Emater promove mudanças em Morretes

O município de Morretes já foi o maior produtor de gengibre do mundo. Hoje, subsistindo de alguns poucos produtos que têm finalidade artesanal, a cidade busca, através da introdução da agricultura orgânica, voltar ao patamar de exportadora da especiaria, que é apreciada na Europa e Ásia como tempero e matéria-prima para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos. Além disso, outras culturas, como a de banana, de cachaça e até mesmo de artesanato, estão se beneficiando da utilização de técnicas agrícolas que não agridem a natureza.

?Estou pagando minhas dívidas que fiz com a agricultura convencional com a orgânica?, afirma Cícero Moreira dos Santos, pequeno agricultor, que há dez anos utiliza sua propriedade para plantar hortaliças, que hoje é o principal nicho de cultura da cidade. Depois que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater), iniciou treinamentos em criação orgânica no município, os ganhos de cerca de 600 pequenos produtores mudaram radicalmente.

?Enquanto numa área de plantação convencional de gengibre se gasta de R$ 18 a 22 mil por hectare, numa orgânica o preço não ultrapassa os R$ 4 mil?, explica a engenheira agrônoma Ruth Pires. Além de agredir menos o meio ambiente e os próprios produtores, que não precisam mais lidar com agrotóxicos, esse tipo de cultura é muito mais rentável devido à grande procura por orgânicos por parte dos europeus. ?Enquanto o preço do produto convencional não ultrapassa os R$ 0,80, a dos orgânicos passa dos R$ 3?, revela Ruth. Com isso, agricultores como Cícero estão tentando reviver o esplendor da cidade quando o assunto é gengibre. ?Hoje a maioria dos produtos que planto é exportado para a França?, conta o agricultor dono de apenas 16 hectares provenientes de um assentamento de sem terra.

Banana

Outro produto típico que mantém a maioria dos produtores locais é a banana. ?Como em quase todo litoral paranaense, esse é um produto de onde se aproveita quase tudo. A banana é da mais alta importância social para a região. Além da fruta in natura, que é vendida principalmente em Curitiba, existe a produção artesanal de balas, doces e geléias de banana?, explica o técnico da Emater, Haroldo Ferreira Carvalho.

E como forma de dar condições dos produtores do litoral do Estado competirem com a produção industrial catarinense, o governo do Paraná irá ampliar até junho uma unidade de processamento de banana em Morretes, que dará condições para os produtores utilizarem o excedente da fruta, que hoje é perdido. ?É um investimento de mais de R$ 800 mil que irá proporcionar para os micro-produtores espaço para armazenamento e processamento de outros derivados da banana, que hoje não se pode utilizar?, explica Juarez Santos da Costa, presidente da Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros de Morretes, a Prohorta.

Artesanato ajuda na renda dos pequenos agricultores

Quando se vê dona Ana Armestrong retirando cada um dos cinco tipos de fibra do tronco de bananeira, é difícil acreditar que aquelas tiras irão se transformar nas mais variadas formas de artesanato da região. ?Fazemos desde chapéus, a grande vedete no verão, até chaveiros em série sob encomenda?, revela a artesã, que também é presidente da Associação de Produtores Rurais do Novo Mundo de Saquarema.

Dona Ana começou a confeccionar seus produtos há um ano, assim como a maioria dos artesões de Morretes, e explica que hoje a renda proveniente da venda é uma grande contribuição para os pequenos agricultores da região. ?Fora da temporada participamos de diversas feiras em outras cidades, o que ajuda a popularizar o artesanato de fibra de banana da cidade?, ressalta.

Segundo Ruthe Biudes, extensionista da Emater, até a pouco tempo se utilizava sisal para o artesanato local, mas devido a abundância da banana, a nova fonte de renda já é dominante. ?São mais de 60 famílias que complementam a renda com a atividade e que em pouco tempo poderão se dedicar exclusivamente a esse tipo de confecção?.

Cachaça

Outro produto típico da região que está pegando carona na mania de orgânicos é a cachaça, que até o ano de 2000, sofreu sérias perdas devido à concorrência com as grandes destilarias. ?Atualmente uma das grandes produtoras de cachaça de Morretes está apostando na produção de cachaça orgânica para exportação?, diz Haroldo Ferreira Carvalho. E mesmo quem vive de fazer a bebida de modo artesanal, do mesmo modo que era feito pelos escravos no Brasil colônia, aprova a nova técnica. ?Principalmente os estrangeiros que só compram se a gente garantir que a pinga é de cana orgânica?, conta Marcell Duszczak, proprietário de uma pequena destilaria na cidade. (DD)

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