Desastre de trem prejudica turismo na Serra do Mar

O embargo da ferrovia que liga Curitiba ao litoral do Estado, motivado por um acidente com 35 vagões de uma composição da América Latina Logística (ALL) na última segunda-feira, está causando prejuízos também a terceiros. A empresa Serra Verde Express, que opera com tráfego de passageiros pela mesma via férrea, teve suas atividades interrompidas. Técnicos da empresa ainda não calcularam o valor exato do prejuízo com a interrupção, mas numa análise preliminar, as perdas foram estimadas em R$ 500 mil.

Segundo a gerente de marketing da Serra Verde Express, Anelise Araújo, num primeiro momento a empresa está pensando em atender seus clientes. Entre reservas e pré-reservas, já havia seis mil intenções de viagem para o mês de julho. Ela explicou que as pessoas que já tinham bilhetes comprados devem comparecer à sede da empresa: “Eles deverão levar o bilhete, e então receberão o reembolso depositado no banco em sete dias. Há também a opção de trocar a data da viagem”, explicou.

Julho é o mês com o segundo maior movimento de viagens de trem e litorina até Morretes ou Paranaguá, perdendo apenas para janeiro. Em julho do ano passado, 15 mil pessoas desceram a Serra do Mar de trem. Até o dia 18 deste mês, um dia antes do acidente com o trem da ALL na ponte do Rio São João, 7,5 mil pessoas já haviam feito a viagem.

Anelise lembrou que, para se calcular os prejuízos da empresa, deve ser analisada a perda com os esforços de marketing e o pagamento fixo que é feito à Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) pela concessão. “Primeiro queremos satisfazer nosso clientes, mas a possibilidade de pedido de indenização não está descartada. Nosso departamento jurídico ainda está analisando essa hipótese”, afirmou.

O secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Luiz Eduardo Cheida, assina hoje uma resolução, chamando vários órgãos a apresentarem exigências operacionais que serão feitas à ALL na assinatura do termo de ajustamento. A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Sema) só irá retirar o embargo da ferrovia quando a ALL assinar esse termo.

Segundo a empresa, a reconstrução do trecho afetado pelo acidente deve levar dez dias. Ontem, apesar do tempo ter melhorado, o trabalho dos técnicos da ALL permaneceu no mesmo ritmo dos dias anteriores. Já os técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) acreditam que esse prazo deva ser maior.

CPI

O senador paranaense Flávio Arns (PT) informou que apresentará requerimento solicitando que o Senado Federal acompanhe a situação das ferrovias no Paraná. A solicitação será feita para as comissões de Infra-estrutura e Assuntos Sociais e para a Subcomissão do Meio Ambiente. “O Senado pode colaborar neste processo de investigação, realizando audiências públicas para que os esclarecimentos sejam prestados”, explicou. Além do acompanhamento pelas comissões, Arns quer coletar assinaturas para a criação de uma CPI que investigue as dúvidas que estão sendo levantadas sobre a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

“É inaceitável que não exista o envolvimento da ANTT. Não foram tomadas as providências necessárias para evitar que desastres como este se repitam. Não basta alertar sobre os perigos, é preciso que haja mais rigor por parte da agência, que deve exigir que as concessionárias conservem o modal. Esta omissão não pode acontecer”, criticou.

Cidadãos pedem passarela; ALL faz cerca

Os moradores das Moradias Pantanal, no Boqueirão, continuam reivindicando a construção de uma passarela. Para trabalhar ou ir à escola, eles precisam atravessar o pátio de manobras dos trens da América Latina Logística (ALL). Vários acidentes já ocorreram e, nos últimos nove meses, duas crianças perderam parte da perna. No início do mês, os moradores pediram ajuda ao governo do Estado. Segundo o secretário Especial de Relações com a Comunidade, Milton Buabssi, será marcada uma reunião entre a ALL e a Prefeitura de Curitiba para solucionar o problema.

A Moradias Pantanal é uma área irregular, e para sair do bairro os moradores só têm duas opções. Umas delas é andar vários quilômetros até um viaduto, e a outra é atravessar 17 trilhos, onde ficam estacionados os trens da ALL. “É triste de ver. Os idosos sobem nas locomotivas. Há até dificuldade para levar as compras do supermercado para casa”, relata a diretora da Escola Estadual Lúcia Bastos, Silvana Maria Cordeiro.

Os acidentes ocorrem durante as manobras. As pessoas sobem na parte onde ficam os engates das locomotivas e, às vezes, são surpreendidas com o movimento. Perdem o equilíbrio e caem sobre o trilho. Foi o que aconteceu com Eluã Ribelato, de 12 anos. Ele voltava da escola, a locomotiva se moveu e ele não tinha onde se segurar. Acabou caindo nos trilhos e perdeu parte da perna direita. Outro acidente mutilou Michael da Silva, de 10 anos. Ele brincava perto dos trens, se desequilibrou e caiu sobre a linha férrea. Um dos vagões passou em cima da sua perna.

Boa parte dos alunos da Escola Estadual Milton Carneiro precisa atravessar o pátio. “Eles vivem se machucando. Batem perna, braço, cabeça. Um deles ficou 15 dias sem ir para a escola. Sem contar os acidentes mais graves”, confirma a diretora Maria da Conceição Corrêa Soares.

Alertados pela comunidade, técnicos da Secretaria Especial de Relações com a Comunidade estiveram no local e constataram o problema. Segundo o secretário, a ALL estaria fazendo um estudo sobre a implantação de uma passarela. “Estamos para receber o documento e vamos marcar um encontro com a Prefeitura e a ALL. As duas devem arcar com os custos da obra”, comenta. A briga dos moradores pela passarela já dura dez anos.

ALL

A ALL alega que, pelo fato de o pátio ser um local privado, não vai instalar a passarela, o que deixaria o local de livre acesso. Entretanto, reconhecendo a necessidade da travessia, a empresa já instalou uma cerca, monitorada 24 horas por dia por seguranças. O objetivo é controlar o tráfego de moradores pelo local. “Essa situação pode até ser mudada caso o Ministério das Cidades regularize áreas de invasão próximas a ferrovias”, afirma o diretor de relações corporativas da ALL Pedro Almeida. (Elizangela Wroniski)

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