Encenação em Curitiba celebra Sexta-feira Santa

Um Jesus Cristo com pontos na cabeça e algumas escoriações pelo corpo se apresentou ontem, para um público de mais de 20 mil pessoas, na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba. O Jesus em questão era o ator César Kuzma, que, pela primeira vez, assumiu o papel central do tradicional Grupo Lanteri, que há 27 anos celebra a Sexta-feira Santa encenando a Paixão de Cristo. E os ferimentos de Kuzma não eram uma maneira de dar mais veracidade à interpretação. Na quinta-feira, durante o ensaio, enquanto carregava a cruz, César caiu de uma altura de 4 metros. Ironicamente, a cruz caiu em sua cabeça, provocando o ferimento.

?Apesar do que aconteceu ontem, estou preparadíssimo para enfrentar essa platéia?, declarou horas antes do espetáculo começar um César ansioso, mas ao mesmo tempo feliz com o desafio. Ele garantiu que os ferimentos não fizeram passar pela sua cabeça a idéia de desistir. ?Em 2004 fiz algumas pequenas cenas como Jesus e este ano vou interpretar Cristo praticamente durante todo o espetáculo. Não teria como desistir agora.?

Segundo o diretor da peça, Aparecido Isabel Massi, Kuzma se preparou por três anos. ?Não é uma questão de barba e cabelo para fazer Jesus. César tem o que é preciso como ator para fazer o papel?, diz Massi. Até o ano passado, quem interpretava o Messias era o próprio Massi, que ainda apareceu como Jesus em duas cenas. ?É uma questão de inteligência saber quando sair. Além disso, Jesus de barba branca não convence ninguém?, brinca, dizendo não estar triste por deixar de representar o papel central na Paixão. Massi fez Cristo desde que a montagem começou, em 1978.

Produção

Massi conta que a produção da montagem da Paixão de Cristo, que este ano contou com alguns cenários mais elaborados e algumas cenas a mais com cavalos, começou em novembro do ano passado. ?A montagem dos cenários começa depois do Ano Novo e os ensaios começam logo após o Carnaval?, explica. Quanto a dirigir cerca de 800 pessoas, o diretor diz que antes de tudo é preciso calma e princípios de administração básica. ?Dividimos essas pessoas todas em grupos menores, de aproximadamente 40 componentes. Quem se destaca, ganha os papéis principais.?

No Lanteri, exceto o ator que interpreta Jesus, os atores são mudados anualmente. ?Às vezes abrimos uma exceção e algum ator faz o mesmo papel duas vezes?, diz Massi. Mas principalmente as mulheres, que são aproximadamente 70% dos integrantes do grupo, fazem a alternância. ?Damos chances para todos participarem.?

Massi comenta que mesmo em se tratando de uma peça sobre Cristo, às vezes precisa administrar egos, como numa companhia de teatro profissional. ?Por isso todo mundo aqui deve dar uma de Jesus e se colocar na mesma posição de seus semelhantes, não interessa o papel. Assim, ficam sabendo como o trabalho de todos é difícil.?

Novidades

Para 2006, Massi, que também escreve o roteiro da montagem, antecipa algumas mudanças. ?O roteiro novo deverá ser baseado todo no Evangelho de João, que era o mais poeta dos apóstolos. Quero mostrar o santo e transformá-lo em narrador, já velho. Enquanto ele escreve e conta a história, a Paixão vai acontecendo no palco.?

Procissão cênica no centro de Antonina

Foram mais de 250 figurantes e 30 atores, entre eles os globais Leonardo Mijiorin e Letícia Sabatella, no espetáculo teatral ?Paixão de Cristo Via Sacra?, uma espécie de procissão cênica que ocorreu ontem, pelas ruas do centro histórico de Antonina. Segundo o secretário de Cultura, Rafael Camargo, o evento fez parte do programa de recuperação das tradições culturais da cidade, visando resgatar os festejos religiosos.

A paramentação e os figurinos foram todos confeccionados no estilo caiçara, com materiais que geralmente não são usados para coisa alguma, a não ser o artesanato, como juta, casca de ostra, de bacucu, cipó, fibra da bananeira, etc., que fazem parte do universo rústico do litoral paranaense. Remeteu aos paramentos indígenas, mas imitando os figurinos da época de Cristo.

A iluminação do espetáculo-procissão foi toda feita com aproximadamente 250 tochas. Para isso, toda as luminárias das ruas do centro histórico foram apagadas e, à medida que a procissão foi passando, alguns técnicos foram acendendo-as.

Segundo Camargo, o objetivo principal da procissão cênica foi, além do próprio espetáculo e da consagração religiosa, criar eventos baseados nas tradições antoninenses, melhorar os já tradicionais, como a Festa da Padroeira, aproveitar os materiais abundantes na região e que normalmente são descartados, como a fibra da bananeira, e atrair público continuamente para a cidade, ?oferecendo para esse público a qualidade cultural da nossa terra?. 

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