Ceia farta e saborosa, mas para poucos

Já foi o tempo em que para ter uma ceia farta na noite de Natal era preciso revirar toda a cozinha e passar horas em frente ao fogão. Cada vez mais as pessoas estão optando por encomendar pratos prontos, sem falar nos que preferem passar a noite em restaurantes. Mas a comodidade não é para qualquer bolso. Alguns pratos custam cerca de R$ 80 e ceias completas chegam a R$ 1,5 mil.

Leda Lira Sixel prepara as ceias há 10 anos. Começou atendendo pedidos de três clientes de seu buffet e aos poucos o interesse dos outros foi aumentando. Hoje prepara 15 ceias. ?Existem mais pedidos, mas é o número que conseguimos atender?, comenta. Quem não fez reserva até o dia 10 de dezembro ficou de fora.

Para dar conta do trabalho, Leda conta com quatro funcionários e os preparos começaram ontem. Hoje os pratos vão para o forno e até às 18h serão entregues na casa dos clientes. Mas toda essa facilidade tem um preço. Os pratos custam em média R$ 80 e algumas ceias chegam a R$ 800. No entanto, se o cliente pedir pratos com camarão, os preços sobem para até R$ 1,5 mil.

O Armazém Italiano também recebe pedidos. Este ano foram 50 ceias. ?Mas se a gente aceitasse todos, chegaria até a uns 150. Até hoje (ontem) tinha gente ligando?, comenta o chefe de cozinha Pedro Calazans. Desde quarta-feira uma equipe de 12 pessoas está trabalhando para dar conta dos pedidos. A noite de ontem, ele passou acordado assando as carnes. A partir das 10h de hoje, começam as entregas.

Na casa, a ceia mais barata custa R$ 80 para até seis pessoas e conta com um chester, um quilo de arroz à grega, um quilo de farofa, além de frutas e castanhas. A mais cara custa R$ 300 e é composta por uma variedade de carnes além de champagne e vinho. Serve 22 pessoas. No entanto, Pedro afirma que a atividade não é muito lucrativa. Este ano não iriam fazer as ceias, mas voltaram atrás para agradar os clientes.

O Ristorante Bologna também serve pratos prontos. A tradição é tão antiga quanto o próprio estabelecimento, que abriu as portas em 1971. Mas lá o ponto forte são as massas. Nesta época, os gastos com o trigo aumentam cerca de 30%. A chefe de cozinha e proprietária, Ermínia Caliceti, diz que procura sempre oferecer novidades aos clientes. Uma delas é o ravioli de pato ao molho de laranja, além dos caracóis recheados de queijo cremoso, a base de molho de limão siciliano. Em média, o quilo das massas custa R$ 26.

Este ano o restaurante recebeu cem pedidos, mas Ermínia diz que houve épocas em que chegaram a 150. Ela acha que o alto custo de vida e o fato de muita gente viajar contribuíram para que os pedidos diminuíssem. ?É uma pena, mas parece que o Natal está perdendo um pouco do sentido. As famílias viajam, se dispersando?, fala.

Ceia no restaurante

Quem não encomendou a ceia e também não teve tempo de preparar nada em casa, pode optar por um restaurante para a troca dos presentes. Há 30 anos o Ristorante Siciliano abre as portas na noite de Natal. Segundo a gerente da casa, Josieli Gasparim, a metade dos clientes são turistas e a outra metade são famílias curitibanas. A refeição para quatro pessoas custa R$ 260, incluindo frutas naturais, secas e sobremesa. Hoje ainda é possível fazer as reservas.

Bom senso deve estar à mesa durante as festas

As festas de fim de ano já chegaram e o que não pode faltar na mesa de ninguém é o bom senso. A recomendação é da especialista em nutrição clínica pela Universidade Federal do Paraná, Flávia Ferreira Sguário, e vale tanto para as pessoas que têm problemas com a balança quanto para aquelas que costumam ter uma alimentação balanceada, mas acham que no fim do ano liberou geral. Ela lembra que uma alimentação saudável e equilibrada previne o aparecimento de doenças como colesterol alto, diabetes e hipertensão.

Segundo Flávia, no fim do ano muita gente põe a perder todo o regime que fez durante o ano. Os quilinhos a mais, perdidos com tanto sacrifício, de uma hora para outra voltam a aparecer na balança. Mas não é só as pessoas que têm problemas com o peso que precisam ficar atentas: as que costumam ter uma alimentação equilibrada, não devem se descuidar.

A nutricionista lembra que em dezembro, além do Natal e do Ano Novo, também há almoços e jantares de confraternização. Se o hábito de não se cuidar em determinadas ocasiões virar moda, as pessoas correm o risco de enfrentar um problemão pela frente, já que ao longo do ano também há uma série de eventos, como Carnaval, festas juninas, dia das mães, aniversários, casamentos, entre outros.

Um dos problemas das festas de final de ano é a grande ingestão de calorias. Em média, o ideal é que um homem termine o dia com duas mil calorias e uma mulher com até 1,6 mil. No entanto, em uma ceia é possível ingerir até 3 mil calorias de uma só vez, presentes nos alimentos, nas bebidas, nas sobremesas e nos petiscos.

Para evitar o exagero, Flávia recomenda cautela à mesa e dá algumas dicas. Em vez de se servir com arroz, massa, batata e farofa, escolher apenas um carboidrato. Depois, optar por um alimento protéico, que pode ser um pedaço de frango, pernil, chester ou peru e, para completar, uma salada. Segundo ela, as saladas verdes não devem ser desprezadas. Para deixar o prato mais atraente e nutritivo, pode-se usar frutas da estação como manga e damasco, além de salpicar com nozes. Uma dica importante é usar óleo de linhaça, de macadâmia ou azeite de oliva. ?É bom até misturar os três. São ricos em gorduras boas, como o ômega três, ômega seis e ômega nove?, explica. Para sobremesa, um musse de iogurte com gelatina, salpicado com frutas cristalizadas.

Flávia dá ainda outras dicas para deixar as refeições mais leves. Na rabanada, usar pão integral, adoçante de culinária, azeite de oliva e salpicar com adoçante em pó e canela. O molho das carnes pode ser feito à base de geléia de damasco, em vez dos adocicados. O arroz pode ser misturado ao brócolis, linhaça, nozes e castanha. Os três últimos ingredientes, na quantidade certa, são nutritivos e possuem propriedades terapêuticas, prevenindo doenças.

Coração

A alimentação saudável não evita apenas problemas com a balança, mas também protege o coração. A obesidade, diabetes, colesterol e pressão alta – relacionados a ingestão de calorias, gorduras e açúcares – são fatores de risco para o aparecimento de doenças cardíacas. O colesterol alto, por exemplo, presente no leite, carne e ovos, desestabiliza a pressão arterial e pode provocar o depósito de gordura nas paredes das artérias. A patologia dificulta o fluxo sangüíneo e prejudica a irrigação do coração e demais órgãos. A evolução desse quadro pode ser um enfarto. ?O cuidado na hora da ceia vale para todas as pessoas. Ainda mais que no fim do ano são inúmeras as festas e o cardápio é sempre exagerado?, fala o cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini, Everton Dombeck.

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