Carga pesada favorece problemas lombares

Estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará revela que 70% dos trabalhadores brasileiros que manuseiam cargas pesadas apresentam problemas lombares. Os que mais sofrem são os estivadores, que também são grandes vítimas de doenças de pele, musculares, osteoarticulares, lesões por esforços repetitivos e distúrbios metabólicos, como diabetes e hipertensão.

Uma das causas dos males seria a ausência de uma norma mundial que regulamente o transporte e o manuseio das cargas. "Existem convênios que fixam o peso limite e recomendações da Organização Internacional do Trabalho, mas como as legislações variam de país para país, os funcionários que trabalham com o manuseio de cargas ficam muito vulneráveis à ocorrência de acidentes e ao aparecimento de injúrias", diz o estudo.

No Paraná, só nas cidades litorâneas de Paranaguá e Pontal do Paraná, existem cerca de 1,5 mil estivadores. Entre 30% e 40% deles já enfrentam problemas sérios de saúde e passam grande parte do tempo fora de atividade em função de tratamentos médicos e se recuperando de cirurgias. A informação é do secretário-geral do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá e Pontal do Paraná, Nesias Paulino de França. "Trabalhamos em ambientes bastantes insalubres, em contato com substância químicas e utilizando equipamentos de segurança que não são os ideais", comenta.

De acordo com Nesias, os estivadores chegam a carregar sacos de 50 quilos e muitas vezes emendam dois ou três períodos de trabalho sem descanso. Nos próximos meses, deve começar a vigorar uma lei federal estabelecendo jornadas de trabalho de seis horas, seguidas de onze horas de descanso. Porém, a lei não é vista de forma totalmente positiva pela categoria. "Os trabalhadores ganham por produção, tendo renda média mensal bruta de R$ 1,5 mil. O vigor da lei não vai servir para melhorar as condições de saúde dos trabalhadores da estiva. O que vai acontecer é que eles vão ter seus ganhos diminuídos", afirma.

No que diz respeito à legislação trabalhista, Nesias lamenta principalmente a perda da aposentadoria especial de 25 anos, que era concedida à categoria até cerca de seis anos atrás. "Após 25 anos de trabalho contínuo, os estivadores estão quebrados. Tendo que atuar mais uns dez anos, eles vão sair da atividade quase mortos, sem condições de aproveitar o descanso".

Para o presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho (Apamt), Leslie Marc Dhaese, o principal problema dos estivadores é que eles são vítimas de sobrecarga biomecânica, que gera danos principalmente à coluna. O médico explica que estudos feitos por entidades internacionais voltadas à saúde ocupacional indicam que o ser humano de forma geral, embora tenha força muscular para mais, deva carregar peso máximo de 22,5 quilos. "Isso muitas vezes não é respeitado entre os estivadores. A solução do problema seria melhorar a cultura dos trabalhadores, criar planos de prevenção de acidentes, fazer análises mais profundas dos métodos de transportes e desenvolver ações voltadas à ergonomia. Estas devem envolver tanto os empregadores quanto os próprios estivadores".

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