Escritor se acorrenta em protesto contra censura

A luta do escritor Austregésilo Carrano Bueno para não ter sua voz contra os manicômios calada continua. Ontem, mais uma vez, ele se acorrentou e amordaçou em frente ao prédio do Tribunal de Justiça (TJ), em Curitiba. Dessa vez, o escritor reclama de uma decisão da 1.ª Câmara Cível do TJ, datada da última segunda-feira, que confirmou uma decisão anterior, quando em 30 de abril o desembargador Vidal Coelho proibiu a venda do livro O Canto dos Malditos. A alegação é de que a obra atenta contra a memória do médico psiquiatra Alô Guimarães, que atendeu Carrano, quando este esteve internado. No livro Carrano conta como supostamente o médico usava seus pacientes, inclusive ele, como cobaias de eletrochoques.

Agora o escritor pretende, através da Editora Rocco, recorrer da decisão indo até as últimas conseqüências jurídicas. Na semana passada, Carrano fez protesto semelhante em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. O livro de Carrano está na 14.ª edição, já vendendo mais de 30 mil cópias.

O escritor denunciou que sua obra vem tendo a venda proibida por outros fatores além dos jurídicos. “Existem empresários ligados a três grandes shoppings de Curitiba que estão por trás disso”, confidenciou. “Por isso só acredito no STF.”

Carrano contou que foi o primeiro a mover ação indenizatória contra erro médico psiquiátrico no Brasil, em 1998. A ação foi indeferida. Em 1999, a situação se inverteu e Carrano foi obrigado a pagar R$ 60 mil ao Hospital Bom Retiro, que era réu na primeira ação. No mês que vem, outra ação contra Carrano será julgada. Dessa vez ele poderá ficar sujeito a pagar uma multa de R$ 5 mil cada vez que citar o nome das pessoas ou entidades envolvidas no caso. “É a prova que não há interesse em que se fale sobre os manicômios. Eles são a “galinha dos ovos de ouro? do Ministério da Saúde. Cerca de 70 mil pessoas ainda estão em 257 instituições em todo Brasil, movimentando meio bilhão de reais”, criticou o escritor.

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