Crianças: olhos críticos no Brasil e no mundo

Com a celebração do Dia das Crianças, essas crianças decidiram fazer um balanço sobre o mundo em que vivem. Apontaram tudo o que lhes desagrada, aquilo que precisa ser mudado e até deram receitas de como o poder público deve agir para alcançar sucesso nas mudanças que o País precisa.

Conscientes da quantidade de problemas que assolam o Brasil, as crianças têm, sobretudo, esperança. Acreditam piamente que o futuro pode ser muito melhor que o presente: basta força de vontade e trabalho. E como elas fazem a parte delas? Simples, elas afirmam, seguindo os conselhos dos professores e pais: evitando brigas, não aceitando drogas. Porque das drogas, passa-se para a criminalidade e quando menos se espera, surge mais um bandido.

Para elas, o mundo perfeito e no qual elas querem desfrutar o futuro, não pode ter violência, poluição, abandono, drogas, corrupção. Maykon Douglas de Oliveira acrescenta a necessidade de aumentar a segurança e reduzir o número de desempregados. "Mas para que o nosso futuro seja melhor, essas mudanças precisam começar agora", afirma.

O referendo que vai decidir se o comércio de armas de fogo continua ou não no Brasil, também está em pauta nas conversas das crianças. E, seguindo a polêmica que causa no mundo dos adultos, a questão também divide a opinião dos pequenos. Enquanto uma parte das crianças acredita que a proibição das armas vai incrementar o tráfico de armas e o porte ilegal, outros acham que a proibição vai tirar muitas armas de circulação e assim impedir, ao menos, os crimes que ocorrem dentro de casa ou acidentais.

Nem o governo Lula escapou das críticas das crianças. Caroline Stupp resumiu em poucas palavras o que é necessário para um futuro melhor: políticos menos corruptos. "O governo deveria cumprir as promessas que fez durante a campanha", gritou um do fundo da sala. Outro preferiu dizer que o presidente deveria ter economizado o dinheiro gasto na compra do avião presidencial e dar a quantia aos necessitados.

O mensalão também foi lembrado e, inconformadas, as crianças reclamaram que depois de tanta conversa, investigação e até cassação, ninguém realmente pagará pelo que fez.

Esperança

A diretora Andréa Cássia Velho afirma que a esperança é a palavra-chave do educador. No convívio com as crianças, a diretora diz perceber essa vontade de melhorar. Ela afirma que as crianças têm esperança que, para todos esses problemas que foram apontados, há soluções. E elas trazem essas soluções, a maior parte delas bastante simples, seguindo a linha de raciocínio do mundo infantil e que, se aplicadas, seriam bastante eficazes. "Nós acreditamos nessas potencialidades. É nisso que a gente aposta. E ver essas crianças debaterem e mostrarem suas soluções para o mundo, é muito gratificante", afirma Andréa.

Promotora analisa casos

Elizangela Wroniski

A punição aos culpados por crimes contra a infância e juventude em Curitiba ficou mais rápida. A Promotoria de Inquéritos de Curitiba designou ontem uma promotora para cuidar exclusivamente destes casos. Os inquéritos que antes ficavam perdidos em meio aos vinte mil que estão sendo apurados na capital vão ganhar mais agilidade.

Os inquéritos sobre os crimes cometidos contra elas vão trilhar um caminho diferente dentro do Ministério Público, chegando com maior rapidez até a Justiça. A partir de agora, a promotora Carla Morrett Maccarini vai se dedicar exclusivamente ao trabalho.

Ela explica que para cuidar desse tipo de crime é preciso uma sensibilidade muito grande para lidar com a família, que muitas vezes é a própria agressora, e para fazer com que a criança conte do que foi vítima. Junto com ela também vai atuar uma equipe multidisciplinar, com psicólogos e outros profissionais.

A promotora conta que ainda não tem idéia sobre a quantidade de inquéritos em que vai ter que atuar. Os dados devem ser conhecidos dentro de três meses, quando passarem a ser tabulados. Mas já dá para ter uma idéia do trabalho. De janeiro a setembro, a delegacia do Núcleo de Proteção à Crianças e Adolescentes Vítimas de Exploração Sexual e Maus-Tratos (Nucria), que centraliza o trabalho na capital, já atuou ou está atuando em 429 inquéritos. A principal agressão contra elas é o atentado violento ao pudor, abuso sexual, estupros, entre outros. Em seguida, estão as lesões corporais com 74 casos.

O coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e Adolescente, procurador Olympio de Sá Sotto Maior Neto, comenta que o trabalho da promotora não vai apenas agilizar as investigações, mas também vai interromper a rotina de agressões a que algumas crianças e jovens são submetidos.

Para o procurador-geral de justiça, Milton Riquelme de Macedo, a iniciativa do MP também vai incentivar as pessoas a denunciarem os crimes. Explica que os processos vão ganhar mais agilidade e a sociedade vai passar a ver os resultados. Afirma ainda que o passo dado pelo MP serve de incentivo para que a Justiça crie uma vara criminal especializada – hoje existe uma para atender jovens que cometeram delitos, mas não para quem foi vitima.

Serviço: Quem quiser fazer alguma denúncia pode procurar o MP que fica na rua Tibagi, 779. Também é possível procurar o Nucria ou usar o disque-denúncia pelo telefone 181.

Especialista aponta avanços com o ECA

Um adolescente que precisa ser compreendido e respeitado. É assim que a paranaense Marta Tonin, presidente da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), define o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No Dia das Crianças e nas vésperas do estatuto debutar – ele entrou em vigor no dia 14 de outubro de 1990 -, Marta conversou com a reportagem de O Estado e fez uma avaliação da situação da criança e do adolescente no Brasil.

Criada há cerca de três meses, a comissão foi a forma encontrada pela OAB para dar independência aos assuntos da criança e do adolescente dentro do órgão, subsidiar o Conselho Federal com pareceres sobre a temática, fazer campanha para as crianças, elaborar pareceres sobre os projetos de lei na área da criança que estão tramitando no congresso e, sobretudo, divulgar o ECA entre os advogados. "A idéia é estar mais perto das seccionais, capacitar a classe porque é ao advogado a quem cabe a luta pelos direitos humanos. E como não começar esta luta se não pelas crianças?", questiona Marta.

P – Quais foram os avanços trazidos pelo ECA?

R – Posso dizer que nos últimos 15 anos tivemos um avanço gigantesco, fenomenal na área da criança. Mas o ECA é ainda um adolescente, só tem 15 anos, e como todo adolescente precisa ser compreendido, respeitado.

Nosso grande desafio agora é tornar esta lei conhecida pelos gestores municipais sobretudo porque é no município onde acontece as políticas públicas básicas. Mas para isso é preciso ter orçamento. Programas de apoio à família são fundamentais. A família é o primeiro instrumento de socialização e se o estado não garantir programas de atenção a família, não tem como esta família cumprir o seu papel.

P – E qual seria a forma de agilizar estes avanços, tornar as conquistas nesta área mais eficazes?

R – A minha aposta é no município. O gestor local é quem deve se preocupar em garantir as políticas sociais mais básicas. E os direitos primordiais das crianças são a saúde e a educação. Porque se não existirem essas duas coisas, não tem como falar em dignidade. A constituição assegura que as crianças não sejam alvos de violência, exploração. Porque se alguém faz isso hoje, viola os direitos de uma criança, é porque um dia já teve seu direito violado. E daí temos o que se vê hoje: a família abandona, o estado não cumpre o seu papel. É neste ponto que o papel do gestor local é importante.

P – Qual é desafio para o futuro?

R – É preciso garantir oportunidades para as crianças e elas só acontecem se a família, a sociedade e o estado derem prioridade absoluta à questão. É preciso trabalhar a mudança desta mentalidade, fazer que as pessoas entendam que a vida da criança é importante. O grande desafio é este, de estar diante de uma lei de vanguarda e correr atrás para ter um modelo de sociedade compatível ao que a lei fala. (SR)

"Sem terrinha" pedem educação

Joyce Carvalho

Uma comissão formada por 15 "sem terrinha" foi recebida ontem pelo governador em exercício, Orlando Pessuti. Representando as 600 crianças que se reuniram em frente ao Palácio Iguaçu e que estão participando do 6.º Encontro Estadual dos Sem Terrinha, a comissão apresentou uma pauta de reivindicações, incluindo a reforma de salas de aula, construção de escolas em assentamentos e aquisição de equipamentos pedagógicos.

"Vamos levar nossas propostas e mostrar nossos direitos", disse uma das integrantes da comissão, Ana Paula Schons, de 11 anos, antes da reunião. "É uma responsabilidade representar todas as crianças, pois nem todos tiveram a oportunidade de vir", falou Odaiane Cristina de Lima, 13 anos.

As reivindicações apresentadas pela comissão são a construção de escolas em novos assentamentos, com educação infantil até o ensino médio profissionalizante; concurso especial para educadores, que levem em conta as necessidades do campo; reforma e ampliação de salas de aula existentes; aquisição de equipamentos pedagógicos; adequação das estradas até as escolas; melhora do transporte escolar; ampliação e renovação do programa Escola Itinerante, presente em nove acampamentos e que atende mais de 2,4 mil crianças.

A coordenadora de educação no Paraná do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Izabel Grein, explica que houve grandes conquistas com a educação do campo, principalmente com a Escola Itinerante. "Mas está havendo um problema porque muitas crianças estão perdendo a identidade com o campo ao freqüentar escola na cidade. Saem às cinco da manhã de casa e voltam cansadas no final do dia. Defendemos a escola que parta da realidade, com educadores adaptados ao campo, com alunos que tenham orgulho de ser camponeses. Além disso, acabam tendo 100 dias letivos de aulas, no lugar de 200, por causa das chuvas e problemas nos deslocamentos", comenta.

Os sem terrinha também pediram à Pessuti que o Estado ajude o movimento quanto a reforma agrária, pressionando o governo federal. São 8.773 famílias aguardando esse processo em acampamentos no Paraná. Depois do encontro com Pessuti, os sem terrinha fizeram uma caminhada do Palácio Iguaçu até a Catedral de Curitiba, na Praça Tiradentes, onde receberam a bênção para o Dia das Crianças.

Após ouvir os itens da pauta, o governador em exercício assumiu o compromisso de levar todas as solicitações ao secretário da Educação, Maurício Requião, e ao governador Roberto Requião. "Vamos encontrar os melhores mecanismos para atender o que foi solicitado. O governador Requião não está apenas envolvido com este assunto, mas totalmente comprometido com as reivindicações que estão sendo feitas", enfatizou.

Hoje, elas vão discutir o Estatuto da Criança e do Adolescente, além de participar de oficinas de agroecologia, cultura, expressão, jogos interativos e cooperativos. O 6.º Encontro Estadual dos Sem Terrinha está sendo realizado no parque Newton Freire Maia, em Quatro Barras, Região Metropolitana de Curitiba.

Diversão para todos os gostos

Ligia Martoni

O Dia das Crianças pede diversão e, por isso, pais que pretendem presentear os filhos com brincadeiras devem lotar hoje shoppings e centros de diversões infantis de Curitiba. Uma série de eventos está programada para a criançada.

No Shopping Novo Batel, uma programação especial tematizada no universo country vai oferecer passeios de pônei e tiro ao alvo. Já no Park Shopping Barigüi, o espaço Arena Nick oferecerá provas e até a oportunidade de ser DJ por um dia, ou de se transformar em um cientista junto com a turma do canal de desenhos Nick, como o personagem Bob Esponja.

No Crystal Plaza, a diversão vai ser de circo. Uma arena montada no centro de eventos do shopping vai possibilitar às crianças fazer mágicas e malabares. Para quem preferir ficar com água na boca, a pedida vai ficar por conta da programação do Shopping Müller, que montou uma casa de doces para a criançada se lambuzar e aprender com oficinas de embalagem e quebra-cabeça gigante.

Brincadeiras

As crianças mais agitadas têm a opção de comemorar a data nos centros de diversão especializados, equipados principalmente para brincadeiras variadas e em grupo. Um desse locais, o Divert Piá – dirigido para crianças de dois a doze anos – tem instrutores treinados para orientar e tomar conta dos pequenos.

Com um passaporte, as crianças têm acesso ilimitado a tobogãs, piscinas de bolinhas, casinha de bonecas, air game e cama elástica. O centro conta ainda com parede de escalada, prática de arvorismo, big jump, quadra de futebol e fliperamas. Como outubro é o mês de aniversário do centro, os proprietários prepararam pista de dança com luz e som para envolver a garotada.

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