Memória

Familiares contam lado pouco conhecido de Zilda Arns

Os quatro filhos e dez netos da médica sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, apresentaram um lado pouco conhecido da oma (avó em alemão) com quem conviveram ao longo dos anos.

Em entrevista coletiva, a família mostrou serenidade apesar da perda de Zilda Arns, durante o terremoto que devastou o Haiti na última terça-feira (dia 12). A morte do pai, Aloysio Bruno Neumann, também foi trágica. Zilda tinha 44 anos quando o marido morreu afogado no mar, aos 46 anos, ao tentar salvar uma jovem.

“Dra. Zilda sempre falava e repetia o Evangelho: somos como o ouro, que precisa passar pelo fogo para ser recuperado”, disse Nelson. “Quando éramos crianças, a mãe dizia para nós rezarmos três Ave-Marias para termos uma boa morte. Ela sempre dizia que queria trabalhar até o fim, que não queria ficar numa cama doente dando trabalho. Assim ela fez: trabalhou até o fim e morreu de pé, trabalhando”, acrescentou Nelson.

“Eu tenho convicção de que a mãe morreu no Haiti para chamar a atenção das pessoas para as crianças do Haiti, o país mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo. Precisamos fazer algo pelas crianças de lá”, afirmou o filho.

Os netos contaram que a avó adorava esportes, tocava canções sem precisar ler partituras e incentivava todos a tocarem instrumentos musicais. “A oma dizia pra gente comer frutas todos os dias. Gostava muito de esportes. Foi campeã de vôlei por dois anos e de tênis de mesa. Ela jogava pingue-pongue melhor que a gente”, disse o neto Eduardo. “Para nós, parece que ela está viajando, como sempre fazia, e daqui a pouco vai voltar”, afirmou Caroline.

Juntos, os familiares cantaram, em português, e recitaram, em alemão, a oração que Zilda fazia antes de cada refeição. “Ao senhor agradecemos, aleluia, o alimento que teremos, aleluia.”

A nora, Licia, contou que Zilda sabia receber bem as pessoas e fazia questão de reunir toda a família em datas especiais na casa da praia. “Ela sempre valorizava qualquer coisa que a gente fizesse. Qualquer sobremesa que a gente fazia ela dizia que era fantástica. Ela era maravilhosa, nós não conseguíamos retribuir”, citou.