Para o FMI, resultado do PIB foi “decepcionante”

Brasília – A vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Anne Krueger, disse hoje (1) que a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre do ano foi um resultado "decepcionante". Mas ressalvou que esse resultado não pode ser considerado tão negativo ao se olhar os componentes do PIB. O que houve, afirmou foi uma redução dos estoques das empresas, o que é natural neste período do ano. "Os estoques estavam altos e precisavam cair", disse.

Em uma rápida visita ao País para se informar sobre os dados mais recentes da economia, iniciada ontem, Anne Krueger esteve hoje pela manhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, num encontro de que também participou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Em seguida, no Ministério da Fazenda, ela deu uma entrevista à imprensa em que fez fortes elogios à política econômica conduzida pelo ministro.

Segundo a dirigente do FMI, o progresso feito pela economia brasileira nos últimos anos "foi muito impressionante". Ela afirmou que a economia cresceu muito no ano passado e disse acreditar que a expansão continuará em 2006 e 2007, se a atual linha de política econômica for mantida. Ao comentar o resultado negativo do terceiro trimestre, disse que flutuações no ritmo de crescimento são normais e frisou que de forma alguma os números apontam para a deterioração da economia.

Ela destacou também que os dados preliminares de novembro já são mais favoráveis e chegou a afirmar que talvez o resultado do PIB no terceiro trimestre tenha sido reflexo da crise política. Krueger teve de usar a garagem para entrar no prédio do Ministério da Fazenda e evitar uma manifestação, na entrada principal do edifício, promovida pela União Nacional dos Estudantes (UNE) contra a política econômica, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o próprio FMI.

A dirigente do Fundo endossou a política de superávits primários nas contas públicas adotada pela área econômica do governo e criticada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Disse não ver como a manutenção desses superávits possa ter provocado impacto negativo no crescimento econômico e lembrou que alguns países industrializados que trabalharam com superávits primários elevados crescem hoje em uma velocidade mais rápida, citando como como exemplo a Austrália, o Canadá e o Reino Unido.

Para Anne Krueger, no nível que vem sendo articulado pelo governo (de 4,25% do PIB) o superávit primário é suficiente para garantir uma queda gradual da dívida do setor público. "Isso é essencial para o Brasil ir adiante com o crescimento", disse. Segundo ela, a relação entre essa dívida e o PIB no Brasil ainda é alta e precisa ser reduzida. Considerou, no entanto, que a velocidade dessa redução envolve escolhas políticas e é um tema doméstico.

Na entrevista, a vice-diretora do FMI disse também que, mesmo se Palocci deixasse o cargo, a política econômica seria mantida. Ela ressaltou que o ministro é um membro importante do governo e merece crédito pelo trabalho que vem fazendo. Na sua avaliação, além de conter a inflação, a política econômica tem sido fundamental para reduzir a pobreza no País, conforme apontou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2004, divulgada recentemente pelo IBGE.

Argentina

No encontro no Palácio do Planalto, Lula pediu a Anne Krueger que o FMI aja com compreensão e se empenhe em ajudar a Argentina. O relato foi feito pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que esteve com o presidente no início da tarde.

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