. Casados há 57 anos, Bronislava de Macedo, 84 anos, e Vani de Macedo Borges, 77 anos, usam os bailes para aprimorar o casamento. A diversão faz parte da receita para uma união longa. Elegantes, ele de chapéu e sapato de verniz e ela de vestido de festa, os dois rodam o salão aos risos. Não escolhem música. E ele ainda tem a liberdade de dançar com outras mulheres. Mas tem limite: “até umas 22 músicas pode dançar com outra”, brinca a esposa, que acompanha tudo da mesa.

E com a confiança, os dois vão mantendo o casamento de mais de meio século e com uma família numerosa. São cinco filhos, oito netos, um bisneto e em breve ganharão mais um.  “Nunca tivemos nenhum problema.

Isso aqui ajuda a manter nossa relação. E não há ciúmes, ele pode dançar com outras mulheres. O importante é ter amor”, conta Bronislava. Os dois também comemoram as amizades que fizeram. “São muitos amigos e a dança faz muito bem para nós”, destaca Vani.

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