Ibama limita acesso de carros a parque nacional

O atropelamento e morte de uma jaguatirica no Parque Nacional do Iguaçu (PNI), ocorrido no último dia 12, levou o Ibama a determinar a diminuição do fluxo de automóveis na Rodovia das Cataratas, no seu percurso pelo interior do parque. A estrada de 11 km é a única via de acesso às Cataratas do Iguaçu.

Uma das medidas adotada pela direção do PNI é o cadastramento de todos os veículos que adentrarem ao parque. A medida atinge os fornecedores do Hotel das Cataratas e concessionárias e, principalmente, os táxis e transportadores de hóspedes do hotel. A direção salienta que está procurando os fornecedores para junto buscarem um melhor horário de abastecimento sem que haja prejuízos de ambas as partes.

Nos próximos meses, o antigo portão de entrada do parque deverá ser revitalizado. Há previsão de serem instaladas cancelas eletrônicas e câmeras de monitoramento. Com essas medidas somente os veículos cadastrados e ou autorizados poderão entrar no parque.Está sendo planejada uma campanha de divulgação publicitária, alertando os motoristas para respeitarem o limite de velocidade e um curso de capacitação dos motoristas, utilizando a estrutura da escola-parque. Os motoristas receberão noções de biologia, impacto ambiental e direção defensiva.

“Os motoristas têm de estar conscientes de que a rodovia que adentra o parque é uma estrada diferenciada. Cabe ao Ibama preservar as espécies que aqui habitam”, disse o chefe do PNI, Jorge Pegoraro.

A jaguatirica atropelada estava portando coleira de monitoramento pelo setor de manejo do parque desde 1999. O setor vai apurar os responsáveis pelo atropelamento. Os motoristas que entraram naquela hora no parque deverão ser ouvidos pela administração. Nos próximos dias a direção vai se reunir com setores de turismo de Foz do Iguaçu para explicar as novas medidas. A proposta é de buscar soluções conjuntas para minimizar o impacto do tráfego no interior do PNI. “Acreditamos que o setor turístico preza pela conservação do parque e queremos dividir com ele a responsabilidade de protegê-lo”, diz o chefe do parque.

Desde dezembro de 2000, quando o serviço de entrada e recepção dos visitantes foi concessionado, ficou proibida a entrada de carros particulares no interior do parque. O trajeto da entrada do parque até as quedas e outros locais de visitação é feito por sistema de transporte próprio da unidade.

De acordo com as estatísticas de animais atropelados do setor de manejo, em 1999 foram registrados 18 casos. Em 2000 o total de casos subiu para 31, em 2001, 20 e no ano passado 16 registros.

A proibição do tráfego de carros particulares e a determinação do limite de velocidade estão previstos no plano de manejo, documento técnico, que determina as principais diretrizes de administração do PNI. De acordo com o documento, a estrada está situada numa zona de uso intensivo, ou seja, de uso público.

Felino em risco de extinção

A jaguatirica (Leopardus pardalis) é o maior dos gatos-do-mato do Brasil. Vive nas florestas tropicais, na caatinga, nos cerrados e no Pantanal. O felino está na lista de animais ameaçados de extinção do Ibama.

Alimenta-se de pequenos mamíferos (como filhotes de veados, pacas, quatis cutias e preás), aves, répteis (lagartos e pequenas serpentes), anfíbios (rãs) e peixes. A jaguatirica caça à noite. Durante o dia, costuma dormir em ocos de árvores e grutas.

Adapta-se a ambientes degradados, podendo ficar bem próximo às cidades, onde pode alimentar-se de carniça. A gestação da jaguatirica pode variar de 70 a 85 dias e geralmente nasce apenas um filhote. Seu desmame ocorre entre 8 e 10 semanas e o crescimento é lento. Tempos atrás era comum encontrar o animal preso em gaiolas ou pequenas jaulas em órgãos da administração federal em Foz do Iguaçu.

Brasil e Argentina em ações conjuntas

Equipes dos parques nacionais do Iguaçu, brasileiro e argentino, desenvolvem operações conjuntas para coibir o corte de palmito, a caça e a pesca no interior das duas unidades que juntas somam 252 mil hectares de áreas protegidas ? o maior conjunto de área verde no Cone Sul. A decisão, implementada a partir deste mês, já havia sido tomada no início do ano pelas administrações dos dois parques ? o Ibama no lado brasileiro e a Administración de Parques Nacionales pelo lado argentino ? com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

A principal preocupação é encontrar a melhor maneira de preservar a integridade e evitar agressões nos dois lados das unidades de conservação. A equipe, formada por sete guardas-parques argentinos, quatro policiais florestais brasileiros e três técnicos do Ibama, iniciou a operação no dia 9 e permaneceu cinco dias entre o Rio Iguaçu e o interior dos dois parques.

Barcos

Para se deslocar, a equipe utilizou três barcos. A operação binacional prendeu três pessoas, apreendeu equipamentos de caça e pesca e desmantelou vários acampamentos.

No lado brasileiro, próximo ao Rio Silva Jardim, duas pessoas foram detidas com 222 cabeças de palmitos e facões. Um homem, residente na Vila Carimã, em Foz do Iguaçu, foi preso num acampamento no meio da selva, na região do Rio Apepu, com três cutias abatidas e uma grande quantidade de peixes.

No acampamento foram encontrados seis girais, dez cevas e doze saleiros, além do couro de um jacaré-do-papo-amarelo e restos de pêlos de paca e cutias. No lado argentino a equipe conseguiu desmontar locais de cevas e saleiros.

A operação fechou diversas picadas no interior do parque, utilizadas para o corte de palmito e caça. Segundo o chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Jorge Pegoraro, a cooperação é prevista no plano de manejo ? documento criado para regulamentar a gestão do PNI.

Rota de fuga

Pegoraro explicou que a divisão geográfica entre os dois parques feito pelo Rio Iguaçu, abre oportunidades para os transgressores ambientais fugirem da fiscalização brasileira para o parque argentino. E acontece o inverso quando há pressão da fiscalização do parque vizinho.

“É o início de um trabalho”, disse. “As operações serão sistemáticas, visando cada vez mais à proteção dos dois parques. Para o ambiente não existem fronteiras e o Rio Iguaçu deve funcionar como um fator de integração entre os dois parques.”

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