A tradição de malhar o Judas no Sábado de Aleluia foi trazida ao Brasil pelos povos portugueses e espanhóis. Atualmente, nas grandes cidades, ela não é tão forte quanto no passado. Porém, em alguns bairros de Curitiba, é mantida de forma persistente e entusiástica pelos moradores. Inicialmente, os bonecos confeccionados à base de argila, palha, serragem e espuma representavam a figura do apóstolo Judas Iscariotes. Porém, com o passar dos anos, outras personagens foram substituindo o traidor de Jesus Cristo.
Na maioria das vezes, são autoridades políticas ou pessoas que de alguma forma se encontram em contradição com a lei. No ano passado, a grande maioria dos bonecos vistos pelas ruas da capital paranaense tinham a cara de personalidades estrangeiras, como Osama bin Laden, Saddam Hussein e o presidente dos Estados Unidos George W. Bush. Este ano, foram malhados brasileiros, sendo os preferidos o presidente Lula, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, o publicitário Marcos Valério e o ex-presidente da Câmara Federal Severino Cavalcante.
"Os quatro são os atuais traidores da Pátria e merecem ser malhados", afirmou o marceneiro Ronaldo Lameki, que confeccionou um boneco para cada uma das pessoas citadas e organizou a malhação na travessa Taboão, no bairro Taboão. Na família de Ronaldo, a tradição é mantida há mais de cinqüenta anos e passada de pai para filho. "Meu pai malhava o Judas quando criança, passou para mim a tradição da brincadeira e agora eu não a deixo morrer, todos os anos ensinando-a às crianças do bairro onde moro", contou.
Já na Rua Nicolau José Gravina, no bairro Santa Felicidade, o boneco de Judas amanheceu o dia de ontem pendurado em uma árvore em frente à casa do casal Hilário e Regina Gullin. Eles confeccionaram o boneco na sexta-feira, com o objetivo de agradar o filho Norton, de 3 anos de idade, e também outras crianças moradoras da rua. O boneco representava todos os políticos envolvidos com o esquema do mensalão.
"Foi uma loucura! Passamos a Sexta-feira Santa inteira preparando o boneco. Para que ele ficasse pronto, saímos pedindo roupas e sapatos velhos a familiares e vizinhos. É trabalhoso, mas também muito divertido. Nunca deixamos de fazer, pois nosso filho adora. Além de participar da malhação, é ele quem pinta o rosto do boneco e ajuda a vesti-lo", afirmaram. O menino aprecia tanto a brincadeira que até ganhou dos pais um boneco de judas em miniatura, do qual não se desgruda e o qual não permite que ninguém malhe.