Para chamar a atenção

Preciso Chamar Sua Atenção, música escrita pela dupla Roberto e Erasmo Carlos no final dos anos 60 (que foi sucesso com o Rei em 76), contava a história de um cidadão que não sabia mais o que fazer para atrair a moça que ele amava. “Fico pensando milhões de coisas / qualquer loucura pra ter você…”, diz a letra. Em um momento de desespero, ele decide tomar uma atitude drástica: “Só me falta ficar nu / pra chamar sua atenção”.

Pode ser incrível, mas bons os tempos em que alguém ficava pelado para chamar a atenção. Dias atrás, um doido irlandês, de saia verde e uma placa na mão, invadiu a pista de Silverstone, ameaçando a própria vida e a continuidade da Fórmula 1 na Inglaterra. Não aconteceu nada de grave, mas a vontade de alertar o mundo e pedir a todos que leiam a Bíblia, em tese, nobre intenção, não paga o risco que ele correu.

Esta semana, outra atitude pra chamar a atenção mostra a que ponto chegamos na violência nossa de cada dia. Sílvia, 25 anos, irmã da dupla sertaneja-brega Gian e Giovani, simulou o próprio seqüestro, em Franca, interior de São Paulo. Ela alegou à polícia que queria apenas ?chamar a atenção? da família. “Os médicos avaliaram que ela está bastante desequilibrada”, disse Giovani.

Essa é a história: na segunda, Sílvia ligou desesperada de um telefone público dizendo que fora seqüestrada. Minutos depois, ela fez outro contato com a família, com a voz disfarçada, dizia que era um seqüestrador. Depois, passou a terça em um apartamento vazio. Quarta, no início da noite, ela foi ?encontrada?. “Ela disse que os seqüestradores a deixaram numa rua de pouco movimento, ajoelhada e encapuzada, com a recomendação de não gritar”, contou o delegado Daniel Radaelli.

No depoimento, Sílvia caiu em contradição, e acabou confessando que armou tudo. Garantiu que não queria dinheiro, e por isso não será indiciada por extorsão. Ela deverá responder apenas por falsa comunicação de crime, cuja pena varia de seis meses a um ano de detenção, e pode ser revertida em multa. Tudo para chamar a atenção.

E faz sentido, porque o crime que mais apavora as elites (financeira e artística) é o seqüestro. Nas grandes cidades, aumenta sensivelmente o número de carros blindados, e muitos já estão usando o serviço de seguranças particulares. Um deles era Kléberson, que deixou o Atlético para jogar no Manchester United.

E, se os criminosos querem saber de dinheiro, o seqüestro assusta porque é um crime, acima de tudo, psicológico. O terror que envolve a situação transforma a vida da pessoa, vide os casos de Abílio Diniz e, principalmente, de Washington Olivetto. O publicitário tornou-se um ?neo-iluminista?, deixou de valorizar muita coisa ligada a dinheiro e teve sua personalidade bastante afetada pelo drama, que passou.

Isso fez a família de Gian e Giovani se alarmar com o pretenso seqüestro de Sílvia. Foram os artistas que buscaram o apoio da polícia, que colocou no caso cinco equipes, uma delas (especializada no assunto) de São Paulo. Mas, para alívio (?) de todos, era apenas uma invenção. Para chamar a atenção.

Cristian Toledo  (esportes1@parana-online.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.

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