Para sindicato, acordo entre governo e usineiros elevará preço do álcool

Ao invés de reduzir o preço do álcool combustível, o acordo firmado ontem (11) entre governo e usineiros para fixar um teto de R$ 1,05 o litro nas usinas deverá elevar em R$ 0,05 o preço para o distribuidor a partir de amanhã (13), avalia o Sindicato dos Postos do Estado de São Paulo, Sincopetro.

De acordo com o sindicato, números coletados pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), indicam que o preço do álcool hidratado, acrescido de impostos, será vendido pelas usinas a R$ 1,29, em média, a partir de amanhã, ante R$ 1,24 antes do acordo. "Eu também acreditei que o preço iria cair, mas ao analisar o acordo vi que fomos enganados", afirma o presidente do Sincopetro, José Alberto de Paiva Gouveia.

O acordo celebrado em Brasília estabeleceu o teto de R$ 1,05 (preço livre de impostos) para o chamado álcool carburante. Isso engloba os tipos anidro (adicionado à gasolina) e hidratado (usado diretamente como combustível). No entanto, enquanto no início da semana o anidro era vendido acima do teto (entre R$ 1 08 e R$ 1,09), o hidratado custava R$ 1,03.

"Os usineiros fizeram um grande negócio. Reduziram o preço do anidro e aumentaram o hidratado", diz Gouveia. Pelos cálculos do Sincopetro, um aumento de R$ 0,02, quando somados os impostos, resulta em R$ 0,05 a mais no preço final para o distribuidor. No caso da gasolina, se os usineiros reduzirem o preço do anidro em R$ 0,04, o impacto para o distribuidor (antes de impostos) deve se limitar a R$ 0,01.

Os usineiros se defendem das críticas alegando que ainda é cedo para saber qual será o comportamento do mercado. "É preciso esperar o mercado se acomodar. O mercado não é feito apenas de quem vende, mas também de quem compra", afirmou a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), por meio de sua assessoria de comunicação. Na avaliação da Unica, não era intenção do acordo congelar os preços, mas apenas estabelecer um teto.

Prejudicial

O estabelecimento de um teto para a venda do álcool foi considerado por especialistas como ineficaz e até mesmo prejudicial. Eles avaliam que a intervenção de preço cria uma incerteza artificial e desestimula os investimentos no setor. Oscilações de preços de commodities são esperadas em qualquer setor de atividade, mas o tema acabou ganhando uma repercussão maior do que merecia, segundo os especialistas.

"Não é novidade que o preço do álcool iria subir na entressafra, já que a demanda está em alta", afirma o professor da Universidade Federal de Itajubá, Luiz Augusto Horta Nogueira. A anormalidade, segundo ele, foi criada artificialmente pelo governo ao intervir no mercado.

Na opinião de Nogueira, o próprio mercado se ajustaria, primeiro com a redução da demanda, forçada pela alta do preço, e depois pelo aumento de oferta, com a antecipação da safra para março.

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