Aumenta a quantidade de sem terra na área de Neves

Já passa de 500 o número de pessoas acampadas no sítio do tenente-coronel Valdir Copetti Neves, em Ponta Grossa. A área foi ocupada na madrugada do último sábado por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Está prevista para hoje a chegada de pelo menos outras 300 famílias, que vêm de todo o Paraná e devem também levantar acampamento no sítio.

O advogado de Neves, Carlos Eduardo Martins Biazetto, entrou com um pedido de liminar, solicitando a reintegração de posse da área. O processo já está na mão de um juiz em Ponta Grossa, que deve emitir seu parecer na tarde de hoje. Segundo Biazetto, o caseiro do sítio, José Marcos Ferreira, foi surpreendido na madrugada de sábado por invasores encapuzados e armados. Ferreira foi registrar o fato na delegacia de Ponta Grossa e contou que ficou preso no banheiro da casa com a mulher e o filho pequeno até o amanhecer.

Ainda no sábado, a polícia foi até a fazenda São Francisco, mas foi impedida de entrar. Ontem, não havia policiais na área e o clima era tranqüilo. Os sem terra colocaram todos os pertences do caseiro para o lado de fora, mas segundo Biazetto, impediram a entrada dele para pegar os bens.

De acordo com o sem terra Francisco dos Santos, que está acampado no local, a ocupação foi pacífica. ?Entendemos que essa área é pública e que, além de tudo, era ocupada por um bandido. Por isso resolvemos ocupar?, afirmou.

Essa é a segunda ocupação que a Fazenda São Francisco sofre. Em julho do ano passado, outros sem terra já ocuparam parte da fazenda de Neves, alegando que a área é grilada e na realidade pertence à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Agora, uma nova ocupação tomou a sede da fazenda do militar. Biazetto nega o fato de Neves ter grilado a terra e afirma que o policial tem o usucapião do terreno.

De acordo com Antônio Nilson Rocha, chefe da assessoria jurídica da Embrapa, a empresa é dona de uma área de 2.762 hectares em Ponta Grossa. Como as terras não estavam sendo utilizadas, a Embrapa cedeu, ainda na década de 70, metade delas, em regime de comodato, para o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) que realizaria pesquisas na região. Não houve fiscalização e boa parte dessas terras cedidas ao instituto foram ocupada irregularmente, entre elas a área de 115,48 hectares ocupadas por Neves. ?Em 1999, o senhor Neves entrou com uma ação de usucapião da terra contra a Embrapa e nós estamos contestando isso, pedindo a reintegração da área. O processo está em fase de tramitação. Enquanto não há decisão do juiz, a terra é da Embrapa?, explica o assessor jurídico.

Embrapa pode vender as terras para o Incra

De acordo com Antônio Nilson Rocha, chefe da assessoria jurídica da Embrapa, existem diversas ocupações irregulares na região do Botuquara, onde está localizada a fazenda do tenente-coronel Valdir Copetti Neves. Por isso, a diretoria executiva da Embrapa já aprovou e agora submeteu ao conselho administrativo da empresa uma proposta recebida do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que propõe comprar 600 hectares de terras da Embrapa na região para realização de reforma agrária. O processo já está em fase adiantada, já existe valor estimado e em cerca de um mês deve estar liberada a venda.

Enquanto isso, os sem terra continuam no sítio. Eles batizaram o acampamento de Teixeirinha, apelido do líder sem terra Diniz Bento da Silva, morto numa troca de tiros com a PM em 1993, na região de Cascavel. A ação era chefiada por Neves, que então era major e comandava o Grupo Águia.

O sítio de Neves foi adquirido em 1998. O tenente-coronel é acusado de chefiar milícias armadas para combater a ação de sem terra na região de Ponta Grossa. Por conta deste envolvimento desvendado pela operação Março Branco, da Polícia Federal, Neves ficou 79 dias detido. Agora ele responde ao processo em liberdade e informou, por meio de seu advogado, que está acompanhando de longe o problema da ocupação em suas terras. (SR)

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