Idosos dão lição de vida ao retomar estudos

Nunca desistir. Esse é o lema daqueles idosos que querem sempre aprender mais. Voltar a estudar, saber escrever o próprio nome, iniciar uma jornada de conhecimento, é realizar um sonho de criança, que a vida não deu oportunidade ou não deixou que ela fosse aproveitada.

Esse é o caso de Hilda Rodrigues de Souza, 76 anos, que está no período de alfabetização (1.ª e 2.ª séries). Aos sete anos, o pai a proibiu de ir para a escola. “Ele falava que filha mulher não podia aprender a escrever. Senão, escrevia carta para o namorado”, lembra. “Mas era desse jeito. Naquela época, mulher só podia casar e ter filhos”, conta Hilda.

Ainda pequena, mas já persistente, ela freqüentou as aulas durante seis meses, escondida da família. “Falei com a diretora da escola, ela entendeu o meu caso e deixou eu ver as aulas”, comenta Hilda. “Mas precisava ajudar a minha mãe e fui trabalhar. Somente agora estou voltando a estudar”.

Ela quis iniciar mais essa etapa, há três meses, porque estava se sentindo muito sozinha. “Eu comecei a ficar triste. Então decidi não ficar em casa assistindo televisão”, revela Hilda. “Isso está fazendo tão bem para mim. Eu posso dar o exemplo e mostrar às outras pessoas que podemos fazer o que a gente quiser”, avalia.

A vontade de preencher os cadernos também tem um objetivo. “Eu sei que já vou estar velha demais, mas queria ser professora”, aponta a estudante. E ela já faz um pouquinho disso. “Eu chego lá no meu bairro e ensino todo mundo. Aproveito e também ajudo os meus netos na lição de casa”, fala, com orgulho.

Vontade impressiona

Danielle Ribeiro Castilho, professora de Hilda, ensina 26 idosos a ler e escrever. “É impressionante a vontade deles. Mas, às vezes, a ansiedade de querer aprender rápido atrapalha”, relata. Como não querem perder a oportunidade, a freqüência na sala de aula é intensa. “Existe uma regularidade porque o interesse é grande. Eles realmente se dedicam”, comenta Marilza Bassani Azevedo, coordenadora pedagógica regional do Sesc, onde Danielle leciona. Cerca de trezentos alunos com mais de 60 anos participaram das aulas da instituição, em todo o Paraná, no ano passado.

Existem, porém, alguns casos de desistência. Para tentar manter os idosos sempre em sala de aula, a professora procura aliar as disciplinas com situações do dia-a- dia. “Pegamos conta de supermercado, receitas, cédulas, como exemplos”.

De acordo com Danielle, a grande dificuldade de trabalhar com pessoas de idade é a falta de memória. “Nós fazemos atividades diferenciadas, associadas com o cotidiano, justamente por isso. Se dermos as aulas normais, eles esquecem com muita facilidade”, aponta. “Temos que realizar um trabalho demorado, mas que traz resultado. Sempre retomamos os assuntos para não criar buracos no conhecimento”, afirma Marilza.

A sala de aula também é um consultório de terapia. Os alunos sempre procuram a professora para expor seus problemas. “Tenho que ser um pouco de tudo. E sempre atendo porque faço parte da vida deles”, explica. Como são correspondidos, os idosos distribuem muito carinho para todos aqueles que os ajudam nessa nova etapa de suas vidas.

Serviço – algumas escolas e instituições de Curitiba oferecem a educação para adultos e idosos. As aulas no Sesc acontecem três vezes por semana, das 14h às 17h30. Maiores informações no telefone (41) 342-7577.

valorização do incentivo familiar

O incentivo dos familiares também é um pontapé na volta aos estudos. Foi o que aconteceu com Daura Carneiro, de 63 anos. Ela ajudava o filho em um jornal sobre a terceira idade e recebeu o incentivo de cursar a faculdade de Jornalismo. “No princípio, não me empolguei muito. Eu achava que sabia muito, mas na verdade, não sabia nada”, afirma. “Fui me encantando com a profissão e concordei em prestar o vestibular”, explica Daura.

Ela foi professora e deixou os estudos de lado há 42 anos. “Como fazia muito tempo que não pegava nos livros, dei uma relembrada em algumas disciplinas e procurei estar inteirada dos assuntos atuais”, conta. “Mas fui desacreditada para o vestibular”, confessa. Foi nessa ocasião que Daura recebeu a maior declaração de amor da vida dela. “Meu filho falou para eu não ficar nervosa. Se eu não entrasse na faculdade, não era para me preocupar. Eu já tinha passado na faculdade da vida”, conta, emocionada.

Por mais que estivesse em plena atividade, Daura queria fazer mais. “A pessoa nessa idade tem que virar a ampulheta”, compara. “Precisa provar que está viva. Se o tempo dá essa oportunidade, temos que aproveitar”. Com essa atitude, ela conquistou um fã: o próprio marido, com quem é casada há 50 anos. “Ele sempre fala para eu estudar, tirar nota boa. Ele e meus filhos (são quatro) me incentivam a todo momento”. Daura está cursando o 2.º ano de Jornalismo na Faculdades do Brasil (UniBrasil). (JC)

Confusão sobre passagens gratuitas

As confusões e dúvidas sobre a concessão de passagens interestaduais para idosos – acima de 60 anos e que ganham menos de dois salários mínimos -, fizeram com que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) divulgasse, nesta semana, a suspensão do direito. As empresas estão esperando que o Ministério dos Transportes regulamente a forma como as passagens serão distribuídas e a quem caberá a fiscalização no cumprimento do direito. A questão deve ser resolvida até o final deste mês.

O coordenador do Procon-PR, Algaci Túlio, não concorda com a atitude da agência. “A ANTT não pode ser superior a uma lei federal. A suspensão do direito deveria ser feita por uma portaria ou um decreto do presidente Lula, informando que o benefício estará suspenso por tanto tempo”, afirma. “A lei está em vigência, portanto vale, independentemente da regulamentação”, explica Túlio. Para ele, as medidas que regulam o benefício já deveriam estar definidas. “A lei, que seria motivo de comemoração, virou uma esculhambação”, opina.

Os fiscais do Procon estão desde terça-feira na rodoviária de Curitiba para garantir o direito dos idosos. A empresa Penha-Itapemirim foi autuada porque colocou um comunicado nos guichês informando que o benefício estava suspenso. “Isso aconteceu porque achamos uma brecha no código do consumidor que se aplica neste caso”, revela Túlio. “É como se eles estivessem vendendo um produto que seria gratuito”, compara o coordenador.

Ele conta que os advogados do órgão estão propondo uma ação civil pública, pedindo liminar para que as empresas respeitem a lei. O Procon orienta os idosos a procurarem normalmente as passagens gratuitas, levando a carteira de identidade e um comprovante de renda (pode ser a carteira de trabalho). “Caso o benefício seja negado, o idoso deve procurar o Procon e abrir um processo contra a empresa”, conta Túlio. Se a viagem for urgente, a pessoa pode comprar a passagem e guardar o canhoto. “No retorno, o idoso vem direto ao Procon e entramos com um processo para o ressarcimento em dobro do valor da passagem”, explica o coordenador. (JC)

Serviço

– maiores informações no Procon-PR, pelos telefones 0800 41 1512 ou (41) 362-1512.

Passar dos anos não é empecilho ao trabalho

A idade não é empecilho para o trabalho. Dependendo do momento da vida, a atividade profissional é uma forma de ocupação, e não uma obrigação. O médico ginecologista Moysés Paciornik está prestes a completar 90 anos. Atende pacientes desde 1938. “O trabalho ajuda a passar o tempo”, conta.

Ele é autor do livro Aprenda a envelhecer sem ficar velho, lançado há mais de 20 anos e que está na 4.ª edição. Além disso, Paciornik escreveu outras sete obras, que proporcionaram a ingressão na Academia Paranaense de Letras e Academia Brasileira de Médicos Escritores. O médico também difundiu o parto de cócoras utilizado pelas índias.

A receita de Paciornik para uma vida longa é simples: exercício e alimentação correta. “Não precisa de mais nada, desde que se faça com regularidade”. E é lógico que ele seguiu essa rotina. “Enquanto eu puder, enquanto uma pessoa me procurar e confiar em mim, vou continuar trabalhando”. O médico atende em seu consultório de segunda-feira a sexta-feira, das 15h às 17h. No restante do dia, ele se dedica à leitura, principalmente. “Leio jornal, três revistas semanais e muitos livros, inclusive com relação ao meu trabalho”, comenta.  Paciornik acompanha a evolução de gerações de mulheres em Curitiba. Algumas de suas pacientes iniciaram as visitas ainda adolescentes e hoje são senhoras bem vividas. Por ver de perto essa realidade, ele acredita que a criação do Estatuto do Idoso é uma boa iniciativa. “A grande maioria dos idosos não tem como se sustentar sozinha. Vive de favores e sofre com isso”, avalia o médico.

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