Otimismo a perigo

Em meio às promessas de investimentos maciços na infra-estrutura e marcação severa sobre gastos públicos, em 2007, o governo se apresta à desagradável tarefa de encarar a pior notícia do ano. O crescimento do PIB, soma de todas as riquezas produzidas no País, dificilmente ultrapassará o percentual de 2,7%. As previsões otimistas feitas ao presidente Lula apontavam crescimento entre 3,5% e 4%, mas as pitonisas da equipe econômica erraram.

Uma das inúmeras fontes a confirmar o pífio desenvolvimento da economia no presente exercício, hoje um clichê prenunciado por muitos desde o início do segundo semestre, vem de Alfried Plöger, presidente da Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto (Abrasca), cujas análises indicam apenas 2,7% de expansão.

Segundo o experimentado agente do mercado, o otimismo do governo quanto à largada do ciclo de crescimento econômico médio de 5% ao ano a partir de 2007 tem estreita margem de manobra para se tornar realidade. Os fatores determinantes do crescimento do PIB, salienta Plöger, são os investimentos públicos e privados. E nesse particular, são nebulosas as garantias de que haverá dinheiro em volume suficiente, em oferta excessiva.

Plöger reiterou uma constatação aziaga para milhões de brasileiros da faixa etária de 18 a 24 anos, candidatos ao primeiro emprego formal, em função do baixo crescimento da economia. Em torno de 30% desses jovens à procura de emprego não foram absorvidos pelo mercado de trabalho, devendo esse quadro ser alterado apenas quando a economia começar a crescer 5% ao ano.

Enquanto isso, o crescimento médio dos países da América do Sul foi de 4,6% e, de acordo com dados liberados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial registrou este ano o índice de 4% na taxa média de aumento. Nos pampas argentinos sopra o vento benfazejo do progresso.

No terceiro trimestre a economia do referido país cresceu 8,7%, devido ao incremento de gastos dos consumidores beneficiados pelo aumento da renda pessoal e familiar, aliado à queda da taxa de desemprego. Segundo o Instituto Nacional de Estatística de Buenos Aires, o PIB argentino fechará o ano com um crescimento de 8,5%, estribado no forte consumo privado.

Depois de vários anos com a economia represada por altos índices de corrupção pública, inflação, sucateamento da indústria e desemprego – dentre as principais mazelas que atingiram a sociedade -, a Argentina reencontrou a vocação produtiva e, com as medidas enérgicas do governo chefiado por Néstor Kirchner, não apenas a capacidade criativa do povo, mas a vontade de superar obstáculos foram reanimadas.

A Argentina cresce pelo quarto ano consecutivo, à taxa média de 8%, fato que leva alguns economistas locais a apostar no decréscimo para algo em torno de 6% a partir do próximo ano, em função da provável descontinuidade do elevado nível de investimentos. Mesmo assim, o crescimento continuará forte.

Para as autoridades econômicas do governo brasileiro e, de modo especial para o presidente Lula, o êxito de Kirchner tem o amargo sabor de algo situado entre a frustração e a inveja. Sentimentos que deverão ficar circunscritos, a bem da verdade, às normas da elegante convivência diplomática entre países irmãos. Contudo, o tango voltou às paradas de sucesso…

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