Excluídos da história oficial ganham voz

A luta pela terra sempre motivou o surgimento de movimentos sociais. Muitos deles foram importantes para o desenvolvimento do Paraná, mas não são mostrados na história. São lembrados por causa da memória da população e do relato dos próprios participantes do movimento. O resgate dessa história foi o objetivo do seminário Memória Camponesa, realizado ontem, em Curitiba. O evento foi promovido pelo Setor de Ciências Humanas, Artes e Letras do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), além do Centro de Estudos Rurais e Ambientais do Paraná.

O coordenador do seminário e professor de sociologia da UFPR, Osvaldo Heller da Silva, conta que os movimentos sociais foram esquecidos pela história oficial. Essa sempre abordou os fatos com a visão dos nobres, reis e rainhas. ?Na história oficial, o povo não aparece. Queremos mostrar o outro lado da história, que muitas vezes sequer tem nome. O Paraná não seria o que é hoje sem esses movimentos?, afirma.

Durante o seminário, integrantes de diversos movimentos sociais que ocorreram até 1964 fizeram um relato de suas histórias. São pessoas que fizeram parte da Guerrilha de Porecatu (ocorrida na região norte do Estado) e da Revolta dos Colonos do Sudoeste (1957). Esses são dois dos movimentos mais representativos que aconteceram no Paraná. Foram abordados também os temas Sindicalismo Comunista e Sindicalismo Católico. ?É muito importante registrar a fala dos personagens de passagens que ajudaram a construir o nosso Estado. Para que a memória viva não se perca, estamos produzindo um material com tudo o que está sendo discutido e relatado. Este material vai ficar disponível para pesquisas?, revela Silva.

Para o professor, a luta central desses movimentos sociais sempre foi o direito da terra para produzir e sobreviver. Essas mobilizações não se perderam no tempo. Hoje, acontecem com características diferentes. ?Hoje, vivemos um segundo momento destas mesmas lutas. A memória dos movimentos campesinos de mais de 30 anos atrás faz parte dos movimentos contemporâneos. As principais bandeiras continuam as mesmas, como a reforma agrária e o emprego no campo. É importante conhecer a história para construir coisas novas e não cometer os mesmos erros?, opina Silva.

O seminário Memória Camponesa já foi realizado em outros Estados. Na edição paranaense, teve a parceria da Secretaria de Estado da Agricultura e Ministério do Desenvolvimento Agrário, além do apoio de entidades ligadas à luta pela terra.

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