Estrada da Graciosa encanta viajantes e trabalhadores

“Sou igual um peixe. Se sair da água, morre. Se eu sair daqui, se eu sair da serra, eu não sei o que acontece”. A afirmação de quem vai trabalhar todos os dias na Estrada da Graciosa, que corta a Serra do Mar. Sidnei de Paula trabalha desde os 10 anos atendendo os turistas que pegam a estrada histórica. Começou ao lado do pai vendendo milho verde e caldo de cana. Hoje, comanda o quiosque no Recanto Engenheiro Lacerda, o primeiro para quem desce a Estrada da Graciosa.

Oferece mais produtos, mas o caldo de cana e o milho verde continuam com um espaço especial. “A gente trabalha o ano inteiro, quase todos os dias. Fazemos no verão para poder comer no inverno. Fui criado neste ritmo. Eu gosto, faz parte da minha vida”, conta Sidnei. Hoje, o filho mais velho já dá uma ajudinha no trabalho, dando início à terceira geração à frente do negócio da família. Nos finais de semana, a filha mais nova gosta de ficar ao lado do pai no recanto.

Há quase 30 anos, Sidnei e o pai armavam uma lona e vendiam o milho verde e o caldo de cana de maneira improvisada, tendo o carro da família como base para todo o serviço. O pai de Sidnei até mesmo construiu uma máquina para moer a cana. “A estrutura de quiosque, que funciona hoje, veio há uns dez anos. Antes, a gente armava a lona mesmo”, recorda. Hoje, quem for no quiosque, encontra bala de banana, o carro-chefe de quem quer levar uma lembrança do passeio. Tem ainda mandioca chips, banana chips, pastel de diversos sabores, coxinha de aipim, doces… Opção é o que não falta. “A gente trabalha com esta vista maravilhosa, todos os dias”, salienta Sidnei.

De carro ou de bicicleta, um belo passeio!

A Estrada da Graciosa até pode ser a opção de alguns para fugir do pedágio da BR-277. Mas a maioria prefere a estrada para passeio, para trafegar tranquilamente em meio à mata nativa e com paradas para descansar, comer alguma coisa e tirar muitas fotos. A Estrada da Graciosa por si só já é um passeio. No Recanto Engenheiro Lacerda, é comum ver grupos de amigos ou famílias tirando foto com a Serra do Mar ao fundo. Foi o que aconteceu com oito amigos de Curitiba que, pela primeira vez, pegaram a Estrada da Graciosa para chegar até Morretes. Tudo para fazer boiacross no Rio Nhundiaquara. “A gente vem porque é tranquilo, pela paisagem e pela própria estrada”, comenta o analista de sistemas William Pietro Dias de Oliveira.

O Recanto Engenheiro Lacerda também foi o ponto de descanso para um casal de ciclistas que saiu de Curitiba para fazer o trajeto de quase 80 quilômetros até Morretes. “É a primeira vez que estamos fazendo este trajeto pela Estrada da Graciosa com a bicicleta. É a primeira vez também que fazemos um circuito maior do que estamos acostumados”, conta o autônomo Aroldo Assunção. Ele e a esposa Patrícia Kohler fizeram o trajeto, mas apenas a ida. A volta estava garantida com a carona de carro dos familiares. Todos iriam se reunir para almoçar em Morretes. “Saímos cinco horas da manhã de casa. Aqui existe uma beleza natural que compensa tudo”, afirma Patrícia. O casal, até então, tinha descido a Estrada da Graciosa apenas uma vez, de carro.

Rota alternativa

Para quem sai de Curitiba, o caminho mais tradicional para acessar a Estrada da Graciosa é a partir da BR-116, no sentido São Paulo. Quem quiser uma alternativa, basta pegar a estrada a partir do Contorno Leste, em uma trincheira que indica a cidade de Morretes. O acesso fica no km 73,2 no Contorno Leste, na região do município de Quatro Barras, e a estrada tem o nome de PR-09 nesta localidade.

O caminho alternativo tem parte do trecho original da Estrada da Graciosa. Além disto, o trajeto possui paisagem bucólicas, com pastos, animais e casas antigas, além de oratórios e igrejinhas. Quem passa por ali ainda encontra a Ponte dos Arcos e a ,trilha original da Graciosa até a Casa de Pedra, ruínas de uma casa que teve importância durante o uso da Estrada da Graciosa antes da inauguração da ferrovia entre Curitiba e Paranaguá. Ela servia como parada durante o trajeto.

O turista pode aproveitar a passagem pelos ranchos para fazer refeições no campo. Há ainda oferta de produtos orgânicos e outros vindos da agricultura familiar. O cruzamento com a parte mais conhecida da Estrada da Graciosa, pouco antes da descida pela Serra do Mar, acontece metros antes do Recanto Engenheiro Lacerda.

Lineu Filho
Sidnei: “Se eu sair daqui, se eu sair da serra, não sei o que acontece.”
Lineu Filho
Amigos foram fazer boiacross em Morretes.
Lineu Filho
Aroldo e Patrícia: primeira vez de bicicleta.
Lineu Filho
Caminho alternativo.