Flores comestíveis ganham espaço nos restaurantes

Com a chegada da primavera as flores ficam ainda mais bonitas, e saborosas. Isso mesmo, flores comestíveis. Apesar de no Brasil a utilização dessas iguarias não ser muito comum, as flores já começam a ganhar espaço nas mesas dos restaurantes. Além de deixar o prato muito mais bonito, elas compartilham um sabor diferenciado com os alimentos e são ricas em vitaminas.

Algumas flores como o brócolis, couve-flor e alcachofra são flores comestíveis bastante difundidas no País. Porém, a utilização de espécies como capuchinha, amor-perfeito, rosa, tulipa e violeta começa a ganhar espaço muito lentamente. Prova disso é a pouca produção voltada para esse setor. No Paraná, a produtora rural do Sítio Tucano, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, Marilda do Rocio Pianaro, é uma das poucas que vêm investindo no plantio. Nem a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Estado e as unidade regionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) têm informações de produção de flores comestíveis.

A produtora paranaense – que abandonou a psicologia para investir na propriedade – diz que se interessou pelo assunto porque sempre gostou de flores, e quando descobriu que sua utilização ia além da ornamentação, resolveu apostar no projeto. As mudas e temperos que lideravam a atividade no sítio perderam espaço para capuchinha, uma planta que floresce o ano todo e se adapta facilmente ao ambiente. A espécie, que é produzida em estufas e ao ar livre, totalmente livre de agrotóxicos, hoje abastece hotéis, restaurantes e distribuidoras da capital – a comercialização diária é de quatro caixas com 40 unidades de flores/cada.

Pesquisa

A formanda em Nutrição, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Eliane Bon, pesquisa a capuchinha há mais de um ano. Ela afirma que a flor é fonte de vitaminas C e A. Ela é indicada para uma dieta hipocalórica, pois cada flor tem apenas 1,87 caloria. A pesquisadora destaca outras flores que também podem ser usadas na alimentação: são begônia, borago, crisântemo, tulipa, gerânio, brinco-de-princesa, cravina, lavanda, acácia e alfazema. Estão proibidas em qualquer cardápio a alisso, antúrio, azaléia, copo-de-leite, petúnia, hortênsia, íris, bico-de-papagaio, glicínia e dama-da-noite.

Mercado

Experiente na área, a empresária Annette Heuser, da Ervas Finas Horticultura, que fica em Campo Limpo Paulista, a 60 quilômetros de São Paulo, há mais de dez anos vem apostando no setor. As flores comestíveis representam hoje 10% do faturamento da empresa – uma média de mil caixas com 40 unidades é vendida todos os meses -, que é especialista em ervas aromáticas, minilegumes e folhagens diferenciadas.

A campeã de vendas é a capuchinha com 52%, seguida pelo amor-perfeito (15%) e rosas (11%).

No Paraná, o custo médio da caixa de capuchinha é de R$ 15 com 40 flores. Em São Paulo, a mesma quantidade da flor custa R$ 9,50 e as demais variedades saem por R$ 10,10.

Serviço – Quem quiser mais informações sobre flores comestíveis pode buscar no Sítio Tucano (41) 3292-1663 ou 9977-8080, e na Ervas Finas (11) 4039-1054.

Hotéis e restaurantes como clientes

Os hotéis e restaurantes lideram o consumo de flores comestíveis no Brasil. Existe ainda uma outra demanda, embora pequena, que são os eventos particulares, como festas de empresas e casamentos. Além da decoração, as flores são utilizadas em pratos como saladas, pizzas, mousses, geléias, sopas e peixes, e ainda servem para quebrar com suavidade sabores muito intensos de alguns alimentos.

O proprietário da distribuidora AJ Frutas de Curitiba, Jeison Nagazawa, diz que os clientes que compram flores comestíveis são restaurantes que trabalham com cardápios mais refinados e hotéis de quatro e cinco estrelas. Ele comenta que a procura é variável, mas, em média, gira em torno de dez caixas por semana – quando há um evento particular essa quantidade aumenta. Além do Sítio Tucano, de Campo Largo, o distribuidor também comercializa flores vindas de São Paulo.

Há dois meses, a comerciante Sidnéia Hitomi Bernardi começou a vender flores comestíveis no Mercado Municipal de Curitiba. A decisão de incluir os produtos junto com os hortifrútis aconteceu depois de receber encomendas para atender a um evento. ?Eu tive que trazer tudo de São Paulo, de avião, e ficou muito caro?, falou. Hoje Sidnéia vende apenas a capuchinha porque ainda não encontrou outro fornecedor na cidade.

E essa falta de opções faz com que a rede de hotéis Bourbon vá buscar no estado paulista as flores utilizadas no cardápio do restaurante. A supervisora de gastronomia do hotel, Cristina Polese, afirma que as flores são usadas somente em ocasiões especiais. ?Agora na primavera é que nós investimos mais nesse diferencial?, comentou. Apesar das flores já serem usadas nos pratos oferecidos pelo hotel, ela comenta que muitas pessoas ainda resistem em experimentar a iguaria. (RO)

Atenção na escolha das variedades

Se você ficou curioso para levar as flores para a cozinha, é importante saber que antes de sair colhendo ramalhetes por aí, precisa descobrir quais variedades podem ser utilizadas na culinária. Nem todas as espécies apresentam bom gosto. Existem ainda as variedades tóxicas.

Um importante detalhe é que as flores comestíveis não podem ser cultivadas da mesma forma que as flores ornamentais, que em geral recebem uma grande quantidade de agrotóxicos.

Entre as espécies liberadas para o consumo estão o amor-perfeito, que tem sabor suave que combina com o da alface, além de produzir um belo visual. Já as rosas e violetas são ótimas para sobremesas. As calêndulas podem ser misturadas ao arroz, ao peixe, à sopa, aos queijos, iogurtes e omeletes, conferindo uma coloração semelhante à do açafrão. Os botões do girassol ficam saborosos quando cozidos e servidos como aspargos, enquanto as pétalas também podem ser usadas em saladas.

A capuchinha é mais picante e seu sabor lembra a rúcula ou o agrião. Sua principal indicação é para saladas, mas ela também pode ser utilizada em geléias e como acompanhante de peixes. (RO)

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