Palocci acusa europeus de desviarem atenção na OMC

Moscou – O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acusa os europeus de estarem tentando desviar a atenção dos problemas centrais nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Hoje (11), Brasil, Índia e China se opuseram às idéias da União Européia (UE) de concentrar a atenção nas negociações comerciais em pontos como a melhoria da infra-estrutura para os países pobres. Palocci insistiu na organização de uma cúpula de chefes de Estado para desbloquear a negociação, mas não convenceu a todos. O debate ocorreu durante a reunião do G8, grupo das maiores economias do mundo e que convidaram os países emergentes para debater a questão comercial

Contrariamente ao que previa Palocci, o G8 sequer incluiu em seu comunicado final a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em convocar uma cúpula. "A Europa ainda não tem uma posição fechada sobre o tema", afirmou Thierry Breton, ministro das Finanças da França respondendo pergunta feita pela Agência Estado. "Temos muitas barreiras a enfrentar. Os países ricos continuam com posições muito conservadoras", afirmou Palocci.

Os governos têm até dezembro para fechar um acordo na OMC. Mas na reunião ministerial da entidade em Hong Kong, em dezembro, os países tiveram grandes dificuldades para estabelecer quais seriam os níveis de cortes de tarifas e subsídios agrícolas. Para muitos, os europeus foram os principais responsáveis pela falta de avanço. Hoje (11), o governo alemão deixou claro que somente pode existir um acordo sobre agricultura quando os países emergentes abrirem seus mercados para produtos industriais.

Bruxelas ainda insiste que os países ricos devem dar uma ajuda à infra-estrutura dos países mais pobres, o que facilitaria a capacidade exportadora dessas economias. A proposta foi apoiada pela França, país que mais se opõe a abertura de seu mercado. "Isso é insuficiente. O que dissemos é que esperamos que os países ricos não fiquem nessa pauta de apoio à infra-estrutura. É uma pauta parcial e não responde ao centro da questão, que são os subsídios e tarifas agrícolas. Para nós, interessa entrar no centro da questão, e não tocar no ponto apenas de forma tangencial", atacou Palocci.

O ministro não acredita, porém, que a rodada sofra um retrocesso. "A questão é saber se a negociação irá gerar pouco avanço ou se será ambiciosa", disse. Em Hong Kong, ficou decidido que os subsídios à exportação para produtos agrícolas devem ser encerrados em 2013. "É pouco, mas é um ganho", avaliou Palocci, que acha que agora o processo da OMC deve continuar caso contrário nem isso o Brasil irá obter.

Cúpula

Durante o encontro, a Grã-Bretanha propôs que os chefes de Estado promovam uma cúpula para tentar desbloquear o processo, idéia que teria partido do governo brasileiro, mas que não teve apoio de todos. Palocci admite que esse encontro pode ocorrer antes de abril, data que a OMC estabeleceu para fechar os entendimentos de questões que não conseguiram ser resolvidas em Hong Kong. "A questão é saber quando devemos ter essa reunião para poder de fato gerar um resultado positivo", afirmou o ministro.

Um dos obstáculos tem sido a má vontade dos franceses em lidar com o assunto da abertura comercial. Uma cúpula, portanto, poderia colocar o presidente Jacques Chirac, em uma saia justa. Palocci acha que Chirac pode até participar com algumas restrições. "Até o presidente francês pode ter interesse em colocar a questão em um outro nível", avaliou.

Mas o tema sequer fez parte do comunicado oficial do encontro, divulgado para a imprensa mundial. A declaração do G8 se limitou a reconhecer que mais trabalho será necessário para concluir a negociação e que se tenha em mente as necessidades dos países em desenvolvimento. O grupo pede que todos os países concordem em um pacote com resultados em agricultura, produtos industriais e serviços financeiros.

Durante a reunião, Gordon Brown, ministro de Finanças britânico, foi o mais crítico em relação às negociações e ainda alertou que o processo teve poucos avanços até agora. Por isso, garantiu que o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, irá se empenhar na convocação da reunião. Ele ainda relatou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, George W. Bush, Chirac e outros têm conversado ao telefone sobre o assunto nas últimas semanas.

"Achamos que se eles se encontrarem, haverá um impulso às negociações. Sem esse encontro, a rodada vai andar de forma muito lenta", concluiu Palocci. O tema ainda entrou no comunicado final da reunião do G8 como uma das poucas referências ao encontro com os países emergentes.

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