Palafita também pode ser ?chique?

No Pacaembu, na zona oeste de São Paulo, um imóvel chama a atenção de quem anda pela rua tranqüila. Projetada em 2000 pelos arquitetos André Vainer e Guilherme Paoliello, a casa de concreto, dividida em dois blocos, foi erguida num terreno de 370 metros quadrados de forte desnível, preservando três palmeiras que nele existiam. Uma delas fica na entrada e as outras duas num canteiro estreito que divide os blocos. Os volumes suspensos com vigas metálicas aparentes, característica que pauta a maioria dos projetos residenciais da dupla, sugerem a moradia no estilo ?palafita chique? – ou seria um mini-Masp?

É André, um dos colaboradores de Lina Bo Bardi nos anos 80s, quem fala sobre o projeto erguido em três pavimentos: no intermediário, ao nível da rua, localizam-se as áreas de convívio; no superior, os dormitórios e, no inferior, os serviços. Amigo pessoal do proprietário, André teve carta branca para desenvolver o trabalho, vencendo o desafio do terreno em patamares. Concreto, caixilharia metálica e elementos como madeira (nos decks dos terraços e da área da piscina) e vidro (em profusão) são destaques da obra. ?O volume da casa foi seccionado em dois blocos próximos, ligados por uma passagem no piso superior. Com isso privilegia-se a luz natural e a idéia de transparência?, diz. Graças ao uso de painéis de vidro em toda a extensão da entrada da casa e no fundo das salas, o olhar atravessa a área social e alcança o terraço com vista privilegiada do bairro arborizado. ?As áreas envidraçadas reforçam a continuidade física do interior-exterior?, reforça André.

Em tempos de construções compartimentadas, esta foge à regra. Não fossem os móveis sinalizando a função dos ambientes, as salas de estar e de jantar seriam entendidas como um só espaço – não há paredes obstruindo a circulação. A decoração composta por poucos (e bons) móveis casa-se perfeitamente com o projeto que prioriza o bem-estar. Na área social revestida de pastilhas de vidro verde-escuro destacam-se um banco – desenho de André Vainer -, feito com sobras de uma exposição de fotografias, e duas mesas; uma oval localizada na área externa da residência, e outra, quadrada, que compõe a sala de jantar com cadeiras Bertoia.

A iluminação da sala de jantar fica por conta de duas luminárias de papel de seda. As duas mesas foram feitas com sarrafos de imbuia.

Terraço-jardim

Os armários e bancadas feitos com compensado naval revestido de fórmica também foram desenhados pelo escritório de arquitetura.

Na sala de estar, outros objetos do desejo: sofá do designer milanês Vico Magistretti e cadeira de Philippe Starck (modelo Ero/S, à venda na Kartell). A cozinha, voltada para a frente da casa, é toda em inox, lembrando a ambientação de um fast-food (projeto da dupla de arquitetos e execução da Incomar).

O acesso aos quartos da família é feito por meio-lances de escada. Nas paredes, o destaque são as imagens clicadas pelo dono da casa. Uma passarela envidraçada liga os dois blocos: de um lado, fica o quarto dos filhos; e do outro, o do casal.

Mais um lance de escada e, ?voilá !?: a cobertura. ?É um terraço-jardim com vários tipos de plantas e uma pequena horta, reintegrando o verde à área construída?, comenta André. O projeto e execução teve a assinatura do agrônomo Ricardo Vianna, da Bonsai Paisagismo, que criou uma espécie de oásis de 65 metros quadrados para os moradores, com flores (miniagapantos, minirrosas e erica-gracilis, entre outras) e ervas (erva-doce, cavalinha, salsa, alecrim, tomilho e manjericão). Interessante.

O jardim, que também faz às vezes de mirante, fica na altura da copa das palmeiras – quem quiser, pode até mesmo tocar suas folhas. (AE)

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