Na bronca

Aplicativo Uber nem chegou em Curitiba, mas já querem proibir

Mesmo sem nem estar em funcionamento em Curitiba, o aplicativo Uber, que tem o objetivo de conectar passageiros a motoristas particulares, já se tornou polêmica na capital paranaense. Taxistas se posicionaram contrários ao sistema, enquanto na Câmara Municipal foi apresentado um projeto que pretende proibir a operação na cidade.

Em âmbito nacional, o assunto foi parar na Procuradoria Geral da República e os vereadores de São Paulo votaram pela proibição do aplicativo. Além disso, o Uber também é alvo de polêmica em países da Europa, como França, Alemanha, Holanda e Espanha.

A questão da segurança aos passageiros e a concorrência desleal com os taxistas, já que os motoristas não passam pelo processo de regulamentação, são os principais argumentos daqueles que não aprovam o aplicativo.

“São piratas perante a constituição, sem qualificação nenhuma”, critica o presidente do Sindicato dos Taxistas (Sinditaxi), Abimael Mardegan. “O único que pode fazer o transporte individual regido por lei é o taxista, que tem número na porta, tem um cadastro. Se o passageiro não quer segurança, chama o Uber”, continua. Ele cita ainda casos de abuso sexual e sequestros que ocorreram em outros países e que envolveram motoristas cadastrados no aplicativo.

Órgãos não comentam

Há 11 anos no ramo, o taxista Sandro Gonçalvez (foto), 40 anos, acredita que a possível atuação dos motoristas em Curitiba vai prejudicar ainda mais o mercado. “O serviço já está fraco por conta da economia, da crise”, diz. “É uma concorrência desleal, eles não vão precisar pagar nada. De novo o prejuízo vem pra gente”, critica.

Silêncio

A Urbs informou que não se manifesta sobre o Uber, por ser responsável apenas pelo serviço regulamentado, no caso, os taxistas. Os serviços não regulamentados cabem à Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), que faz a fiscalização e age pra coibir a atividade irregular, com a colaboração de taxistas.

Em nota, a Setran afirmou que “poderá ter uma posição apenas se o serviço entrar em operação na cidade”.

Com vagas, sem previsão

O Uber pertence a uma empresa americana e foi lançado no mercado em 2010. Está no Brasil desde o ano passado e funciona em quatro cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Pra utilizar o serviço, o usuário precisa baixar o aplicativo em seu aparelho celular e então solicitar um carro. O pagamento é feito pelo próprio aparelho, com o cartão de crédito cadastrado no aplicativo.

No site do Uber são oferecidas três vagas de trabalho pra Curitiba: general manager, marketing manager e operarations e logistics maneger. Mas a empresa informa que não tem nenhuma previsão pra expandir as operações no Brasil.

Sobre as manifestações contrárias ao sistema, o Uber diz que “segue conversando com as autoridades pra criar uma regulação que contemple a inovação e a economia compartilhada”. “O Uber defende que os usuários têm o direito de escolher o modo que desejam se movimentar pela cidade”, afirmou a empresa, por email, citando ainda que o aplicativo foi regulamentado em mais de 51 jurisdições nos Estados Unidos, entre elas Washington e Nova York. “Os motoristas parceiros são treinados a abrir a porta pro passageiro, disponibilizar água, perguntar qual a temperatura ideal e qual rádio o cliente deseja ouvir”, informou a empresa.

Sem impostos e sem burocracia

O vereador Chico do Uberaba, autor do projeto que pretende proibir o serviço em Curitiba, aprese,nta os mesmos argumentos. “Essa empresa não é brasileira, entra na cidade, não investe em nada, não paga nenhuma taxa nem imposto? É difícil”, comenta ele, que se diz “a favor dos benefícios pra comunidade, desde que sejam legalizados”. A proposta será debatida pelos vereadores após o recesso na Casa.
Antes de solicitar o credenciamento junto à Urbs, o taxista precisa apresentar uma certidão com antecedentes criminais que mostre que ele está em dia com a Justiça, participar de cursos de capacitação, fazer o registro na carteira de motorista de que está apto a exercer atividade remunerada (EAR), além de passar por avaliação psicológica. Este processo demora cerca de seis meses e custa, em média R$ 700.

Depois de habilitados, os motoristas passam ainda por vistorias a cada seis meses. “A gente tem que pagar um monte de coisa, tem que andar na linha com a Urbs, fazer um monte de curso e os caras chegam aqui, simplesmente pegam um carro executivo e levam passageiro?”, questiona um taxista, que preferiu não se identificar.

Pra enfrentar uma possível concorrência, ele aposta na fidelização de seus clientes, com atendimento diferenciado.

Preocupação com segurança

Sobre o maior questionamento a respeito do Uber, a segurança, a empresa explica que são checados antecedentes dos motoristas antes da aprovação dos parceiros. Além disso, o profissional deve apresentar carteira de motorista com licença pra exercer atividade remunerada (EAR) e seguro com cobertura pra motorista e passageiro.  “O aplicativo também conta com camadas importantes de segurança. Um exemplo é que o motorista não tem acesso ao telefone do cliente e vice-versa”. Ao fim da viagem, o usuário deve dar uma nota pro serviço prestado pelo motorista que, se receber uma nota baixa, recebe um feedback e, se mantiver a média baixa, é desligado da plataforma. “A média nacional é de 4.80, o que mostra que o usuário aprova o serviço. O motorista também dá uma nota pro passageiro após a viagem – caso sua nota se mantenha baixa, o próprio usuário também pode ser desligado da plataforma.”

Clique na imagem para ver em tamanho maior!

É o seguinte!

Não é questão de ser a favor desta ou daquela classe ou ser contra ao advento da tecnologia. É questão de exigir que quem quer explorar serviços pague tributos e taxas como os demais. Em São Paulo, os taxistas perderam o primeiro round. Vamos esperar.