Paraná está entre os Estados que mais realizam transplantes no Brasil

Contrário a doação de órgãos, o servidor militar Benedito Picoti, 44 anos, teve sua perspectiva de vida e sua opinião sobre o assunto completamente alterados, em janeiro de 2005, quando sofreu um acidente de carro. Os ossos da perna direita de Picoti foram esmagados. O diagnóstico era de que ele ficaria numa cadeira de rodas e dependente de outras pessoas.

Mas em outubro do mesmo ano essa realidade foi alterada com a realização de transplantes e enxertos de ossos e tendões. Depois de seis meses de espera, ele recebeu de um doador os tecidos que lhe permitiram voltar a andar. ?Não conhecia a importância de um transplante nem o seu funcionamento. Ele é fundamental para a sobrevivência de uma outra pessoa. A expectativa da espera é terrível, mas quando recebi o órgão e vi que está funcionando perfeitamente ganhei uma nova vida?.

Dentro desta perspectiva, o Paraná investe para ampliar cada vez mais o número de transplantes de órgãos e tecidos e já é o Estado com maior número de transplantes e enxertos ósseos. Em 2005, foram realizados 664 procedimentos. Como comparação, Rio de Janeiro e São Paulo realizaram 43 transplantes, no mesmo período. Esses Estados empataram no segundo lugar nesse tipo de transplante. A diferença do Paraná é superior em 600 casos, o que significa dizer que o Estado fez 15 vezes mais transplantes e enxertos ósseos que os estados que ocuparam o segundo lugar.

?O Paraná está trabalhando intensamente para aumentar o número de notificações de mortes encefálicas e a captação de órgãos e tecidos?, afirma o secretário da Saúde, Cláudio Xavier. Para que o Paraná seja referência em tecidos ósseos, existe desde 1998 um Banco de Ossos no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Pioneiro no Brasil, ele tem como objetivos fornecer ossos, cartilagens, ligamentos, tendões e fáscias para cirurgias em diversas especialidades.

O banco tem o mérito de ter proporcionado técnicas cirúrgicas que não eram possíveis anteriormente e que vieram para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, possibilitando cirurgias de enxertos de tecidos nas áreas de ortopedia, de cirurgia buco-maxilo facial, odontologia e cirurgia plástica. ?Estes avanços tecnológicos foram de suma importância para a medicina curativa de nosso país?, afirma o diretor-édico da Secretaria da Saúde, Manoel Guimarães.

Além disso, o banco é uma fonte de consulta para todos os similares do Brasil e para o Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde. Também é o maior captador de tecidos (38 doadores em 2005, em comparação com três do Rio de Janeiro) e o maior distribuidor com fornecimento de tecidos para 954 receptores, o que o coloca em primeiro lugar na avaliação da Revista Brasileira de Transplantes da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, no ano passado. ?Além do contínuo trabalho junto aos profissionais da área participamos e colaboramos com todas as iniciativas institucionais do Ministério da Saúde e da Central de Transplantes do Estado do Paraná com finalidade de divulgar e aumentar a doação de órgãos e de tecidos em nossa cidade, estado e país?, disse o diretor do Banco de Ossos, erson de Sá Tavares.

No país existem mais seis bancos de ossos, sendo um no Rio de Janeiro, quatro em São Paulo e um em Santa Catarina. As inúmeras ações desenvolvidas pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde, colocam o Paraná entre os estados com maior número de transplantes realizados, segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT).

No primeiro trimestre deste ano foram 418 transplantes, um aumento de 20%, ante os 349 registrado no mesmo período de 2005. Ao todo foram 819 transplantes feitos pela Central Estadual de Transplantes (CET), no ano passado.

No caso de valvas cardíacas o Estado também é o que mais realiza implantes no País, com 143 procedimentos. Dezenove vezes mais do que Pernambuco, o segundo lugar, com sete transplantes. ?Claro que temos muito ainda a melhorar. Apesar de estarmos acima da média nacional de transplantes, ainda temos muito trabalho a fazer e precisamos do apoio da população para que outras pessoas também possam ser beneficiadas?, enfatiza Guimarães.

Medula Óssea

Paraná é o Estado que realizou mais transplantes de medula óssea com doadores alogênico (quando é retirado a medula do próprio paciente), em comparação com o restante do Brasil. Foram 78 transplantes e o banco criado pelo Governo do Estado é referência para os demais estados brasileiros.

Coração

Ainda de acordo com a RBT, o Paraná fica na segunda colocação na realização de transplantes de coração com 29 transplantados.

Desde 1989, o aposentado João Tosso, 64 anos, tem problemas de coração. Devido à gravidade de seu problema, Tosso entrou como prioridade na fila de transplantes. Aguardou 47 dias para ganhar um novo coração. Recentemente, o aposentado fez uma cirurgia de intestino. ?Meu coração chegou a 159 batimentos por minuto e agüentou muito bem. Tanto quem doa como quem recebe a doação de um órgão passam a valorizar mais a vida?, comemora.

O Estado também registra bons indicadores nos casos de transplantes: de rim, quarta colocação; fígado (quinto lugar); córnea (sexta colocação) e medula (quarto lugar).

O enfoque do trabalho que o Paraná vem desenvolvendo é para que haja um aumento na captação de órgãos de doadores cadáveres.

Desde criança, Rafael Cavalcante Oliveira, 23 anos, sofre de uma doença chamada colangite, quando o próprio organismo rejeita o fígado. Aos 17 anos os problemas se agravaram e surgiu a oportunidade de um transplante, mas Oliveira achou que poderia viver sem o transplante. Em 2004, uma nova bateria de exames confirmou a doença. Preocupado com os resultados dos exames, ele passou a procurar familiares compatíveis para a doação.

No final do mesmo ano um doador cadáver surgiu e hoje Oliveira leva uma vida normal trabalhando como agente de empresa aérea. ?É preciso desmistificar a visão que as pessoas tem da doação. A medicina está avançada, o processo é seguro e pode salvar centenas de vidas. Quanto mais doadores menores serão as filas de espera e maior a chance de sobrevivência dos que aguardam?.

Para incentivar a doação de órgãos e tecidos na população é necessário conscientizar as famílias da importância da doação para salvar a vida de outra pessoa. ?Estamos trabalhando para que haja um aumento significativo nas doações de órgãos de pessoas que já faleceram. Apesar desse ser um dado que temos que mudar, estamos na mesma média nacional que é a de mais transplantes de doador vivo?, avalia Guimarães.

O Paraná também está trabalhando um projeto inédito no sul do Brasil para desenvolver um Banco de Pele. Ele será voltado para receber pele de doadores com o objetivo de fazer transplantes e enxertos.

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