Ladeira abaixo!

Com a crise, montadoras têm pátios lotados e empregos em baixa

A crise econômica já fechou 20 mil postos de trabalho no polo automotivo do Paraná e empresas do setor metal mecânico. O dado é do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba e se refere ao comportamento do mercado de trabalho dos dois últimos anos das montadoras de automóveis, fornecedores de autopeças, metalúrgicas e fabricantes de máquinas.

De acordo com o sindicato, a base de trabalhadores no Estado em 2013 era de 100 mil empregados e hoje caiu para 80 mil que conseguiram se manter na ativa. “Se não for implantado um programa de renovação da frota, esse número pode se agravar”, adverte o diretor do sindicato, Jamil Dávila.
O setor automotivo tem grande impacto na economia devido ao seu efeito multiplicador. E, como a venda de veículos caiu pelo terceiro ano consecutivo (queda de 27%), o resultado é esse efeito devastador no mercado de trabalho em diversos setores que dependem dele, principalmente os fornecedores.

“Estamos sentindo os efeitos da crise. Montadoras como a Renault, Volks e Volvo suspenderam turnos e estão usando planos de demissão voluntária (PDVs). Além disso, algumas também recorreram ao lay-off para adequar a produção. O lay-off suspende o contrato de trabalho por até cinco meses e o funcionário recebe o seguro-desemprego mais a complementação do salário por parte da empresa, portanto não há prejuízo para o trabalhador. A grande preocupação é o que vamos fazer quando acabar esse período”, questiona Dávila.

Em busca de soluções

Um caso local ilustra bem a situação. A empresa curitibana WHB, que atua no mercado desde 1993, e fornece peças para indústrias em todo o país anunciou pedido de recuperação judicial. “Eles fizeram investimentos com base na previsão de crescimento da produção, mas com a crise foi difícil manter as despesas. Eles já anunciaram que não têm condições de honrar com os compromissos”, exemplificou Dávila.

Desde 2014, quando a crise começou a bater na porta das montadoras, a Volks colocou 1.400 trabalhadores em regime de lay-off. A medida também foi adotada por outras grandes fabricantes do polo paranaense, como a Volvo que, no ano passado, suspendeu o contrato de 407 funcionários por cinco meses.

Com os pátios abarrotados de carros, as empresas também estão utilizando PDVs que contemplam ampliação de benefícios para quem adere. No ano passado, a Renault dispensou 480 trabalhadores por essa sistemática. Mesmo com lay-offs, férias coletivas e outras possibilidades, as dispensas continuaram ocorrendo. Dados do Sindicato do Metalúrgicos apontam para 1.270 demissões no setor entre junho e julho do ano passado. Para frear o desemprego em massa nas montadoras e demais empresas do país que estão passando dificuldades, o governo federal lançou o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) para manter um pouco mais os postos de trabalho.

Fonte: Fenabrave

Todo mundo na berlinda

Se quem fabrica carros está em maus lençóis, quem vende também está passando apuros. De janeiro a dezembro do ano passado, 1.047 concessionárias do país se tornaram inoperantes. Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). São consideradas inoperantes desde aquelas que encerraram as atividades até as que suspenderam os trabalhos e aguardam um melhor momento para voltar à ativa. Nessa tacada, podem ter sido ceifados 32 mil empregos diretos.

O presidente da entidade, Alarico Assumpção Júnior, disse que, se a situação não se inverter, o número de concessionárias inoperantes pode chegar a 1.600 no biênio 2015/2016, o que representaria subtração de 51 m,il empregos. É um número pesado porque as concessionárias empregam três vezes mais do que a montadoras. Enquanto a indústria gera 110 mil diretos e indiretos, as concessionárias oferecem 380 mil empregos diretos. Hoje, a atividade da distribuição automotiva corresponde 5,2 do Produto Interno Bruto (PIB).

Virando o jogo

Apesar de todas as medidas que estão sendo adotadas para não agravar ainda mais esse contexto de aumento do desemprego, nada disso parece ser suficiente para romper a paralisia do setor. Para Dávila, é preciso buscar outras alternativas para evitar mais prejuízos. Ele torce para que o programa de renovação da frota para carros de passeio, ônibus e caminhões com até 15 anos de uso saia do papel. Além disso, espera que venha acompanhado de outras medidas, como a diminuição dos juros e aumento do crédito para financiamento, que seriam capazes não só de retomar o investimento das montadoras, como de toda a economia.

Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Dias, 2016 será um ano difícil, mas ressalva que a queda nas vendas será menor do que a do ano passado. “Temos alguns fatores a analisar, como o dólar mais caro e o aumento no preço das peças importadas. Mas, em contrapartida, isso pressiona para que as peças comecem a ser produzidas por indústrias brasileiras. Além disso, o dólar caro também faz com que os carros nacionais tenham um custo/benefício maior”, explica.

O economista também sinaliza para uma leve melhoria no cenário econômico. “A expectativa é de queda na inflação e redução nos juros, fatores que favorecem a renda dos trabalhadores”, aposta. Para o segmento de automóveis e comerciais leves, a expectativa é de uma redução nas vendas de 5,9%. “Mas é claro que tudo vai variar de acordo com o direcionamento da política e da economia brasileira ao longo do ano”, afirma.

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