Fazendinha convive com o drama da insegurança

A impunidade tomou conta do bairro Fazendinha, em Curitiba. Basta percorrer algumas ruas, principalmente a Raul Pompéia e João Dembinski, próximo ao Terminal da Fazendinha e também ao módulo desativado da Polícia Militar, para encontrar comerciantes e moradores que já foram assaltados. Vítimas ou não, todos são unânimes em dizer que nenhuma autoridade toma providência para restabelecer a segurança local.

O máximo que aconteceu até agora foram promessas não cumpridas. “Polícia tem, mas não se interessa em resolver o problema”, lamenta o gerente do Posto Fazendinha, Guilherme Dieter. O comerciante já perdeu as contas de quantas vezes o seu posto foi assaltado. Esse tipo de ação, geralmente praticada por gangues de rapazes, já faz parte da rotina do bairro.

“A gente vive num clima de tensão”, desabafa a dona da loja Teresa Modas, Teresa Perez Vieira. Embora não tenha sofrido assalto a mão armada, ela conta que, quase todos os dias, entram adolescentes, mulheres e até crianças que descaradamente roubam roupas e acessórios. Segundo ela, a polícia manda o comerciante segurar a pessoa para que eles possam prender. Às vezes, acontece uma ronda policial de 5 ou 10 minutos, mas que não ajuda muito. Conforme relato de Dieter, a PM costuma chegar mais de uma hora depois de o assalto ou furto, somente para preencher o boletim de ocorrência.

O proprietário da Papelaria Linear, Osvaldir Ryszka, conta que por sorte até agora não foi assalto. Porém já presenciou vários deles na redondeza. “Nós, comerciantes, ajudamos a pagar a reforma do módulo policial que está desativado”, revela. Para ele, a situação piorou nos últimos meses.

Tiroteio

Muitas vezes, a ação das gangues é marcada por tiroteios e, mesmo assim, ninguém é punido. A Farmácia Farmais por várias vezes foi cenário de assaltos, mas quando a polícia chegou os ladrões já tinham se dispersado. “A gente trabalha preocupado, mas não tem jeito, pois falta policiamento”, declara o balconista Luiz Antônio.

Diante do descaso, resta aos próprios comerciantes investirem em equipamentos de segurança. Alguns chegam a relatar que há um assalto por dia na região. Exemplo disso foi na última sexta-feira, quando quatro rapazes assaltaram a padaria Ferradura. “Levaram tudo que tinha no caixa, mas ninguém foi preso”, conta o gerente Sérgio Luiz Bolino.

Os marginais não respeitam nem mesmo dias de santos e de confraternização. No Natal do ano passado, os bandidos entraram dentro da casa da família de Sérgio, que chegou a ser seqüestrada por algumas horas. Até hoje, o caso não foi elucidado. Situações que, de acordo com os próprios comerciantes e trabalhadores, fazem parte da rotina.

Policiamento reforçado

Apesar das reclamações de falta de segurança na Fazendinha, o comandante do 13.º Batalhão da Polícia Militar, coronel José Paulo Betes, diz que a polícia está empenhada em atender todas as ocorrências. E que no bairro há um reforço do efetivo, principalmente próximo ao terminal.

Segundo o coronel, o 13.º BPM, responsável por 22 bairros da zona sul da capital, atende em média 280 ocorrências por dia – a maioria na Cidade Industrial de Curitiba. O efetivo disponível para a região é de cerca de duzentos policias e 45 viaturas. “A Fazendinha é uma área em que a gente tem se dedicado bastante, mas não é a região com maior número de ocorrências”, aponta. Embora os comerciantes se considerem órfãos em termos segurança, o coronel Betes destaca que no local é feito o policiamento modular móvel, que atende principalmente o comércio.

De fato, o módulo está desativado, mas o comandante entende que a ronda policial é mais eficaz. “O que não podemos é colocar um policial para cada estabelecimento. Estamos trabalhando no limite de policiais, o que não significa que a criminalidade esteja aumentando. Pelo contrário, caiu 10% na região”, destaca. A justifica para o atraso de policiais para atender as ocorrências é que, muitas vezes, há outra ocorrência no mesmo momento. O policiamento, segundo ele, aumenta nos horários de pico, entre 18h e 22h, quando as pessoas estão voltando para as suas casas e o comércio está fechando. (JM)

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