Oscar para prefeitos

Em plena campanha para a renovação dos governantes municipais em todo o Brasil, o presidente Lula falou, em Porto Alegre, no final da semana que passou, na necessidade de premiar a criatividade de prefeitos. Não qualquer criatividade, entretanto. Os prêmios seriam conferidos a administradores que conseguissem cumprir metas estabelecidas pela ONU – Organização das Nações Unidas para a erradicação da pobreza absoluta e da fome até o marco de 2015. O medo de Lula é que cheguemos àquela data em situação pior que a atual.

A preocupação de Lula é procedente. Os governos – a começar pelos municipais – passam o tempo todo discutindo se têm ou não têm dinheiro para realizar o que precisa ser feito, e esquecem de utilizar “o potencial financeiro que é o coração humano”. Para resolver problemas sociais, às vezes, não precisa muito. Mas, antes de mais nada, precisa boa vontade.

À margem dessa premiação sugerida, é de se perguntar a quantas anda o principal programa social do governo Lula – o Fome Zero. Dele quase ninguém mais fala, exceto o próprio Lula, que transferiu a proposta para o cenário internacional. Se tem apoio de países vizinhos em sua proposta de criar um imposto para alimentar o fundo de combate à fome mundial, levou um sonoro não dos Estados Unidos. Ao contrário do que acontece no Brasil, Tio Sam fala em baixar impostos. O combate à fome é obrigação dos governos.

Mas voltando à premiação sugerida por Lula, é preciso imaginar que este seria de fato um bom momento para avaliar a preocupação social de cada governo municipal. Duro seria despojar tal avaliação do conteúdo – não vamos dizer ideológico – subjetivo que isso sempre encerra. Curitiba, por exemplo, foi tida e havida como modelo em tudo durante muito tempo. Confundia-se a propaganda de um governante com a difusão do nome da urbe. Hoje tem congestionamento em toda a cidade ao cair do sol de todos os dias… sem falar nos demais problemas colocados em debate outra vez na campanha em curso.

Enquanto Lula sonha com prêmios para incentivar o alcance de metas importantes no campo social que nos envergonha tanto, seus assessores designados para algumas áreas estratégicas pintam um quadro cor-de-rosa, bem diverso daquele elucubrado pelos temores presidenciais. Reportam-se, entretanto, a 2022. Naquela data entraríamos no paraíso, isto é, deixaríamos, enfim, nossa condição de subdesenvolvidos ou em desenvolvimento para alcançar o status de nação de primeiro mundo. O vaticínio é do NAE – Núcleo de Assuntos Estratégicos do governo, presidido pelo ministro de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken.

Na primeira publicação do NAE, intitulada “Projeto Brasil 3 tempos”, os estrategistas do governo Lula preconizam que, independentemente de quem estiver no comando da nação, no ano 2022 (quando serão comemorados os 2000 anos de independência do País), “a nação brasileira chegará à condição de sociedade satisfatoriamente desenvolvida, plenamente democrática, portadora de valores de cidadania, soberana na economia mundial e com participação decisiva na política internacional”. Deixaremos de ser, em outras palavras, o país do futuro, deitado eternamente em berço esplêndido. Quem viver, verá.

Há uma condicionante, entretanto, nessa profecia. E um apelo. Que os presidentes futuros mantenham a estratégia do planejamento de longo prazo. “Espera-se que o processo participativo e o pacto social pretendidos permitam que esses cenários, as trajetórias indicadas e as metas correspondentes, sejam futuramente desdobrados em planos, programas e orçamentos dos governos que se sucederão ao longo de quase duas décadas.” Como se vê, o governo da esperança imediata cravou a estaca da chegada ao paraíso um pouco mais adiante. Até lá, que venha o Oscar.

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