Brasileiro escapa do terror no Timor Leste

Quando se escuta falar em tiroteios no Brasil, a associação à guerra entre traficantes e policiais é inevitável. Para o professor de química Vinícius Guilher Celant, no entanto, a dimensão da palavra tiroteio ganhou ares sociopolíticos. Residente até sábado passado no Timor Leste, país insular da Oceania, ele sentiu na pele a angústia daqueles que se vêem em um meio de um tiroteio. Durante três horas, ele ficou preso na casa de um amigo, vendo tiros passarem pela vidraça, a poucos centímetros de onde ele estava. ?Havia orientação para deixarmos as malas arrumadas para deixar o país a qualquer momento. Mas naquela hora, nem o passaporte estava comigo. Foi inesperado?, diz Celant.

Participante de um intercâmbio promovido pela Capes, que o levou à condição de docente da Universidade do Timor, ele acabou tornando-se testemunha ocular do recomeço dos conflitos na região. Segundo ele, os movimentos rebeldes começaram quando cerca de 600 militares da região oeste foram afastados, sem uma justificativa coerente. Eles receberam o apoio de uma grande massa descontente com o comando do primeiro-ministro Mari Alkatiri e de outros rebeldes, que não se conformam com a situação de extrema pobreza de grande parte da população. ?A expulsão dos militares não só reacendeu o conflito político entre o oeste e o leste do país, como também abriu uma brecha para a população descontente abrir fogo contra o governo?, acredita o CelANT.

A efervescência terminou por interromper o trabalho do professor no Timor. ?Estava lá desde janeiro de 2005 e o projeto ia até novembro desse ano. Porém o clima esquentou e o programa foi interrompido?, explica. Ontem, inclusive, ele tomou conhecimento através de um amigo que o ano letivo naquele país foi dado como encerrado, devido ao clima de instabilidade. ?Depois de abril, quando os conflitos recomeçaram, eram poucos os alunos que se arriscavam a ir até a universidade. Isso porque, além dos tiroteios, o grupo rebelde estava promovendo uma série de saques e incêndios em toda região. A casa de dois colegas, civis, acabou virando alvo?, explica.

Enquanto o filho se esforçava para manter o projeto, apostando no ideal de levar educação aos timorenses, a mãe dele, Andrina Imbelloni, se mobilizava para conseguir autorização da Capes para que o filho retornasse ao Brasil antes do tempo previsto. ?A situação começou a ficar complicada. Quando falávamos ao telefone, as ligações caíam. A internet já não funcionava e, quando conseguíamos comunicação, dava para ouvir os tiroteios e as sirenes?, diz Andrina.

Com a iminente interrupção das aulas e o clima de total insegurança, o professor acabou conseguindo rapidamente autorização para interromper o programa e voltar ao Brasil. Apesar da sensação de segurança por estar em casa, ficou a frustração e o sentimento de impotência diante da precária situação em que o longínquo país se encontra. ?A gente sente nos alunos uma vontade de crescer, de estudar, de adquirir conhecimento para garantir um futuro melhor. De repente, isso tudo é interrompido por um conflito com raízes milenares, mas refletido especialmente em função da pobreza local. É muito triste?, conclui.

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