Denúncias contra médicos crescem 42% no Paraná

O aumento do número de médicos no mercado de trabalho, muitos com formação de baixa qualidade, é fator que gerou um aumento no número de denúncias no Conselho Regional de Medicina (CRM) no Paraná. A avaliação é do presidente do Sindicato dos Médicos no Estado, Mario Antonio Ferrari, em relação aos dados divulgados no início do ano pelo CRM. O relatório aponta que o número de queixas contra médicos em 2006 foi o maior dos últimos 50 anos.

Foram 699 denúncias, número 42% maior que em 2005. Já as sindicâncias instauradas no ano passado foram 675, 35% a mais que no ano anterior, e acabaram resultando em 113 processos éticos. Dos 36 médicos condenados nos julgamentos, três receberam como punição a suspensão do exercício profissional e nenhum teve a cassação profissional. Para Ferrari, isso é muito preocupante, porque envolve profissionais que lidam com a saúde pública. Por isso, ele destaca que é preciso mobilizar a categoria para questionar a criação de mais escolas sem qualidade. O sindicalista também avalia que o aumento excessivo do número de médicos vai dificultar o trabalho de fiscalização dos conselhos.

Outro problema que também pode ter refletido nesses números é o excesso da carga horária dos médicos. Segundo Ferrari, muitos profissionais desconhecem o Código de Ética da Medicina, que define que cabe ao médico determinar o tempo necessário de atendimento aos pacientes. ?Mas aqueles que trabalham no serviço público muitas vezes são obrigados a cumprir determinação dos gestores públicos, que estabelecem o atendimento de quatro pacientes por hora. Quer dizem, tratam o paciente como uma peça e o médico como a linha de montagem?, comparou.

O pneumologista Gerson Zafalon Martins, que assume hoje a presidência do CRM no Paraná, esclareceu que o número crescente de denúncias mostra que a população está muito mais consciente de seus direitos e cobra uma relação humana do médico. Ele destaca que a grande maioria das denúncias envolvem a relação médico-paciente ou a falta de informação sobre o diagnóstico. O novo presidente do CRM ressalta ainda que é papel da entidade mostrar esses números, bem como revelar a situação de trabalho desses profissionais. Segundo ele, no Brasil atuam 300 mil médicos, que em 2003 realizaram só pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mais de 452 milhões de consultas e mais de três milhões de cirurgias.     

Metas

?Quando falamos desses ?erros? temos que analisar esse universo, onde os médicos estão fazendo muito com a estrutura que existe?, falou. Segundo ele, dos médicos brasileiros, 27,2% realizam três atividades. No Paraná, a jornada tripla também é exercida por 28,7% dos médicos – 4,2% têm mais de seis atividades. A renda mensal desejada pela categoria no Estado, segundo pesquisa feita pelo CRM-PR, é de até US$ 2 mil por 20 horas semanais. Um dado interessante sobre a categoria, salientou Martins, foi a pesquisa do Ibope que revelou que, quando se trata de confiança, os médicos aparecem em primeiro lugar, com 81%, bem longe dos políticos, que ficaram com 8%. ?Mas nossa preocupação é com os 19% que não confiam. E é por essa parcela que temos que se dedicar ainda mais?, afirmou.

Entre as metas para a presidência, Gerson Martins apontou a melhoria e ampliação das condições de trabalho no CRM no Estado, assim como de mais oportunidades para a atualização profissional dos médicos. Quanto às escolas de Medicina, Martins comentou que um decreto do Ministério da Educação irá permitir que o CRM e a Associação dos Médicos Brasileiros atuem na regulação, supervisão e avaliação das instituições de ensino superior.

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