Crise na saúde atinge doentes renais

O número de transplantes de rins realizados no Brasil subiu 0,2 pontos percentuais na comparação entre 2006 e 2007. No entanto, continua abaixo da média de anos anteriores.

E, para piorar a situação das pessoas que sofrem de doença renal crônica, as clínicas de hemodiálise disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estão superlotadas.

Especialistas estimam que pelo menos 12 milhões de pessoas no Brasil têm ou vão ter a doença. Justamente por isso enfatizam a prevenção, já que é um problema silencioso, que costuma manifestar-se somente na fase crônica.

?A doença crônica dos rins é mais comum do que se imagina. Pelo menos 10% da população adulta têm o problema. E é uma doença que se desenvolve de forma silenciosa. Por isso a importância dos exames preventivos?, explicou o nefrologista e presidente da Fundação Pró-Renal, Miguel Riella. Muitas pessoas descobrem a doença quando já têm sintomas clínicos. No entanto, exames de urina e de sangue periódicos podem prevenir o avanço do problema. O médico explica que estes exames podem evitar o tratamento de hemodiálise ou até mesmo o transplante.

Além da prevenção, Riella lembra que algumas pessoas têm características que as tornam mais propícias a ter doença renal. Por isso precisam redobrar a atenção. ?Quem tem pressão alta, diabetes, é obeso ou tem histórico de doença renal na família corre mais riscos?, afirmou.

Vagas

Além da qualidade de vida, do ponto de vista econômico a prevenção compensa. ?As unidades de diálise são privadas, mas credenciadas aos SUS, e estão no limite da capacidade. E como a porta de entrada dos pacientes é a emergência dos hospitais, muitas vezes as pessoas precisam fazer o tratamento de diálise lá de forma precária por falta de vagas?, explicou o nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Jocemir Lugon.

Dados apresentados pelo médico dão conta que o número de pacientes com doença nos rins aumenta em média 9% ao ano enquanto o número de vagas para diálise permanece estável. ?As unidades foram se ajeitando. Agora não tem mais para onde aumentar. É preciso novas unidades?, explicou. Além disso, afirmou, o preço pago pelo SUS às unidades credenciadas está defasado, o que faz com que os centros não ampliem sua capacidade.

Alternativas de tratamento

O nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Jocemir Lugon, explica que o transplante é uma das alternativas de tratamento. Entretanto, alguns pacientes não têm indicação por causa de outras condições de saúde e o número de órgãos não supre a necessidade de todos.

?Temos excelentes centros de transplantes no Brasil. Mas eles sozinhos não são a solução porque é um problema matemático.

O Brasil faz 20 transplantes para cada um milhão de habitantes por ano. Mas são 160 novos casos para cada um milhão de habitantes por ano?, afirmou o médico. Lugon contou que a Espanha, país que mais realiza transplantes de rins, faz 50 cirurgias por ano para cada um milhão de habitantes.

Falta de expectativa

?Não deixei de comer, beber e nem de pescar. Faço tudo normal?, contou o aposentado Sidnei Chimelli, 63 anos. Com um sorriso no rosto, ele conta que faz hemodiálise há nove meses e que prefere nem pensar em um transplante. ?Não estou esquentando a cabeça. Estou na fila. Mas como é demorado nem espero por isso?, afirmou. Chimelli perdeu um rim há 18 anos e admite que nunca fez exames preventivos. A história da falta de prevenção do aposentado se repete na boca de Rafael Batista da Silva, 31 anos.

O jovem descobriu há três anos que tinha uma doença rara nos rins. E também só soube quanto sentiu inchaços pelo corpo. ?Nunca tinha feito exames preventivos?, lamentou. Silva mora nos Estados Unidos há 15 anos e está há quatro meses em Curitiba. ?Minha mãe vai me doar um rim. Então eu vim ver minha cidade de novo antes da cirurgia?, contou com tristeza.

Outros 240 pacientes que freqüentam a mesma clínica de doenças renais em Curitiba que Silva e Chimelli têm relatos parecidos. A assistente social da clínica, Yara dos Santos Lobo, contou que as cadeiras para tratamento estão sempre lotadas e que sempre há mais pacientes em busca de vagas. ?Parece uma epidemia. O número de doentes renais está aumentando muito?, desabafou.

Sesa destaca ações no Paraná

O superintendente de gestão em Sistemas de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Irvando Luiz Carula, garantiu que no Paraná a saúde pública dá conta dos pacientes com doença renal crônica sem problemas. ?O mais importante é a prevenção e a promoção da saúde. E isso é feito principalmente nas unidades básicas de saúde?, explicou. ?É ali que se suspeita e se faz os primeiros exames?, completou.

Carula afirmou que o Paraná tem, atualmente, 41 centros de atendimento aos pacientes com doença renal crônica. ?Todas as regionais de saúde (são 22) têm pelo menos um. Uma portaria ministerial exige que tenha um serviço para cada 200 mil habitantes?, explicou.

O superintendente afirmou que o principal problema é que ?no acompanhamento básico muitas pessoas deixam de tratar as doenças que podem resultar no problema nos rins?.

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