Catadores de papel reclamam de concorrência

Catadores de papel de Curitiba, Região Metropolitana e litoral se reuniram ontem à tarde na Praça Tiradentes para comemorar o Dia Nacional de Mobilização dos Catadores. A festa tomou ares de protesto, já que a maioria garante que não há muito o que comemorar. A intenção dos líderes da classe é organizar os catadores para que a luta por seus direitos seja mais eficiente.

A principal reivindicação dos catadores, que têm o apoio da Delegacia Regional do Trabalho, é pôr fim ao trabalho de coleta de lixo dos caminhões da Prefeitura, o chamado "lixo que não é lixo". "Eles são a nossa maior concorrência. O mínimo que a Prefeitura poderia fazer era repassar o material para os depósitos das associações. Entretanto, eles vendem diretamente aos depósitos interessados", diz Marilza Aparecida de Lima, presidente do Instituto Lixo e Cidadania, que reúne 42 grupos e associações de catadores.

Segundo Marilza, um catador que trabalhe bem, todos os dias da semana, ganha no máximo um salário mínimo ao mês, muito em parte pelo baixo valor pago ao material coletado. "Com a concorrência, fica ainda mais complicado. Ser catador é uma forma de sobrevivência ao desemprego. Não é necessariamente uma opção de vida, mas uma solução".

Preconceito

Apesar de ser uma profissão reconhecida pelo cadastro brasileiro de ocupações – estima-se que só em Curitiba e Região Metropolitana sejam 15 mil -, os catadores sentem-se alvo de muito preconceito por parte da sociedade. "Muitos de nós são vistos como bandidos, marginais. Só que colaboramos com o meio ambiente de todos, realizando a coleta seletiva", diz Marilza. Durante o protesto, acompanhado por cerca de trezentos catadores, eles aproveitaram o interesse dos transeuntes para alertar sobre a necessidade da separação do lixo para a reciclagem. "Somos agentes ecológicos e temos essa obrigação de conscientização junto à sociedade".

Além de derrubar o estigma da marginalidade, os catadores pedem que o poder público amplie à classe o direito à educação e creches. "Muitos de nós têm que levar os filhos juntos ao trabalho, já que não tem com quem deixar".

Na atual gestão da Prefeitura, Marilza conta que está havendo uma abertura de diálogo, que pode representar novas conquistas no futuro. "Por isso, precisamos de organização da classe para lutarmos por nossos direitos".

Para tanto, o Instituto Lixo e Cidadania convoca os catadores de toda a cidade para as reuniões ao Centro de Formação do Catador, que acontecem todos os meses – a próxima é no dia 6 de julho. Lá, as lideranças conseguem conserto gratuito dos carrinhos e muitas vezes presta auxílio para aquisição deles. O endereço do Centro de Formação do Catador é rua Doutor Salvador de Maio, 25, no Jardim Botânico.

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