Desde os anos 70s, muito mais que uma praça

A Praça Rui Barbosa foi fundada como tal, mas hoje tem uma vocação bem diferenciada em relação ao ano de 1913, quando teve sua fita inaugural cortada com o nome de Praça da República – ela foi rebatizada como Rui Barbosa nos anos 20s. A localização central, entre as ruas Desembargador Westphalen, 24 de Maio, André de Barros e Pedro Ivo, e a grande extensão – 22.095 metros quadrados – fez dela o principal terminal de coletivos de Curitiba. Enquanto os terminais projetados possuem de 10 a 15 linhas de ônibus, a Rui Barbosa abriga 44, fora as que passam nas estações-tubo adjacentes. Essas características tornam o local movimentado, especialmente nos horários em que as linhas fazem o atendimento da população.

Segundo o coordenador do Projeto Marco Zero e arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Ariel Stelle, a adequação da praça aos pontos de ônibus teve início nos anos 70. ?O Plano Diretor de Curitiba, com o objetivo de descongestionar o trânsito na região mais central, deslocou para a praça o tráfego do centro, concentrando as principais linhas?, explica.

Nos anos 80, com o crescimento da cidade, houve a criação de novas linhas e nos anos 90, com a implantação das estações-tubo e dos ônibus bi-articulados, a vocação se transformou definitivamente, transformando o local num grande terminal, onde as pessoas costumam passar apressadas para pegar o ônibus que as conduzem ao trabalho ou para casa. ?Em curto prazo, a tendência é de que o desenho atual se mantenha, cabendo à Prefeitura a manutenção dos petit pavé (pequenas pedras que formam o piso da praça), a limpeza e o cuidado com a segurança do local?, diz Stelle.

História

À época de sua inauguração, em 1913, a Praça Rui Barbosa tinha uma vocação muito diferente da atual. Como a maioria das praças, ela servia como extensão de lazer. Além do espaço para o passeio, era lá que se armavam os circos quando eles passavam por Curitiba.

A proximidade do Colégio São José e de outras escolas da região fez da praça extensão para as atividades físicas dos estudantes. Também era bastante utilizada pela a população para jogos de futebol. Como abrigava também um quartel, a praça servia para manifestações cívicas e ligadas ao cerimonial militar.

Ela foi inaugurada em 1913 e já passou por diversas reformas, sendo a maior delas em 1997, quando passou a abrigar a Rua da Cidadania da Matriz.

No século XIX, local era um grande pátio

Onde hoje existe a Praça Rui Barbosa, no século XIX havia um grande pátio afastado da cidade, conhecido como Campo da Cruz das Almas ou Campo do Olho D?água dos Sapos, situado atrás da Rua da Entrada, hoje Emiliano Perneta.

A abundância de água no local fez com que o engenheiro Antônio Rebouças, em 1871, durante o governo de Venâncio Lisboa, canalizasse a farta água através de um sistema de cobre, levando-a até o chafariz da Praça Zacarias.

À época, o chafariz não servia apenas de ornamento ao local, mas também de fonte de água limpa para a população, pois o sistema de canalização nas casas era precário. Em 1976, essa área fornecedora de água foi denominada Largo do Muricy. ?Foi uma homenagem ao Doutor Muricy, médico responsável pela implantação da Santa Casa de Misericórdia, que fica na André de Barros?, explica o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Valério Hoerner Júnior, autor de vários livros que contam a história de Curitiba.

O título de praça veio apenas em 1913, inicialmente como Praça da República e posteriormente, nos anos 20, como Praça Rui Barbosa. ?A Praça Rui Barbosa era muito mais uma área destinada à instalação de circos e parques de diversão do que uma praça em si, destinada a passeios ou como alternativa de simples lazer?, diz o professor.

A vocação de praça, no sentido literal da palavra, veio nos anos 50, quando o então prefeito Ney Braga fez um belo trabalho de revitalização, instalando o chafariz retirado do local na última intervenção na praça, nos anos 90, adaptando-a definitivamente ao modelo de um terminal. Hoje, dessa época, há apenas um busto em homenagem ao professor Alfredo Parodi, datado de 20 de outubro de 1951. (GR)

Falta de segurança foi amenizada

A moradora de um edifício nos arredores da Praça Rui Barbosa, Enny de Siqueira Cabral, lembra com saudosismo da época em que os bancos da praça serviam de ponto de encontro de namorados, na época em que os bondes eram o meio de transporte mais comum da cidade.

?Moro aqui há trinta anos, mas antes disso freqüentava a praça com o meu então namorado, que virou marido. Ela era cercada por casas e as pessoas se encontravam ao final do dia e nos finais de semana para conversar?, diz. Ela acompanhou a transformação da praça com o advento do progresso, e conta que hoje não costuma mais passear no local, pois a área se transformou em verdadeiro terminal. ?Hoje saio de carro durante o dia, mas a gente ouve falar que o local já não é mais tão seguro.? Para o pipoqueiro Emerson Macedo Batista, a falta de segurança foi amenizada no último ano, com a melhora da circulação da Guarda Municipal. ?Hoje, o cuidado com a segurança é maior?, garante.

A telefonista Érica Vieira concorda com a melhora na segurança do local, por onde costuma passar todos os dias para fazer uso do transporte coletivo. ?Durante a semana é tranqüilo, especialmente durante o dia. Também tenho notado um melhor cuidado com a limpeza?, afirma.

O aposentado Arnoldo Henning, que costuma passar as tardes sentado em um dos bancos da praça aguardando o horário de visita à esposa, internada na Santa Casa, também diz que a praça é segura. ?A praça está diferente do que há 25 anos, quando vinha passear e comer pipoca. Mas sento aqui tranqüilo e pouco vejo de anormal.?

A Guarda Municipal é a responsável pela área e, segundo o guarda Valdeser Camargo, a ronda é feita das 7h às 18h sempre por uma dupla de guardas. ?À noite e nos finais de semana, há guardas de plantão. O que temos notado é que as ocorrências são poucas?, diz. O comerciante Lauro Gesser, que tem um box no Mercado Municipal, diz que as pequenas ocorrências acontecem porque a praça sempre tem o que chama de malandros circulando nos seus arredores. ?Sei que há policiamento, mas ele pode melhorar. Esses dias um garoto arrancou a bolsa de uma senhora e terminou morto por atropelamento ao tentar fugir atravessando a André de Barros?, conta. (GR)

Voltar ao topo