Abandono da Ribeira está perto do fim

Paralisadas desde o ano passado, por força de uma portaria federal editada na administração anterior, as obras da Estrada da Ribeira (BR-476) estão a um passo de ser reiniciadas. Há alguns dias, o ministro Anderson Adauto garantiu ao governador Roberto Requião a liberação de recursos para a retomada das obras ainda este ano, no trecho entre Tunas do Paraná e Adrianópolis, na divisa com São Paulo.

Além disso, o secretário dos Transportes, Waldyr Pugliesi, diz estar confiante numa solução rápida porque a obra, paralisada inúmeras vezes, é uma prioridade do governo do Estado. “Além da garantia dada pelo ministro ao governador, estive no Ministério dos Transportes para reforçar a reivindicação, que não é só da região, mas de todo o Paraná”, explica. “Desta vez, é para valer.”

Intransitável

Enquanto a pavimentação é aguardada, aqueles que transitam com freqüência pela estrada não escondem a ansiedade. “Afinal, são muitos anos de espera”, diz o comerciante Eduardo Marcondes. Como toda população da região, Eduardo faz questão de contar os problemas causados pela estrada sem pavimentação. “Em dias de chuva, a estrada fica intransitável”, conta. “Em dias de sol, é só poeira e buracos.”

Ao percorrer a estrada é possível verificar que o trecho entre Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná está em boas condições, com o asfalto novo, sinalização horizontal adequada, apesar de poucas placas para sinalizar curvas e algumas barreiras caídas na via. No entanto, onde há asfalto novo, as pontes não contam com qualquer tipo de benefício e continuam em péssimo estado, assim como as cabeceiras.

“Quando acaba a parte pavimentada, aí sim, podemos sentir o que a população tanto reivindica”, relata o comerciante. “Trafegar por lá é praticamente uma aventura, um rali, algo para ser feito só com jipes e caminhonetes.” O motorista detalha que o piso está extremamente irregular, com excesso de buracos e muitas pedras soltas. “Parece um solo lunar”, descreve.

Eduardo avisa que, com carros leves, não há como fazer a travessia numa velocidade superior a 30 km/h. “Passar dessa marca seria arriscar danificar o veículo e colocar a vida em risco”, atesta. “Por isso mesmo o tráfego não é intenso na via. Limita-se a poucos carros leves, alguns caminhões pequenos e vários caminhões carregados de madeiras.”

Esperança

“Quando a rodovia for asfaltada, a vida de todo mundo vai melhor muito aqui”, afirma a comerciante Juraci Zonatto, dona de um mercadinho que mantém há 17 anos no povoado de Bela Vista, no município de Adrianópolis. “Viver hoje na região é muito difícil por causa da estrada, mas tenho esperança que, com o asfalto, o movimento do meu comércio vai crescer.”

As comunidades da região dividem angústias há décadas pela falta de conclusão de pouco mais de 50 km da rodovia que, no passado, foi muito usada no trajeto entre Curitiba e São Paulo. “Já tive muito mais movimento aqui. mas, com a estrada ruim, a freguesia caiu. A maioria prefere os mercados que entregam em casa”, constata Juraci. Em torno de seu comércio, moram cerca de 50 pessoas.

Para Eliseu Antônio Naconaski, que usa um caminhão leve para transportar alimentos para os mercadinhos de Bocaiúva do Sul, Tunas do Paraná e Adrianópolis, a estrada está nas piores condições. “Olha que eu faço o trajeto desde 1988”, conta. Na opinião de Eliseu, o problema tem um motivo: “O governo anterior inventou de fazer terraplenagem no trecho inteiro, o que só piorou o que já era ruim.”

Antes ? lembra o caminhoneiro ? era piso com pedrinhas, semelhante a paralelepípedo. “O caminhão tremia bastante, mas a viagem era segura. Depois da obra, quando chove, a estrada vira um grande atoleiro”, reclama. Eliseu vai mais longe. “É um absurdo começar a obra, fazer um serviço tão grande e depois abandonar”, queixa-se.

A crítica se refere aos serviços de drenagem e terraplenagem feitos no trecho da estrada. Técnicos rodoviários acreditam que, em razão da paralisação da obra, parte do serviço se perdeu e que possivelmente terá que ser refeito, tão logo os recursos sejam liberados. “Não vejo a hora que terminem essa obra. Não tem mecânica que resista a essa estrada”, diz.

José Reinaldo Alcides, de 49 anos, natural de Tunas do Paraná, onde mantém um restaurante, diz que ouve há muito tempo a promessa de pavimentação da estrada. “Apesar de escutar essa história de asfalto desde moleque, acredito que basta um pouco de vontade dos governantes para que a obra seja concluída de verdade, porque vai ajudar muita gente que mora nessa região”, afirma.

Estrada foi aberta nos anos 20

A construção da Estrada da Ribeira (BR-476), uma das mais antigas do Paraná, data do século XX, mais precisamente da década de 20. Nessa época, o governo paranaense tinha necessidade de construir estradas para integrar o mercado agrícola em franca expansão. Para isso, a então Secretaria de Obras Públicas e Colonização iniciou as autorizações para a abertura de novos caminhos de integração, no ano de 1920.

Porém o processo de construção de estradas era precário, feito manualmente, com pá, picareta, broca e marrão. Até comerciantes e fazendeiros tomavam a iniciativa de construir por duas razões: uma, para garantir a quitação de dívidas com o Estado; outra, para melhorar a expansão de seus negócios.

Entre os anos de 1923 e 1924, o Exército brasileiro inicia a construção da Estrada de São Pedro, na barranca do Rio Ribeira, ligando Paraná a São Paulo, com a finalidade de favorecer a integração comercial entre os dois estados. Com o passar dos anos, a Estrada de São Pedro passou a ser chamada de Estrada da Ribeira.

Alguns anos depois, políticas governamentais priorizaram a construção de rodovias que assumiam papel de vias direcionais e não mais complementares. Isso porque previa-se o aumento na frota de veículos em circulação. Para se ter uma idéia, em 1930, a frota de veículos era de 164 mil e, dez anos depois, em 1940, esse número cresceu para mais de 200 mil. Por essa razão, em dez anos, o governo também duplicou o total de rodovias. No Paraná, as estradas eram construídas para automóveis e caminhões, sendo que a primeira nesse estilo foi a estrada entre Bocaiúva do Sul e a cidade de Ribeira, em São Paulo. Para a construção dessa primeira via de ligação com o estado paulista, foram utilizadas técnicas especiais para preparação do solo com maior capacidade de fluxo de veículos, além de medidas adequadas para a passagem de carros e caminhões. E, em janeiro de 1940, a construção da Estrada da Ribeira passou para a responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR).

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