Para oposição, PAC pode ser ‘estrada’ para terceiro mandato

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo presidente Lula anteontem, pode ter sido motivado pelo desejo do presidente Lula de ‘pavimentar a estrada’ para obter um terceiro mandato, mas acabará caindo no vazio por se tratar de uma proposta tímida, baseada no aumento de gasto público e inspirada na onda populista que toma conta da América Latina. Quem faz esse diagnóstico são deputados de oposição. Para eles, há razão para cautela, mas não para pânico, pois não é grande a chance de o PAC ter resultados positivos.

A possibilidade de o presidente tentar uma nova reeleição foi cogitada pelo cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor aposentado da USP e da Unicamp. Para ele, o presidente Lula trabalha com a estratégia de, no decorrer do governo, criar e manter condições para, ?no devido tempo?, começar a trabalhar por um terceiro mandato. ?Não é fácil acreditar que, dispondo de uma aprovação, digamos, de 60% ou 65% no seu último ano e tendo uma quantidade tão grande de subordinados na máquina petista e aliada, ele mande parar as campanhas em favor de sua permanência?, disse o cientista político ao jornal O Estado de S. Paulo.

O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) disse que, ?em se tratando de Brasil?, não duvida de que o presidente faça do PAC um carro-chefe que permita disputar um terceiro mandato. ?Não duvide de nada?, afirmou. ?Temos que estar sempre preparados para tudo, inclusive uma terceira candidatura do presidente, embora o PAC seja um programinha, uma consolidação do que já tinha.?

?O programa não tem compromisso com o corte de gastos e sim com o aumento das despesas?, afirmou o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). ?O governo vai acabar tendo que aumentar os juros para conter a farra. Por isso, o caminho do terceiro mandato não dará certo.? Ele observa, contudo, que apesar de o programa não ser relevante do ponto de vista do crescimento, é preciso estar atento à luta política dentro do PT. Na avaliação de Jungmann, nesse jogo há muito o que temer. ?Dois fatores preocupam: a falta de um candidato viável dentro do governo para suceder o presidente Lula e, em segundo lugar, o ressurgimento do lado negro do PT que está se rearticulando plenamente?, explicou. ?Some-se a isso a onda de profundo populismo em toda América Latina?, apontou o deputado.

É a falta de alguém dentro da base de governo claramente posicionado como candidato que tem levado a oposição a imaginar que o próprio Lula pode trabalhar para permanecer mais tempo no poder. Conversando com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso o deputado eleito José Aníbal (PSDB-SP) tratou da possibilidade e concluiu que ela não é puro devaneio. ?A tentação é real?, acredita. ?Eu disse ao ex-presidente que, se Lula tiver condições de fazer o sucessor, vai querer ser ele mesmo o sucessor. Fernando Henrique concordou comigo?, revelou o parlamentar.

Para a oposição, a grande vantagem é que o governo quer o terceiro mandato, mas não sabe como obtê-lo. ?Basta olhar que esse programa foi tocado a base do improviso?, observou Aníbal. Para o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (PFL-RJ), as idéias do PAC são de 20 anos atrás e não darão o resultado esperado pelo governo. ?Não consigo enxergar nesse plano algo que leve ao terceiro mandato, mas todo cuidado é pouco porque o PT já provou que não gosta da democracia representativa e prefere a democracia direta?, alertou.

Voltar ao topo