Campo Largo entra no circuito de turismo rural

Construções antigas se mesclam à verde paisagem dos campos, muito dos quais servindo de abrigo a exemplares de araucárias, árvore símbolo do Paraná. A influência italiana está por toda a parte: na faixada das casas, na fabricação de vinhos e na simpatia dos moradores.

Essa beleza bucólica está a poucos quilômetros de Curitiba, no município de Campo Largo. Hoje o Paraná-Online publica a segunda reportagem sobre o circuito de turismo rural da Região Metropolitana.

Batizado de Estrada de Mato Grosso, o roteiro tem cerca de 10 quilômetros e começa na nascente do Rio Passaúna, limite entre a capital e Campo Largo. O acesso é pelo prolongamento da Avenida Batel, seguindo pela Rua Eduardo Sprada, logo após a ponte sobre a represa do Passaúna. O circuito recebeu esse nome porque em 1867, durante a Guerra do Paraguai, a estrada era o único acesso de ligação entre as cidades do Paraná à província de Mato Grosso.

Para quem está acostumado com a agitação das grandes cidades, a tranqüilidade do local já pode ser percebida logo no início da estrada. Um dos primeiros pontos a ser visitado é a Igreja Bom Jesus, também conhecida como Igreja da Ferraria, cujo local serviu como ponto de encontro para os tropeiros que percorriam o caminho e ali paravam para tratar os animais. E para quem aprecia um bom vinho, do outro lado da rua, a parada obrigatória é na casa da dona Etelvina Cruzeta, que há mais de 40 anos se dedica à produção da bebida, de forma artesanal.

Ela conta que tudo começou com o marido, Ernesto Pedro Cruzeta, que depois da sua morte delegou ao filho, Arnaldo, a missão de continuar a fabricar a bebida. O processo de produção pode ser acompanhado pelos visitantes. A uva empregada na fabricação do vinho – parte produzida pela própria família – é trabalhada em um moedor e o suco fica armazenado em pipas de madeira por cerca de seis dias. Na seqüência, o líquido é engarrafado em vasilhames de 25 litros onde permanecem em maturação por mais de um mês antes do consumo. O garrafão de cinco litros custa R$ 13,00 e dona Etelvina revela que o vinho tinto doce é o preferido dos visitantes.

Ouro

Seguindo pela estrada outros pontos de contemplação são as igrejas de Alto Medianeira e Timbotuva, ambas com mais de 100 anos de construção. Os dois templos são marcos das duas comunidades formados por famílias descen-dentes de imigrantes italianos. Logo mais adiante está uma velha construção que ficou marcada por servir de abrigo para D. Pedro II, em maio de 1880. E para quem gosta de uma pescaria as opções são os pesque-pague Recanto da Mordomia, Caratuva e Bom Pescador.

Para saber mais sobre a história das colônias de Campo Largo é necessário reservar um tempo para o seu Antônio João Dallagrana. Com 73 anos, o descendente de imigrantes italianos ajuda o filho, Altivo, na adega Vinhos Monjolo instalada nos fundos na casa. Dallagrana gosta de contar o que presenciou – quando ainda era jovem – e que foi responsável pelo desenvolvimento da região. Um desses locais era o antigo armazém Sprea, que pertenceu à família de Francisco Sprea. “Primeiro, o local foi casa de colono e depois virou comércio cerealista, muito comum na época”, lembra Dallagrana.

Desviando da Estrada de Mato Grosso – no fim do asfalto, vira-se à esquerda, seguindo pela estrada Rio Verde – é possível visitar, dentro da Fazenda Timbotuva, as ruínas onde funcionou uma mina de ouro, entre 1936 a 1946 e empregava 400 pessoas. Antônio Dallagrana lembra que na época todos os equipamentos vieram da Alemanha e se conseguia extrair 60 quilos do metal por mês. Hoje ainda existem as antigas galerias e parte das construções.

Cavalgadas

Na região também estão instaladas diversas fazendas que promovem o turismo eqüestre. Um dos destaques é o Rancho Montana, que foi sede de uma antiga fazenda, e hoje abriga um haras e restaurante com comida típica, que inclui no cardápio, arroz carreteiro, feijão tropeiro, galinhada caipira e polenta. No local também são realizados treinamentos eqüestres na modalidade western e provas anuais de rodeio. Mas o carro-chefe do Rancho são os passeios à cavalo. O programa pode ser de um dia, com cavalgadas pelos 33 alqueires da fazenda, que incluem almoço e café colonial. O custo é de R$ 60,00 por pessoa. Mas quem quer apenas alugar um animal para passear paga R$ 15,00 a hora e R$ 8,00 pelo almoço. As reservas podem ser feitas pelos telefones (41) 393-5692 365-1884.

Tem mais três roteiros

Além do circuito contemplativo da Estrada de Mato Grosso, Campo Largo possui outros três roteiros que podem ser visitados. O circuito Campo Largo, mais voltado para compras, engloba a parte história e industrial da cidade, com lojas de artesanato e as fábricas de louças. Um outro roteiro é da Estrada da Faxina, também contemplativo, passando por propriedades rurais na Serra de São Luís do Purunã; o da Estrada do Cerne, que é indicado para quem gosta de esportes de aventura, e segue a estrada que liga a Estância Hidromineral Ouro Fino.

Todos os projetos têm o apoio da Secretaria Municipal de Turismo de Campo Largo, e da Associação de Turismo de Campo Largo (Ecoar). Essa entidade foi fundada há mais de um ano e visa fomentar o setor. O diretor da Ecoar, Jaimir Gonçalves conta que a comunidade está despertando para a importância do turismo para região, como gerador de emprego e renda. Muitos dos locais que constam nos roteiros ainda precisam de investimento, como as casas da Família Colatusso e a que abrigou dom Pedro II, que devem ser transformadas em pontos de venda de produtos típicos.

Outro local que deve ser recuperado são as ruínas da Sociedade Timbotuva, construída em 1934 e destruída por um incêndio. Gonçalves afirma que a Ecoar vai promover um mutirão para a recuperação do local, que também servirá de ponto de exposição de produtos regionais.

Apesar do visitante não contar, hoje, com todos os pontos turísticos estruturados para a visitação, tudo indica que em pouco tempo esse cenário vai mudar. Duas pousadas estão sendo construídas na região e estarão funcionando até o início do próximo ano. (RO)

Colônia Rebouças é destaque

A colônia Rebouças ganha destaque no roteiro da Estrada de Mato Grosso por ser a mais antiga comunidade italiana do município de Campo Largo. Os colonizadores vieram de Gênova no fim de 1877, e se instalaram em Morretes, no litoral do Paraná, e alguns meses depois partiram para Curitiba, onde fundaram a Colônia Antônio Rebouças. Ela ganhou esse nome em homenagem ao engenheiro Antônio Pereira Rebouças Filho, que com o irmão André, participou da construção da estrada de ferro que liga Paranaguá a Curitiba. Em 1878 o local foi dividido em 34 lotes, que hoje são habitados por 151 colonos italianos.

Entre os pontos que merecem ser visitados estão a Igreja de Rebouças que completou 124 anos, e serviu de cenário para o filme Oriundi, em 1997/98, protagonizado pelos atores Anthony Quinn, Letícia Sbatella e Paulo Bety. A colônia também abriga a casa da família Colatusso, que tem mais de 120 anos, e a casa onde morou o arcebispo de Curitiba, dom Pedro Fedalto. (RO)

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