Deficientes visuais penam na faculdade

As dificuldades encontradas pelos deficientes visuais na escola regular também estão presentes na universidade. Os poucos que conseguem chegar a esse nível de ensino sofrem com a falta de material didático especializado, gravado ou em braile, e de preparação dos professores. Além de tudo isso, ainda há a barreira arquitetônica, que causa empecilhos no acesso até a sala de aula.

O professor e advogado Luiz César Trevisan é deficiente visual e concluiu dois cursos de graduação (História e Direito) e duas pós-graduações (educação especial e magistratura) em meio a essas adversidades. Ele acredita que o problema está na falta de profissionais adequados que entendam o universo dos cegos. “Vivemos em um mundo preparado para quem enxerga. É o quadro-negro, o material, as instalações físicas, a biblioteca, entre tantas outras coisas”, afirma.

De acordo com ele, pouquíssimas bibliotecas oferecem livros gravados em fita K7 ou CD e em braile. “O que tem está totalmente desatualizado. Nós também estamos buscando conteúdo e conhecimento. Eu li bastante na faculdade, mas foram livros de literatura ou os que estavam disponíveis. As publicações técnicas do curso não eram encontradas”, explica Trevisan. A saída foi contar com a ajuda de colegas de classe ou contratar pessoas que gravassem os textos para ele estudar.

O advogado avalia que o Brasil está muito atrasado em relação ao tratamento e educação dos deficientes físicos: “Já existem impressoras e programas de computador para facilitar a preparação de materiais em braile. Mas são poucas as universidades que os disponibilizam. Nessas, são os próprios alunos que fazem o material, porque não existem pessoas qualificadas para isso”, comenta Trevisan.

Para ele, a solução passa necessariamente pelo investimento financeiro: “Tendo dinheiro, é possível capacitar professores, comprar impressoras, máquinas de escrever profissionais e gravadores portáteis, facilitando o aprendizado”, opina.

A professora Mônica Adriana Alves, diretora da Escola Osni Macedo Saldanha, vinculada ao Instituto Paranaense de Cegos, revela que a educação oferecida pela escola especial é diferente da aplicada nos estabelecimentos regulares. Os exemplos são os mapas feitos de materiais em relevo, sensíveis ao toque, e um boneco do corpo humano desmontável, para que os estudantes sintam a forma dos órgãos.

Ela acredita que o aluno cego tem um choque de aprendizado quando sai da 4.ª série do ensino fundamental, patamar de limite na escola, e passa para o próximo nível em uma escola regular. “Quando parte para outra escola, encontra muitas dificuldades com material e professores que não dão a devida atenção. O deficiente visual não vai entender o que é explicado no quadro-negro e fica perdido com isso”, declara.

Assistência

Para sanar as dúvidas, professores do instituto dão assistência aos alunos no contraturno da aulas. Mônica acha que a dificuldade na universidade não é novidade para os deficientes, pelos entraves que encontram durante o período escolar. “Ele chega na faculdade já acostumado com isso.”

De acordo com Trevisan, o desempenho do estudante cego não é o mesmo do aluno que enxerga. “Não tem como negar. Os cegos sempre ficam para trás. Formam-se profissionais sem a qualidade necessária. Além disso, não há como trabalhar sem informações, e elas não estão disponíveis com facilidade para nós. Infelizmente, é isso que acontece”, resume o advogado.

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