Outra promessa

O “apagão” da logística já é uma realidade. A sentença é do presidente da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística, Geraldo Vianna, para quem não adianta o Brasil se esforçar por produzir mais soja porque “não teremos condições de escoar a produção”. Pode ser uma profecia macabra, mas encerra a verdade de quem conhece a situação rodoviária brasileira, responsável pela movimentação de 63% das mercadorias do País. Para resolver o problema, o Brasil precisaria investir imediatamente entre trinta e quarenta bilhões de reais. Mas o governo Lula – e essa é uma triste verdade – “tem tido dificuldade até para arrumar verba para cobrir buracos”.

Não é novidade o alerta feito durante a realização do Fórum de Logística e Competitividade Industrial, recentemente realizado em São Paulo. O perigo já vem sendo há muito tempo denunciado por empresários e outras entidades atentas à questão. Para desespero nacional, o governo continuou quieto, deixando ainda mais grave a situação. E quando se fala em “apagão” das estradas, os brasileiros sabem muito bem o que significa. No Paraná, onde nem sequer chegou a faltar luz, os consumidores de energia elétrica também estão pagando adicional à tarifa para cobrir problemas decorrentes da “falta de visão estratégica de sucessivos governos” no setor energético. A mesma falta de visão que sucateou nossas estradas, remetendo usuários, governos e concessionários ao enfrentamento provocado pelo valor exorbitante dos pedágios em contraposição à idéia de encampação, pelo Estado, daquilo que não poderia ter sido privatizado.

No mesmo encontro, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, garganteou sobre a já antes dita disposição do governo a que serve de atacar o problema. Segundo afirma, até abril do ano que vem, 25%, ou seja, sete mil quilômetros de rodovias federais consideradas de péssima qualidade serão recuperados pelo governo federal. O orçamento para as obras é alguma coisa ínfima perto do que seria necessário: dois bilhões de reais, tirados da Cide – a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, cujos recursos, segundo já se denunciou sem contestação, estariam sendo desviados para outros setores. Mas o plano, embora já aprovado pelo presidente, carece do principal para que nele alguém acredite: a liberação dos recursos. Há meses que o Planalto vem falando no assunto. Até agora nada foi feito, nem mesmo com relação às obras paradas devido a uma dívida de quinhentos milhões de reais às empreiteiras…

O ministro fala certo quando anuncia que no plano de recuperação das estradas o centro das atenções serão os corredores agrícolas. Nem poderia ser diferente, pois é o agronegócio que está salvando o cafezal da economia brasileira. No curto tempo em que ocupa a pasta, Nascimento também já decorou a cantilena segundo a qual o setor dos transportes exigirá investimentos de trinta e dois bilhões de reais, tudo já contado e dividido: 6,4 bilhões de reais para a recuperação de estradas, 22 bilhões de reais para a ampliação de infra-estrutura e 3,5 bilhões de reais para a melhoria de ferrovias, portos e hidrovias. Mais da metade desses investimentos programados, entretanto, dependerá da boa vontade da iniciativa privada. E é exatamente aí que está o nó górdio da questão. Com a credibilidade em baixa devido a percalços em quase todas as áreas – a social na dianteira de tudo – já escasseiam investimentos prometidos, minguam as oportunidades antes previstas. Apesar dos planos.

O presidente Lula disse que não precisamos de milagres nem de invenções, e, sim, apenas do cumprimento da palavra empenhada. Melhorar a eficiência das rodovias, ferrovias, hidrovias e dos portos brasileiros – já nem se fala da não menos necessária construção de novas obras – é um desafio que dispensaria novas promessas, como esta feita pelo ministro dos Transportes. O governo do presidente Lula precisa de uma vez por todas parar de falar e passar para a ação. É aqui pertinente a lição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “Temos que nos capacitar e não nos perder na retórica, porque ela tem um preço. O risco é o da irrelevância”.

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