Deslizamento põe em risco o tráfego na BR-116

O desmoronamento de um barranco no quilômetro 352 da BR-116, nas proximidades dos municípios paulistas de Juquitiba e Miracatu – cerca de 150 quilômetros de Curitiba – pode paralisar totalmente o tráfego na rodovia. O incidente aconteceu na madrugada de ontem e os veículos eram obrigados a desviar pelo acostamento, pois nesse trecho a rodovia é de pista simples. Essa foi a quinta interrupção do tráfego entre São Paulo e Curitiba nos últimos 45 dias. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) monitora o local e afirmou que poderia interditar a via se a chuva continuasse.

No final da manhã de ontem, o congestionamento no sentido São Paulo/Curitiba chegava a 20 quilômetros e a 12 quilômetros no sentido inverso. De acordo com o chefe substituto do núcleo de comunicação social da PRF, José Cassol, a situação era considerada crítica, já que o trecho fica em uma serra, e os motoristas precisam trafegar devagar e com atenção para evitar acidentes. "Meia-pista da estrada está interditada e, por enquanto, é preciso usar o acostamento. Mas existe muita lama e a via está escorregadia", comentou.

No período da manhã, o tráfego era considerado normal na BR, com uma média de 500 veículos/hora nos dois sentidos da pista. Mas isso deveria aumentar no período da tarde e, se a chuva persistisse, Cassol afirmou que a rodovia seria totalmente interditada para que a terra fosse retirada do local. "Isso pode gerar uma espera na fila de 5 horas a 48 horas", falou. Em função disso, a orientação do policial é que os motoristas utilizassem rotas alternativas. Para quem vem de São Paulo para o Paraná a dica da PRF é utilizar as vias Anchieta ou Imigrante, sentido Praia Grande, passando por Itanhaém e Pedro Barros, e pegar o trevo para a BR-116. Já para quem segue para São Paulo a orientação é seguir por Ponta Grossa, passando por Castro e seguindo até Itararé (SP).

De acordo com José Cassol, a liberação da pista aconteceu às 11h55. O trânsito ficou precário, mas fluindo normalmente. Cassol disse que em função da lentidão do tráfego no local do desabamento, no final da tarde havia um congestionamento de cinco quilômetros. Ele afirmou, também, que há a possibilidade de mais deslizamentos de terra, se ocorrerem chuvas fortes.

Capivari

Os trabalhos de recuperação de parte da ponte sobre a represa do Capivari, que desabou há onze dias, continuaram normalmente na manhã de ontem. Um grupo de mergulhadores foi contratado para examinar as condições dos pilares que caíram. De acordo com o engenheiro do Departamento Nacional de Infra-estrutura Terrestre (DNIT), Ronaldo de Almeida Jares, a intenção é verificar se eles tem condições de serem aproveitados na restauração da ponte. "Eles vão filmar o material para vermos se é possível reaproveitar as fundações na nova estrutura que será construída, com concreto e vigas metálicas", explicou.

Já em relação a ponte que está sendo utilizada para escoar o trânsito nos sentidos entre Paraná e São Paulo, Jares falou que os trabalhos de contenção do aterro vão continuar normalmente durante o Carnaval. Na próxima semana darão início aos projetos para as obras definitivas no local. Jares desconsiderou a possibilidade de interromper o tráfego por causa do mau tempo.

Intedições na BR-116 nos últimos 45 dias:

23/12 – Deslizamento de barranco no km 356 em Miracatu. Paralisação no tráfego por 7 horas. Congestionamento de 30 quilômetros

27/12 – Caminhão-tanque bate e explode no km 356,6. Acidente envolve 7 veículos e causa 5 mortes. Interdição de 10 horas. Congestionamento de 50 quilômetros.

28/12 – Remoção do tanque incendiado no km 536,6. Interdição total por 1 hora. Remoção, também de uma barreira no 536,2. Congestionamento de 6 quilômetros.

25/01 – Queda de ponte no km 42,6, em Campina Grande do Sul (PR). Dois caminhões caem na represa do Capivari, deixando 1 morto e 3 feridos. Interdição total de 11 horas. Congestionamento de 60 quilômetros. Uma pista continua interditada.

04/02 – Deslizamento de encosta no km 351,6, em Miracatu. Interdição durou 10 horas. Congestionamento de 30 quilômetros.

Filho de vítima vai processar a União

O desabamento da cabeceira da ponte sobre a represa do Capivari deixou para Zonardi do Nascimento a dor do falecimento do pai, Zonardi José, e as dívidas referentes à carreta e ao caminhão envolvido no acidente, que ainda não estavam pagos e não tinham seguro. Nascimento terá de desembolsar R$ 1,8 mil ao mês por um bom tempo: faltam e 27 prestações do caminhão e cerca de 20 da carreta.

Ele diz que está descontente com o descaso das autoridades responsáveis pela rodovia. "E até agora ninguém me procurou para dizer nada a respeito disso", afirma ele. Segundo Nascimento, esse era o terceiro caminhão do pai, que já havia perdido outros dois por causa de furtos.

Como o pai, Nascimento também é caminhoneiro e afirma que ainda não entrou com processo contra a União porque precisa trabalhar e pagar as contas, mas reiterou que após o Carnaval irá procurar a Justiça. "Vou mover uma ação contra a União, para que sejam ressarcidos os prejuízos materiais e morais?.

As dificuldades financeiras da família estão trazendo outros impedimentos. O irmão mais novo de Nascimento passou no vestibular da Uniandrade e não poderá cursar a faculdade de Enfermagem. Ele diz que foi preciso trancar a matrícula irmão.

Zonardi José, o pai, de 55 anos, havia saído de Piraquara para São Paulo no fatídico dia do acidente, transportando pneus remoldados. No desabamento da ponte, ficou preso na cabine do caminhão submerso na represa e morreu. Foi a única vítima fatal do desabamento.

Problema Nacional

Para o professor de Direito, René Dotti, o governo federal deveria tomar a iniciativa de indenizar a família vítima do desabamento sem que fosse necessário a entrada com processo judicial. "O pagamento pode demorar cerca de dez anos."

Ele afirma que o desabamento é um problema de má conservação das rodovias nacionais. "Há uma falta de ressonância entre o meio político e a sociedade. Uma anestesia da responsabilidade administrativa", diz Dotti. (Rhodrigo Deda)

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