Escolas adotam ensino religioso à luz da ciência

A cada dia que passa, é discutida a importância da formação dos alunos nas escolas. Não só na educação, mas também na formação para a vida. Os estabelecimentos de ensino acabam sendo responsabilizados por isso também (além da educação em casa), pois os estudantes passam um bom tempo na escola. Em muitas instituições particulares, essa parte está a cargo das aulas de ensino religioso. Passar os ensinamentos da Bíblia ou discutir sobre o fenômeno da religião contribuem para a percepção de valores nas crianças.

Algumas escolas privadas são muito ligadas à religião, seguindo a orientação e administradas por padres, irmãs e organizações religiosas. Apesar disso, algumas estão deixando de pregar a religião que seguem dentro das salas de aula. “Houve a percepção, em vários países, de estudar a ciência religiosa e o aprofundamento na investigação desse fenômeno nos últimos anos. Nos desfazemos daquele tabu de não discutir a religião”, explica o professor Leonam Souza Braga, coordenador da área de ensino religioso do Colégio Marista Santa Maria, em Curitiba.

Na escola em que ele trabalha, os alunos não têm mais aula de religião, com função de ensinar o catolicismo. Esse ensinamento está delegado à pastoral do colégio, que funciona no contra – turno das aulas. “Os alunos que quiserem optar por seguir a religião católica participam da pastoral, que oferece retiros, encontros e a catequese”, comenta Braga.

Dentro da sala de aula, do primeiro ano do ensino fundamental até o último do médio, os alunos têm o ensino religioso como componente curricular. Eles estudam a formação das tradições religiosas que participam das descendências étnicas em Curitiba, as culturas religiosas que formaram a brasileira, as grandes religiões do mundo, a dimensão pessoal, novas seitas que estão surgindo, a existencialidade, a morte, o compromisso social, entre outras. “A intenção é proporcionar a alfabetização religiosa, perceber que essa cultura anda conforme a vida. Isso é inerente do ser humano, que passa a necessitar da fé para se manter”, opina Braga.

De acordo com ele, o estudante sai da escola preparado para ter as respostas sobre suas questões pessoais: “Toda aprendizagem de alguma forma contribui para nortear a vida, mas o ensino religioso oferece a habilidade que facilita a vida do aluno. Assim, ele lidará melhor com o fenômeno religioso. Poderá mudar o meio onde está a partir desse conhecimento”, avalia.

É a mesma opinião do pastor Joani Alves Ferreira Júnior, responsável pelo departamento de ensino religioso da Colégio Adventista Curitibano do Bom Retiro: “Nós não pregamos a nossa religião. A educação religiosa se propõe em ensinar a Bíblia e pretende passar valores aos alunos. Quem conhece a Bíblia, conhece os princípios da ética e da moral. A criança cresce com sabedoria diferente daqueles que não passaram por isso”, considera. “Nas aulas, são discutidas perguntas que todas as religiões fazem. As respostas estão nos versos da Bíblia e a criança tira as suas próprias conclusões.”

Para a aluna do Colégio Adventista Andreza Monique, de 17 anos, os valores repassados serão levados para o resto da vida: “Eu estudo aqui desde pequena e aprendi a respeitar a mim mesma e aos outros também”. A estudante Mayara Gonçalves, de 10 anos, aconselharia outras crianças a freqüentar as aulas de ensino religioso: “Sempre lembrarei disso. Ajuda também a saber de tudo”, acredita.

Confusão

Ferreira admite que é possível criar confusão na cabeça da criança que, por qualquer motivo, precisa mudar de escola e vai para outra com princípios religiosos diferentes: “A vida é rodada pelo fenômeno religioso, que constrói aquilo que vamos acreditar. Cada um tem uma experiência ímpar”, opina o pastor. “A intenção é não criar o choque. Isso não depende só da escola, mas também da formação familiar e de experiências pessoais”, justifica Braga, do Santa Maria.

Na rede pública faltam professores

“A escola estadual não tem a preocupação de levar valores aos alunos. Não é o objetivo da disciplina”, afirma Lilian Ianke Leite, coordenadora do Ensino Fundamental da Secretaria de Estado da Educação, contrariando a visão dos colégios particulares. “O fenômeno religioso faz parte do cotidiano e a escola não pode ficar à margem dessa discussão, mas sem pregar qualquer religião”, avalia. Nas escolas, são trabalhados alguns eixos dentro do assunto, como as tradições religiosas, os ritos e as formações históricas. “Isso contribui para a diminuição dos preconceitos em relação a outras religiões”, avalia a coordenadora.

A disciplina de ensino religioso é opcional na rede de ensino no Estado. A Lei 9.475/97, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, determina, no artigo 33, que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante de formação básica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. Depois da normatização do Conselho Estadual de Educação, foi determinado que o ensino religioso fosse trabalhado na 5.ª série, a partir de 2002. A grande dificuldade nas escolas públicas é a disponibilização de professores especializados em ensino religioso, que passaram por um curso em 1996. São cerca de 800 para atender mais de duas mil escolas em todo o Paraná.

Assim, os docentes de outras disciplinas, como Filosofia, História e Ciências Sociais, estão provisoriamente suprindo essa necessidade. “Não podemos garantir que será uma aula sem proselitismos por causa disso. Mesmo involuntariamente, esses professores podem passar alguma coisa de suas religiões”, aponta Lilian. Em agosto deste ano haverá um encontro para trabalhar melhor esses professores. A coordenadora conta que, em médio prazo, algumas universidades vão disponibilizar uma licenciatura em ensino religioso, diferente da teologia, que vai atender as escolas do Paraná.

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